A polícia investiga a morte de uma jovem trans que foi encontrada morta na linha férrea em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Manu Diniz, de 24 anos, foi sepultada na quarta-feira (3) no Cemitério de Campo Grande com seu nome de batismo – uma identificação masculina, o que provocou reclamações de amigos e de ativistas da causa LGBTQIA+.
Amigos e pessoas próximas de Manu afirmam que ela já era tratada no feminino havia anos, e que tinha retificado os documentos. Mesmo assim, foi o nome da sua certidão que cravou sua lápide.
Manu sumiu na noite do dia 28 de dezembro depois de apresentar um surto psicótico, de acordo com a amiga que registrou o boletim de ocorrência.
No registro da polícia, a amiga disse que morava com Manu e que ao chegar em casa a colega apresentava um comportamento agressivo, e que tentou pegar uma faca para agredi-la.
Depois disso, a trans teria pulado do 2º andar e desaparecido. O registro foi feito no dia 30 de dezembro. Nesta data, o corpo já estava no Instituto Médico Legal de Campo Grande, desde que foi encontrado na linha férrea de Bangu no dia 29 de dezembro.
De acordo com a Polícia Militar, policiais do Grupamento Ferroviário foram acionados para uma ocorrência de encontro de cadáver. A perícia foi acionada e a ocorrência encaminhada para a 34ªDP (Bangu).
O corpo de Manu passou quatro dias sem identificação no IML, até que familiares conseguiram reconhecê-la na terça-feira (2).
A vítima tinha hematomas e arranhões na barriga, além de muitos cortes no rosto e boca. De acordo com o cunhado Jonatan Neves, que reconheceu o corpo, a causa da morte foi traumatismo craniano e Manu teve os dentes quebrados.
A primeira deputada transexual da Alerj acompanha o caso. Dani Balbi (PCdoB) afirma que busca Justiça para Manu.
“Mais uma pessoa transexual e travesti foi brutalmente assassinada. A morte da Manu, assim como tantas outras, não pode ficar impune. Ela foi morta com menos de 30 anos, tinha muita vida pela frente, teve sonhos abreviados”, explica.
“No Brasil, a expectativa de vida da população trans é de 35 anos, um absurdo. Isso precisa acabar. E, para acabar, é importante que a família da população transexual e travesti respeite sua identidade de gênero”, completa a parlamentar.
Gab Van, presidente da Liga Transmasculina, acompanhou o cortejo, com outros seis militantes dos direitos LGBTQIA+, e também cobrou Justiça.
“Quantos de nós mais vão morrer por causa da transfobia? Muitas vezes, os familiares não veem que desrespeitando nossa identidade de gênero e nosso nome, estão nos entregando para sofrer violência e sermos mortos na rua. Nos desrespeitar é também uma morte simbólica“, reforça Gab Van.
Segundo Jonatan Neves, a família não teve assistência de amigos na procura do corpo e sepultamento. Ele afirma que Manu nunca tinha solicitado que os familiares a tratassem no feminino.
“Ele nunca se pronunciou como Manu, no Natal ele estava aqui com a gente, brincou e sempre sendo tratado [pelo nome de batismo] e atendendo normalmente. Fomos saber que ele se chamava Manu por causa desses posts”, afirma o cunhado.
Ele afirma que depois do dia 25 de dezembro, eles não viram mais a vítima e só souberam do desaparecimento no dia 30.
O cunhado também nega que Manu tivesse retificado os documentos.
“Não foi um acidente, é visível que foi um homicídio. A minha pergunta é ‘quem fez isso’? Só queremos justiça”, reforça o cunhado.