A exposição “Minha Alma é Colorida”, do artista Agélio Novaes e curadoria de Walter Karwatzki, brinca com o passado e o presente das festas carnavalescas alagoanas. Em seus quadros, o artista faz questão de referenciar o folclore alagoano e a bagagem que traz consigo por meio de sua memória e vivências dos frevos locais. Do Moleque Namorador, dos apertos dos blocos, das máscaras da La Ursa e do amor pela dança, o que não faltam nas obras são histórias. Para entender um pouco mais de suas referências, conheça um pouco de Agélio:
Agélio Novaes é alagoano de Viçosa, mas um artista do mundo. Aos 5 anos, já desenhava e sabia que seu dom era a arte e a criação. Gostava de desenhar e fazer colagem com os materiais que tinha à sua disposição, principalmente o papel. Aos 10, passou pela escola artística do renomado mestre Lourenço Peixoto, onde se aperfeiçoou como artista.
Na juventude, aos 20 anos, mudou-se para Recife, se afastou momentaneamente dos fazeres artísticos, mas sabia que eles estariam presentes na sua vida onde quer que fosse. Ainda por lá, estudou engenharia, mas não seguiu em frente na área, se formou em desenho industrial e seguiu carreira, mas nunca deixou de criar.
Passados vinte anos, em 1997, voltou a Maceió e conta que suas principais inspirações estão entres as vivências das cidades, mas que é muito regionalista quando fala de Alagoas e celebra ser natural do estado. “Eu vivi nos bairros do Jaraguá, onde aconteciam as melhores festas, e morei no centro de Recife, então vou revivendo com isso. Eu observo as pessoas e isso tudo me leva a criar”, disse.
Por muito tempo levou sua arte como hobby, devido às dificuldades que encontrou em viver dela. Agora, aposentado, Agélio tem um ateliê próprio em sua casa, na praia de Guaxuma, e um acervo de obras espalhadas pelo mundo que não consegue nem contabilizar. Para ele, mesmo com quase 50 anos de carreira, não tem sido difícil de reinventar. “Eu tenho uma cabeça criativa demais, eu faço um pensando em outros. Eu nunca paro, sou muito inquieto e estou sempre inventando. Essa é a vida do artista”, afirmou.
Toda essa autenticidade de Agélio resultou na exposição “Minha Alma é Colorida” – a oitava individual e a primeira grande mostra de quadros totalmente pintada à tinta acrílica. Nas obras, se destaca a capacidade de Agélio de brincar com as cores e o imaginário popular, fazendo uma passagem entre o passado e o contemporâneo.
O artista diz que o carnaval sempre esteve presente na sua vida, e sempre foi uma paixão familiar, tanto que ele fez parte da primeira geração do tradicional bloco “Filhinhos da Mamãe”, em 1983. Foi com a chegada da boneca que representa a mamãe no Museu Da Imagem e Do Som (MISA) que separou os quadros para a exposição.
O quadro que deu início ao esboço do que se transformaria na exposição foi o “Ruge-Ruge”, que, de acordo com Agélio, retrata a essência e a celebração do carnaval em sua forma mais evidente. “O Ruge-Ruge foi um movimento de carnaval que envolvia todo mundo, com esse aperto de carnaval mesmo. A presença de diversos personagens dos blocos foi que deu início a tudo”, disse.
Ele comentou ainda que gosta igualmente de todas as obras, mas destaca o carinho especial por duas. A primeira é a “Miss Paripueira”, uma figura presente na sua vida durante anos. “Eu sempre tive vontade de fazer essa figura icônica. Eu tenho um carinho muito grande por ela, consegui passar uma mistura meio sereia e meio diva. Além de retratar Paripueira bem no início”, exclamou orgulhoso.
A segunda é a “Alma Colorida”, carro chefe da exposição. “Em vez das tradicionais almas brancas, eu a fiz colorida. Eu acho que tem tudo a ver com o carnaval. O pessoal pensa que a alma colorida que estou falando é a minha, mas não, é a alma do carnaval, que é colorida” explicou.
O curador da mostra, Walter Karwatzki, revela que as obras surgiram a partir de uma outra ideia de Agélio, e com a chegada do carnaval e a oportunidade de expor nas ruas do Jaraguá, selecionaram os quadros. Ao todo, foram quatro meses de trabalho ininterruptos para chegar neste resultado. “Recebi o esboço do que seria o Ruge-Ruge em novembro de 2023. Desde então ele produzia, mandava para mim e eu já mandava o texto da curadoria. A produção dele é muito fluida, foram madrugadas de muito trabalho e parceria”, ressaltou o curador.
Nas telas, são visíveis o cuidado e a experiência de Agélio em transmitir em cada traço os detalhes que fazem a diferença no momento da apresentação de uma obra. Para além da beleza que enche os olhos, preenche o coração de cada visitante de maneiras distintas.
Para quem tiver interesse em conhecer e prestigiar as obras inéditas de Agélio, a exposição “Minha Alma é Colorida” está aberta para visitação no Misa, equipamento cultural da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), localizado no bairro histórico do Jaraguá, em Maceió, de segunda a sexta, das 8h às 16h, até o dia 2 de março.