Apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) viu seu capital político diminuir na eleição anterior ao crime contra a candidata do Psol.
Até mesmo dentro de seu “curral eleitoral”, na Zona Oeste do Rio, território de grande influência da família Brazão, segundo a Polícia Federal, o político observou a queda de eleitores em todas as zonas eleitorais da região, na comparação entre os pleitos de 2012 e 2016.
Sexto vereador mais votado em 2012, com mais de 35 mil votos, Chiquinho terminou as eleições de 2016 com 23.923 votos no total. Nesse pleito, Marielle terminou como a 5ª vereadora mais votada do Rio, com 46.502 votos.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que na Zona Eleitoral 9, que pega a região das Vargens, por exemplo, Chiquinho Brazão passou de 1.796 votos, em 2012, para 977 votos na eleição seguinte.
Nas urnas que atendem os moradores da Freguesia (Zona Eleitoral 13), a queda foi de quase metade dos votos, saindo de 2.627 para 1.351 eleitores.
A maior queda no número absoluto de eleitores de Chiquinho Brazão aconteceu na Zona Eleitoral 180, que atende os moradores da Taquara e do Tanque, por exemplo. Na região, Brazão saiu de 8.188 votos para 4.696.
Nos sub-bairros Vila Valqueire e Praça Seca, onde os moradores votam na Zona Eleitoral 185, a queda também assustou o político. Chiquinho saiu de 2.168 eleitores para 863.
Vitória no “território inimigo”
Ao todo, o levantamento feito pelo g1 contabilizou os votos de Marielle e Chiquinho Brazão nas zonas eleitorais 9; 13; 119; 179; 180; 182; 185; e 210, que atendem os moradores dos bairros:
- Vargem Grande;
- Vargem Pequena;
- Barra da Tijuca;
- Recreio dos Bandeirantes;
- Itanhangá;
- Curicica;
- Freguesia;
- Anil;
- Cidade de Deus;
- Gardênia Azul;
- Pechincha;
- Rio das Pedras;
- Taquara;
- Tanque;
- Vila Valqueire;
- e Praça Seca.
Na eleição de 2016, quando os dois disputaram o cargo de vereador, Marielle venceu Chiquinho em parte de seu reduto eleitoral, quando teve maior votação nos bairros Vargem Grande, Vargem Pequena, Curicica, Freguesia e Vila Valqueire.
Na Zona Eleitoral 9, que pega a região das Vargens, por exemplo, Marielle teve 1.333 votos, contra 977 de Brazão. A vitória da candidata na Zona Eleitoral 119, que abrange os bairros Curicica e Freguesia, também chamou atenção. No local, Marielle somou 949 votos, 501 votos a mais que o adversário.
Reduto do Clã Brazão
Até 2021, grande parte dessa região analisada era dominada por grupos de milicianos e, segundo a PF, a área é reduto político da família Brazão.
“A interação da família Brazão com grupos paramilitares é intensa e se destaca na Zona Oeste do Rio de Janeiro, notadamente nos bairros de Jacarepaguá, Tanque, Gardênia Azul, Rio das Pedras, Osvaldo Cruz e arredores”, dizia um trecho do relatório final da PF sobre a morte de Marielle Franco.
“As interações da família Brazão com tais grupos ressaem na comunidade de Rio das Pedras, berço da milícia no Rio de Janeiro, e se alastram para outras localidades situadas na região de Jacarepaguá, Zona Oeste (…)”, dizia outro trecho do documento.
Ainda de acordo com o relatório, apenas os políticos autorizados pelos milicianos podem fazer campanha nas comunidades dominadas.
“A entrada de políticos em localidades comandadas pelos grupos paramilitares é controlada pelos seus líderes, uma vez que somente aqueles que promovem uma interação espúria com os milicianos podem auferir os louros eleitorais advindos daquele local”, avaliou a PF.
Motivação do crime
Os investigadores acreditam que a morte de Mareille seja uma resposta a sua atuação contra a grilagem de terras e a expansão imobiliária nas áreas de milícia, principalmente na Zona Oeste.
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A suspeita da PF é que Marielle tenha atrapalhado um projeto de Lei na Câmara Municipal para agilizar os loteamentos de terra em áreas de milícia, particularmente nas regiões das Vargens (Grande e Pequena) e Itanhangá.
O autor do projeto de lei foi justamente Chiquinho Brazão, então vereador em 2018, pouco antes do assassinato da vereadora.
O relatório da PF afirma que o ex-policial militar Ronnie Lessa, preso acusado de executar Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, apontou em sua delação “como motivo [do crime] o fato de a vereadora Marielle Franco estar atrapalhando os interesses dos Irmãos, em especial, sua atuação junto a comunidades em Jacarepaguá, em sua maioria dominadas por milícias, onde se concentra relevante parcela da base eleitoral da família Brazão”.
Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão foram presos no último domingo (24) apontados como mandantes do atentado contra Marielle Franco, em março de 2018, no qual também morreu o motorista Anderson Gomes. O delegado Rivaldo Barbosa também foi preso, suspeito de ajudar a planejar crime e de atrapalhar as investigações.
A defesa de Domingos Brazão afirmou que seu cliente é inocente. O advogado de Rivaldo Barbosa, Alexandre Dumans, disse que seu cliente não obstruiu as investigações. A defesa de Chiquinho Brazão não havia se posicionado até a última atualização desta reportagem.