A Justiça marcou para 2 de agosto deste ano, a partir das 13h30, o julgamento dos sete réus acusados de participar do sequestro do ex-jogador Marcelinho Carioca e da amiga dele, Taís Alcântara de Oliveira, em 17 de dezembro de 2023 em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo.
As vítimas estavam num cativeiro na mesma cidade e foram soltas um dia depois pela Polícia Militar (PM). O julgamento será virtual, feito por videoconferência. e será presidido pelo juiz Sérgio Cedano, da 2ª Vara Criminal do Fórum de Itaquaquecetuba.
A sessão judicial prevê audiência de instrução, depoimentos das vítimas e testemunhas, interrogatório dos réus e debates entre acusação e defesa. A sentença será dada pelo magistrado, mas não precisa ser divulgada logo em seguida após o julgamento. Pode ser comunicada até mesmo dias depois da audiência.
Dos sete acusados de envolvimento no crime, quatro (dois homens e duas mulheres) foram presos em flagrante em 18 de dezembro e continuam detidos: Jones Santos Ferreira, Wadson Fernandes Santos, Eliane de Amorim e Thauannata dos Santos. Outro foi preso depois, em 2 de fevereiro de 2024: Caio Pereira da Silva.
E outros dois acusados (um homem e uma mulher) são procurados pela polícia: Matheus Eduardo Candido Costa e Camily Novais da Silva. Esses poderão ser julgados à revelia.
Todos eles tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça. Prisões preventivas são aquelas nas quais quem é acusado de um crime fica detido até o julgamento. O grupo foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por diversos crimes, como associação criminosa, receptação, roubo, extorsão mediante sequestro e lavagem de dinheiro.
O caso é investigado pela Divisão Antissequestro (DAS) da Polícia Civil. Segundo a investigação, ao menos dez pessoas participaram do sequestro de Marcelinho, um dos maiores ídolos do futebol do Corinthians, e da amiga dele. A Justiça determinou que a DAS apresente mais provas do envolvimento dessas outras três pessoas investigadas. Por este motivo, não decretou as prisões delas ainda.
Segundo a DAS, o sequestro não foi planejado e aconteceu por acaso, quando ele foi a uma comunidade em Itaquaquecetuba levar ingressos de um show para a amiga. De acordo com a investigação, o carro de luxo do ex-atleta chamou a atenção dos criminosos, que decidiram abordá-los. Dois dos bandidos estavam armados.
O automóvel foi abandonado depois pela quadrilha, que levou as vítimas para uma casa e passou a exigir dinheiro de Marcelinho, que era constantemente ameaçado de morte. Ele também foi agredido com coronhadas na cabeça. Amigos e familiares do ex-jogador foram procurados pelos criminosos e chegaram a transferir dinheiro para os sequestradores.
Com a confirmação do sequestro de Marcelinho e Taís, a divulgação do caso na imprensa, e a busca da polícia pelos reféns, a quadrilha obrigou as vítimas a gravar um vídeo falso. Nele, os reféns diziam ser amantes e contavam ter sido pegos pelo marido da mulher. Tanto o ex-jogador quanto a amiga negaram depois à polícia, e em entrevista ao g1 e ao Fantástico, ter um relacionamento.
O ex-companheiro da mulher também foi ouvido pela DAS e pelo g1 e afirmou não ter nenhum envolvimento com o caso.
O vídeo falso foi divulgado nas redes sociais pelos bandidos. Segundo a DAS, o intuito era o de atrapalhar a investigação para dificultar os trabalhos da polícia na localização de Marcelinho e Taís.
A Polícia Militar encontrou os dois após receber denúncias anônimas do local do cativeiro em Itaquaquecetuba. Um vídeo, obtido pelo g1 e pelo Fantástico, mostra o momento em que policiais militares veem Marcelinho e a amiga na residência. O ex-jogador estava com uma toalha cobrindo a cabeça, chorou quando viu os agentes e abraçou um deles.
“A todo momento, aquele apavoro. Um pegava uma arma: ‘Já viu isso aqui? Já brincou de roleta-russa?’ E girava. Colocaram a arma por baixo da toalha, aí senti aquela coisa gelada“, relembrou Marcelinho em entrevista ao Fantástico.
