Carnaval sempre foi coisa séria para John Avelino. O cabeleireiro e maquiador de 33 anos é um apaixonado pelos desfiles das escolas de samba que assistia pela TV desde garoto, em Goiânia, onde nasceu. Na adolescência, gravava tudo e revia o ano inteiro. Não deu outra. Em 2010, ele estava no Sambódromo vendo de perto seu “programa preferido”. Cinco anos depois, em mais um carnaval no Rio, alguém o viu sambando na arquibancada. “Do outro lado, uma pessoa me filmou e eu nem vi. Esse vídeo foi postado e viralizou. Foram mais de 2,5 milhões de visualizações em questão de horas”, recorda ele, que hoje faz parte dos 40 anos de história da Sapucaí. John é muso, destaque e rei de bateria em três escolas diferentes.
John será destaque de carro na Mangueira pela primeira vez este ano, muso na São Clemente, na Série Ouro, e rei de bateria na União de Jacarepaguá, na Série Prata. O moço é um desbravador. Foi o primeiro rei anônimo numa escola de samba. Antes, Zé Reinsldo e David Brazil já haviam saído à frente de baterias, mas com rainhas ao lado. John não.
“Muitas pessoas dizem que eu tenho uma assinatura no carnaval, mas essa ficha ainda não caiu pra mim. Eu sambo com a alma, é o que me dá prazer. Não sei se um dia vou entender isso como um legado, mas fico feliz de ter aberto as portas para outros homens nesses lugares”, avalia.
John conta que o preconceito contra ele existe. “Não vou mentir, recebo muitas críticas e hate na internet, principalmente. Muita gente diz que estou roubando o lugar de uma mulher. Não vejo assim. Há lugar para todos que amam o samba como eu”, justifica.
Ama tanto que prefere não fazer as contas de quanto gasta nessa brincadeira: “Prefiro nem pensar para não enlouquecer. Pelo menos eu mesmo faço minhas fantasias”, conta. Com 2 metros de altura, John passa pela Avenida com quase 3, com a adição de saltos, plumas e costeiros. Difícil não chamar atenção. “Eu sambo o tempo todo e vejo que isso faz toda a diferença ali na interação com o público. Muitas muas não sambam, só desfilam”, alfineta.
Obeso na adolescência, John, assim como muitas de suas colegas no carnaval, vive numa constante disputa com a balança. Perdeu 16 quilos de setembro pra cá e espera eliminar mais cinco até o primeiro desfile que tem pela frente, chegando aos 100kg. “Eu perco muita caloria nos ensaios e até preciso comer mais nesses dias. Deveria ter começado a preparação mais cedo, mas estou me mantendo bem regrado”, garante.
Morando no Rio há três anos, mesmo durante o carnaval, John faz seu corre maquiando outras musas durante os desfiles. A festa deu a ele oportunidades de fazer parcerias e publis. “Mas dinheiro mesmo que é bom e preciso, não. Minha mãe sempre diz que eu preciso parar porque gasto demais”, reflete.
Se depender dele isso não vai acontecer. John pretende continuar no carnaval e, quem sabe, realizar outros sonhos de infância. “Ainda falta ser o 1º rei no grupo especial”, dispara ele, que se inspira em rainhas do passado e do presente: “Luma de Oliveira é a rainha das rainhas, e admiro demais a Evelyn Bastos, da Mangueira, porque, além de linda e sambar do jeito que samba, elase posiciona sobre vários assuntos, como racismo e temas que são necessários”.