Davi levava flores para a escola, cozinhou para coronéis e demorou a namorar: o brother antes do ‘BBB 24’

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Cansado de ver seu povo sendo massacrado pelo gigante Golias, Davi, um franzino pastor de ovelhas, decidiu aceitar o desafio de lutar contra ele. Era tudo ou nada. Com astúcia, muita fé e cinco moedas, ele conseguiu derrotá-lo. O resto é história. Guardadas as devidas proporções e interpretações, a de Davi Brito não é muito diferente. O participante do “BBB 24” viveu na pele as intempéries inerentes a alguém que nasceu nordestino, preto e favelado. Numa realidade em que não lhe era permitido sonhar.

Cresceu vendo a mãe trabalhar incansavelmente para dar sustento à casa, mesmo quando estava casada com o pastor Dermeval Brito. Era Elisângela Brito que botava comida na mesa. Sempre posta, por mais que só tivesse um ovo ou um pão sem manteiga.

“Isso aprendi com minha tia. Um ovo mexido num prato qualquer é só um ovo. Um ovo colocado num prato bonito, numa mesa arrumada, é ‘O’ ovo”, explica ela, de quem Davi herdou o gosto por uma mesa caprichada como as que faz no reality e, muitas vezes, é duramente criticado pelos companheiros de confinamento: “Esse jeito dele vem de casa, reunir todo mundo para comer. A gente sempre tentou fazer isso. Era a hora em que eu e o pai dele conversávamos com nossos filhos”, justifica a mãe.

Criado no Conjunto Fazenda Grande 4, comunidade da periferia de Cajazeiras, em Salvador (BA), desde muito pequeno Davi seguia os passos de Elisângela, que sempre trabalhou no comércio. “Na primeira parte da infância deles (os três filhos), a gente tinha uma vida melhor. Davi estudava numa escola particular do bairro, levava a merenda dele. Depois é que as coisas ficaram difíceis”, recorda.

O “depois” veio quando a loja de roupas que mantinha em outro bairro foi assaltada quatro vezes. Na última, saquearam tudo e fizeram Raquel, a irmã mais velha de Davi, de refém. Elisângela jogou a toalha. Pegou o pouco que sobrou e foi vender a mercadoria na rua. Pendurou uns cabides numa grade, escreveu os preços na cartolina, e era assim que levava dinheiro para casa.

No tempo de vacas mais robustas, ela conseguia dar aos filhos uma mesada de R$ 50 para eles comprarem um lanche, irem ao parque. Davi não gastava com isso.

“Um dia, ele pegou esse dinheiro e comprou um pacote desses salgadinhos, tipo amendoim, para vender. Ele ajudava muito. Na frente de onde eu pendurei as roupas, coloquei uma barraca de fruta, para complementar a renda. Ele ficava lá vendendo”, diz.

Davi não tinha mais que 12 anos nessa época. A rotina incluía estudar de manhã e ajudar na barraca o resto do dia. Tempo para brincar era raro. O hoje motorista de aplicativo, que fatura menos de R$ 2 mil por mês, levava a sério seu ofício. Mas nem tanto os estudos.

“Não posso dizer que ele era mau aluno, mas também não era dedicado. Os cadernos chegavam em casa com dever faltando, e ele me dizia que depois dava um jeito. Meu filho sempre foi muito extrovertido, brincalhão, daquele jeito mesmo que se vê na TV”, descreve.

A professora Lilia Cruz, que deu aula para Davi na Escola Novo Caminho, se lembra de seu aluno, agora famoso. “Davi era um menino cheio de energia, tinha personalidade forte. Não aceitava as coisas sem questioná-las. Quando acabava o recreio, ele sempre queria saber o motivo. Mas era só conversar. Ele avaliava e voltava para a sala”, recorda.

Ela conta que o menino tinha muita preocupação com a irmã: “Mesmo ele sendo mais novo, existia um cuidado com ela, não tinha um dia em que não fosse atrás de Raquel para avisar que a mãe já estava lá para buscá-los”.

Assistindo ao “BBB 24”, Lilia se diz satisfeita com o adulto que Davi se tornou: “Vejo que ele não mudou a essência. Ele ouve, pondera, mas se estiver certo da opinião dele, não volta atrás, tendo a mesma característica de quando era só uma criança. Como educadora, a gente quer que nossos alunos, independentemente da profissão que vão ter, sejam boas pessoas, bons seres humanos. E ele é”.

Davi sabia cativar as professoras. Pelo caminho colhia flores, isso já na adolescência, para presenteá-las. O jeito galanteador, porém, não lhe deu muitas namoradas. “Eu vivia falando para ele sair, se divertir, arrumar uma namorada. Ele dizia que um dia teria uma, de cabelão, e que iria andar com ele empinada na moto”, revela Elisângela.

A tal moto foi comprada com o dinheiro que recebia quando serviu o Exército e tirada no nome do pai, para quem pagava as prestações religiosamente. Foi servindo que Davi aprendeu a cozinhar e chamou atenção das patentes mais altas que, inclusive, o contratavam para tomar conta do bufê de suas festas particulares, o que causou ciumeira entre os colegas.

Davi nunca foi uma unanimidade. É muito do ame ou odeie. Se estressa fácil, perde o rebolado se contrariado e isso o levou três vezes à UPA do bairro, segundo os médicos, com princípio de infarto. Aos 20 anos. “Da última vez, o exame foi inconclusivo e pediram outros mais completos. Só que a gente não tinha condições de pagar. Aí ele conseguiu no Exército e nada foi constatado no coração. Todas as vezes que aconteceu, ele estava muito nervoso, ansioso. O bichinho é ansioso até hoje”, relata Elisângela.

Segundo a xará dela, a líder comunitária Elizângela Santos Carlos, a vida dura que Davi teve pode ter proporcionado muitos desses episódios. Foi para ela que ele pediu que a mãe contasse que estava indo para o “BBB 24”. “Eram umas 5h quando ela me mandou um vídeo no dia, chorando e contando. Fiquei sem entender nada. Mas ele pediu para me avisar por saber que conheço muita gente e faria mutirão para ele entrar na casa. Davi nem tinha o sonho de entrar no programa, decidiu fazer a inscrição e foi selecionado”, relembra ela, que vem auxiliando a família de Davi na peleja que é estar em evidência.

“As pessoas perdem a noção e atacam a família, falam qualquer coisa. A gente aqui faz o que pode para que ele fique na casa. Eu acompanhei demais a luta deles. E ele é focado. O menino vendeu água no sinal, entregou pizza na pandemia, quentinha, fazia bico de segurança, chegava em casa 1h e estava de pé antes de o sol nascer para ir trabalhar. É batalhador e merecedor”, defende a amiga.

Foco é uma das maiores características de Davi. Se nunca sonhou grande demais porque não tinha perspectivas reais de mudar uma realidade tão dura, viu no “BBB 24” a chance de vencer a sua luta contra o Golias da fome, da miséria e da pouca oportunidade. “Ele tinha R$ 10 na carteira e estava com o celular na mão quando apareceu o anúncio para se inscrever no programa. E assim fez”, conta a mãe.

Como o Davi, com suas cinco moedas, coragem e a fé de que o amanhã pode ser melhor.

Fonte: Extra Famosos

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