O advogado-geral da União, Jorge Messias, determinou, neste sábado (24), à Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD), que atue na identificação de redes de desinformação sobre a Ilha de Marajó, no Pará.
Em resposta a Messias, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, que fez a solicitação de apuração à AGU, disse que não permitirá a “difamação de uma região por oportunistas que se valem de um grave problema nacional como o da proteção de crianças e adolescentes para alavancar interesses políticos ou financeiros”.
A ilha ganhou repercussão e chamou a atenção de influenciadores após a cantora Aymeê fazer fortes relatos sobre o tema em um programa de competição musical, na última sexta-feira (16).
Após cantar a artista declarou: “Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra. E lá tem muito tráfico de órgãos. Lá é normal isso. Tem pedofilia em nível hard”. “Marajó é muito turístico, e as famílias lá são muito carentes. As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5”, completou a artista.
Tema de CPI
O tema, por sua vez, já foi discutido em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no Senado, em 2010.
Durante a CPI, os parlamentares também mencionaram o caso do ex-deputado Luiz Afonso Sefer, condenado, anos mais tarde, a 20 anos de prisão pelo crime de estupro de vulnerável. Ele foi acusado de adotar uma criança aos 9 anos, prometendo trabalho, mas iniciou os abusos dias após a chegada da menina.
A comissão também destacou a exploração sexual nas embarcações, principalmente nas balsas e navios de transporte de cargas para a cidade Manaus, identificada como “rota da exploração sexual”, abrangendo, principalmente, os municípios de Portel, Muaná, Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Gurupá.
O bispo Dom José Luis Azcona, que há décadas luta contra a exploração de menores na ilha, teve participação importante na CPI e voltou a chamar atenção para o caso novamente em 2015, ao relatar que crianças se ofereceram aos ocupantes de balsas com consentimento familiar.
Em 2023, após receber um pedido para deixar a região da representação diplomática do Vaticano, houve protestos locais e a liderança religiosa se manteve na região.
Relatos falsos sobre a ilha
Em 2020, a então ministra Damares Alves mencionou em um culto em Goiânia que buscava soluções para denúncias de mutilação e tráfico de crianças para exploração sexual na Ilha de Marajó, afirmando possuir evidências.
Após pedido do MPF por informações, ela declarou que as denúncias se baseavam em relatos, não em provas. O MPF alegou propagação de fake news, exigindo retratação pública e uma indenização de R$ 5 milhões por danos sociais e morais à população do arquipélago.