Taís estava deitada na cama, olhando para a parede. Ela é funcionária da Secretaria de Esportes de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, onde o ex-atleta foi secretário até janeiro deste ano.
“O tempo todo eles pediam só para passar senha de Pix, essas coisas. Eles pegaram meu celular, provavelmente devem ter olhado o banco e, vendo que não tinha saldo, estavam mais pedindo para o Marcelo”, contou Taís em entrevista por vídeo ao g1.
Quem são os cinco presos
- Jones Santos Ferreira, de 37 anos. O acusado confessou que já participou de outros casos de estelionato e que buscava contas para receber valores de golpes. Ele afirmou que foi procurado por um criminoso, e essa pessoa pediu para receber valores em sua conta bancária. Jones falou que acredita que seria para um golpe, não um sequestro, e fez contatos com Wadson e Eliane para fornecer as contas para as movimentações bancárias. Foi indiciado por associação criminosa, receptação, lavagem de dinheiro e extorsão mediante sequestro.
- Wadson Fernandes Santos, de 29 anos, disse à investigação que conhece Jones, e que ele lhe perguntou se tinha conta bancária para receber dinheiro. Wadson disse que não quis oferecer a conta. Acabou indiciado por associação criminosa, receptação e lavagem de dinheiro.
- Eliane de Amorim, de 30 anos, é acusada de emprestar sua conta bancária para Jones. Ela disse à polícia que não recebeu nenhum dinheiro por isso. Foi indiciada por associação criminosa, receptação e lavagem de dinheiro. No dia 16 de janeiro de 2024, a Justiça atendeu pedido de sua defesa e determinou que ela ficasse em prisão domiciliar. A mulher tem dois filhos menores de 12 anos e não possuía ficha criminal anterior.
- Thauannata dos Santos, de 18 anos, tomava conta das vítimas, segundo a polícia. No interrogatório, ela alegou que não tinha a intenção de participar de algo errado, mas queria estar ao lado de um dos suspeitos do caso que não foi preso: Caio. Negou que receberia dinheiro pelo sequestro. Foi indiciada por associação criminosa e extorsão mediante sequestro.
- Caio Pereira da Silva era inquilino do imóvel usado no cativeiro. De acordo com a polícia, está envolvido no sequestro.
Quem são os dois procurados
- Matheus Eduardo Candido Costa tem participação no caso, segundo a DAS. E estaria envolvido na abordagem ao ex-jogador;
- Camily Novais da Silva alegou que é inocente da acusação de ter participado do crime, segundo sua defesa informou na Justiça. Ela ainda não se entregou e é procurada.
O que dizem os acusados
Procurado pelo g1, a defesa de Jones reconheceu que ele conseguiu as contas bancárias de outras pessoas para movimentação do dinheiro no caso, mas que desconhecia que seria um sequestro.
“Ele, de fato, entende ali que havia uma origem ilícita, mas que era um estelionato”, disse o advogado Anderson Caio, que também defende Eliane.
“A Eliane ela é amiga de Jones. Ela simplesmente emprestou a conta para sacar os valores. Eles não participaram do sequestro”, afirmou.
A defesa de Thauannata, feita pelo advogado Victor Nicollas Santos Nascimento, informou que ela “é presumidamente inocente até que se prove sua culpa além de qualquer dúvida razoável”.
Victor afirmou também que “reconhece a seriedade das acusações apresentadas, especialmente considerando a natureza delicada do caso envolvendo o ex-jogador Marcelinho Carioca. No entanto, é imperativo entendermos que as alegações são apenas a perspectiva inicial apresentada pela acusação. Estamos empenhados em apresentar uma narrativa completa e justa, demonstrando todos os fatos relevantes à medida que o caso se desenrola”.
“Ao longo da investigação, surgiram diversos elementos que merecem uma análise mais aprofundada. Nossa equipe está trabalhando diligentemente para reunir evidências, entrevistar testemunhas e garantir que todos os aspectos relevantes sejam considerados de maneira equitativa”, completou.
O advogado Henrique Batista Leite, que defende Wadson, afirmou que não pode passar informações sobre a defesa.
O g1 não conseguiu localizar as defesas de Caio, Matheus e Camily para comentarem o assunto.