Motociclista viu amigo morrer e diz que major da PM percebeu erro após disparo: ‘Perdi um irmão’

Na segunda foto, João Paulo (policial civil), Paulo Cezar e Luan, da esquerda para a direita — Foto: Arquivo pessoal

O piloto da moto em que estava Luan dos Santos, de 32 anos, que foi morto por um major da PM Rodoviária, no km 61 Via Anchieta, disse ter “perdido um irmão”. Ao g1, nesta segunda-feira (19), o mecânico Paulo Cezar dos Santos Araújo contou que o policial percebeu o erro após ter atirado. Ao contrário do que disse o PM, ele garantiu que os veículos estavam parados e não houve resistência.

Paulo e Luan estavam em uma motocicleta, descendo de São Paulo para a Baixada Santista, na última sexta-feira (16). João Paulo, policial civil e amigo da dupla, seguia viagem em outra motocicleta, uma BMW. O plano deles era passear e comer camarão em Santos, no litoral paulista.

Os PMs Rodoviários envolvidos na ação, conforme boletim de ocorrência, informaram ter observado como suspeita a atitude da dupla, como se quisesse assaltar o condutor da BMW. Os agentes teriam dado ordem de parada, que teria sido desacatada. O tiro ocorreu após Luan ter, supostamente, levado a mão ao bolso do moletom.

“O Luan desceu com a mão esquerda no meu ombro e a direita levantada com o telefone na mão. Quando ele desceu, aconteceu o disparo que ele recebeu nas costas […]. Não teve nada de mão no bolso, não teve nada que jogou não sei o quê no rio. Não teve nada disso. É tudo mentira”, disse Paulo.

‘Desespero total’
Ao contrário do que indica o boletim de ocorrência, o amigo de Luan contou que as motos não faziam zigue-zague e andavam a cerca de 80 km/h. “O polícia lá embaixo [à frente deles] parou do lado, mandou encostar. Eu encostei. Aí ele falou: Anda mais pra frente”, recordou.

Quando a moto já estava parada, e eles se preparavam para descer, Paulo escutou o tiro. Desesperado, e temendo ser baleado também, começou a gritar pelo amigo policial que estava mais à frente.

“Eu comecei a gritar ‘é polícia, polícia, polícia’. Aí ele [amigo policial] começou a subir correndo [voltou com a moto pois estava à frente]. É um desespero total. Ainda mais você ver um amigo seu morrer ali e não poder fazer nada. É triste”, disse.
Ainda segundo o amigo de Luan, o major da PM “ficou branco” e pediu calma, dizendo que chamaria o resgate. Para Paulo, ele e os demais policiais que acompanharam a ocorrência notaram o erro logo de cara. “Eu olhei para trás, o carro dele estava de lado, com a porta aberta, e ele estava com a mão em cima da porta com a arma na mão”, continuou.

Amizade de infância

Paulo e Luan eram amigos de infância. Os dois e João Paulo eram inseparáveis: viajavam, costumavam ir à praia e até a rodízios de comida juntos.

Na sexta-feira, ele passou o dia inteiro com Luan, que estava de folga. A dupla tomava um açaí quando o amigo policial, João Paulo, os chamou para ir de moto até o litoral para comer camarão.

Paulo recordou os momentos com o amigo, que considerava um irmão. “Era um colado no outro. Nós andávamos assim. Você tem uma amiga que você fala assim: É minha amiga de coração? Então, era ele. Perdemos um cara aqui que era da base nossa. Amigo pra tudo. Para levar no médico, levar um remédio na sua casa”, lamentou.

Relembre o caso
De acordo com o boletim de ocorrência, uma equipe fazia patrulhamento de trânsito preventivo na Interligação Baixada. A PM Rodoviária informou que os policiais atuavam na Operação Verão, mas a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), em nota ao g1, negou a que a equipe fazia parte da ação.

Por volta de 17h40, os agentes visualizaram duas motocicletas trafegando. Uma era ocupada por dois eventuais suspeitos, enquanto a outra, uma BMW sem placa de identificação, era conduzida por um homem – que mais tarde se apresentou como investigador da Polícia Civil e amigo da vítima.

Segundo a PM Rodoviária, os policiais suspeitaram que a dupla tentava roubar a BMW, que estava aproximadamente 60 metros à frente da outra moto, pois os veículos estavam em alta velocidade fazendo manobras de zigue-zague na pista.

A equipe emitiu sinais luminosos e sonoros que teriam sido ignorados. Após a moto ter acelerado, o motorista da viatura policial também acelerou e se aproximou novamente do veículo. O passageiro informou que viu Luan colocar a mão direita no bolso direito do moletom, como se fosse sacar uma arma. Com a suposta frenagem da moto e da viatura, o major teria feito um disparo acidental que pegou no tórax da vítima.

O piloto da moto, amigo que estava com Luan, negou a versão apresentada pelos militares. Ele disse que não houve resistência à ordem de parada e que o policial disparou com a viatura e moto parados, não em movimento. Luan estaria desembarcando “tranquilamente” quando foi atingido.

Fonte: g1

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