O que enxerga um olhar artístico? Vê beleza nas coisas simples da vida? Enxerga além do cotidiano? Para a artista Edy Zerbeto, olhar para uma pessoa é enxergar um quadro, e foi a partir dessa percepção da humanidade que ela decidiu dedicar a vida às artes visuais.
Ainda na infância, antes mesmo de entender o conceito de arte, Edy, que hoje tem 68 anos, começou a fazer os primeiros rabiscos em papéis.
“Ganhava dinheiro fazendo desenhos em festas infantis, com dez, 11 anos de idade. Tenho desenhos que fiz aos 12 anos, que guardei porque fazem parte desse começo como artista, antes de qualquer identificação como tal”, relembra.
Autodidata, ela conta que ao longo da vida artística se “aventurou” em diversos tipos de artes visuais, passando pela história em quadrinhos, design gráfico, esculturas, pintura em telas, paredes.
“Não me considero uma artista, sou uma estudiosa de artes. Gosto da pintura, de todos os materiais, técnicas. Minha vida é um eterno estudo sobre as artes. E o grafite surgiu como mais uma oportunidade de trabalhar o meu desenho em outra superfície”, conta.
Edy mora em Mongaguá (SP), no litoral de São Paulo, mas esteve em Sorocaba (SP) em janeiro deste ano, participando de um projeto artístico que convidou mulheres para grafitar mini casas, em uma pousada da cidade.
“Há muito tempo eu faço trabalhos de pinturas em paredes internas, em casas, quartos infantis. Mas nunca tinha feito um grafite grande. Tive que aprender a técnica de ampliar um desenho, usar spray, fazer sombras. Quis tentar e aprendi muita coisa nova“, afirma.
Estilo artístico
Nos projetos feitos pela Edy, dois pontos costumam estar sempre presentes nos desenhos.
“Sempre tive a figura humana como ponto principal dos meus desenhos. E elementos de fantasia e magia passaram a fazer parte dos meus trabalhos. Faço uma mistura da figura humana, com aspectos da natureza, dos animais, do surrealismo”, diz.
Luta contra o etarismo
Aposentada e perto de completar 69 anos, Edy ressalta que ainda se sente uma “novata” no quesito aprendizagem. Para ela, há ainda muitas áreas inexploradas que ela pretende ingressar.
“Nunca parar de aprender, não deixar de se desafiar, são formas de combater o preconceito contra pessoas idosas. Vivi situações assim, de preconceito pela minha idade. Mas não podemos desanimar, temos que lutar contra isso e mostrar nossa capacidade”,
E se depender da garra da artista, enquanto houver fôlego, ela segue pintando.
“Enquanto eu conseguir subir num andaime, usando equipamento de proteção, é claro, eu vou subir. ‘Quer pular de paraquedas? Vamos’. Só paro quando meu corpo me parar”, afirma.
Muitos outros integrantes da família de Edy são do universo artístico. A filha da artista, Rubi Zerbeto, levou a mãe para conhecer outros países, como França e Itália, conhecidos pelos museus que abrigam milhares de obras de artes.
“Todos somos ligados com a arte. Falamos a mesma língua. Nos apoiamos e sempre fui encorajada por eles. Nas viagens, conheci lugares que sempre sonhei.”
Projeto Minicasas
O convite para participar do projeto de grafite em Sorocaba surgiu quando Edy conheceu a artista americana Jennifer Erny, durante um projeto cultural para grafitar muros em Mongaguá. Na ocasião, ela apresentou seus trabalhos para a artista americana, que gostou e chamou Edy para o projeto em Sorocaba, que contou com a participação de quatro mulheres grafiteiras do litoral de São Paulo.
Foram quatro dias grafitando casas de nove a doze metros quadrados, que ficam em uma pousada conhecida como “Bosque Encantado”, do empreendedor Cesar de Souza Barroso. A proposta era de transformar o espaço em uma galeria de arte, tendo as paredes das pequenas casas como cenário.
As paredes da casinha amarela, que fica na pousada, ganharam diversas cores com os grafites da Edy, que, mais uma vez, estampou seu estilo no trabalho feito.
“Vi ali as casinhas como o pequeno mundo de cada um, uma fantasia de criança, de casa da árvore, de casinha de boneca. Fiz as bolhas que representam um portal para mundos mágicos. Desenhei figuras femininas, flores folhas, natureza. Foi muito divertido participar. Trabalhar com arte faz isso, permite que a gente faça o que gosta enquanto conquista nosso ganha-pão”, explica.