Dor e injustiça. Esses são os sentimentos que o estudante Everton Pereira Barbosa relatou após perder o pai, Edson Maurício Barbosa, de 52 anos, que morreu atropelado, no domingo (31), por um micro-ônibus durante uma procissão em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Ao todo, o acidente deixou cinco mortos e 29 feridos, de acordo com a prefeitura.
Em entrevista à TV Globo, Everton Barbosa chegou a ir ao local do acidente para encontrar com o pai, enquanto ele ainda estava vivo.
“Minha irmã ligou para a gente avisando que aconteceu uma coisa ruim. Quando a gente chegou lá, ele ainda estava respirando. A gente tentou, ficou falando com ele para ele ficar com a gente. Quando o resgate chegou, tentaram animar ele, colocaram oxigênio para entubar, mas não deu”, disse Everton.
Ainda de acordo com o estudante, Edson era um profissional autônomo que, mesmo em meio à rotina pesada, sempre se esforçava para conciliar os momentos de dedicação à fé com o trabalho.
“Ele era muito trabalhador, estava todo dia na rua para tirar o sustento porque ele era autônomo. […] Todo domingo ele estava lá [na igreja]. Quando tinham essas comemorações, ele se esforçava, chegava cansado, mas ele ia. Ele gostava muito de exercer a fé dele. Ele e minha irmã nunca faltavam”, contou.
Descaso com transporte complementar
O micro-ônibus que atropelou Edson faz parte do transporte complementar de Jaboatão dos Guararapes. A prefeitura concede uma espécie de autorização para que permissionários realizem o transporte de passageiros em locais que não são plenamente atendidos pelas linhas de ônibus.
Segundo Everton, os micro-ônibus e as vans que fazem o transporte complementar de passageiros em Jaboatão dos Guararapes costumam trafegar em condições inadequadas de manutenção.
“Nunca eu vi um ônibus novo, nunca na minha vida. Sempre sucateado, com portas quebradas, com freio falhando, com tudo ruim. […] A prefeitura faz que não vê nada. Eles dizem que está legalizado, fazem uma coisa que ninguém sabe como funciona, e não resolve nada. Não tem uma troca de frota, nada”, denunciou Everton Pereira.
O estudante também compartilhou que os motoristas de transportes alternativos costumam trafegar em alta velocidade e sem a devida fiscalização da prefeitura. “Eles [os motoristas] são muito imprudentes. Eles disputam corrida entre eles mesmos para ver quem pega mais passageiro. Não tem uma fiscalização”, contou.
“A gente é injustiçado todo dia, porque a gente mora em um lugar em que a gente paga imposto, a gente trabalha, a gente faz tudo direitinho… para receber isso. A gente não recebe nada das autoridades de bom aqui. A gente é um bairro esquecido, tem um transporte esquecido… [O sentimento] é só isso, impunidade e injustiça”, declarou Everton.
À TV Globo, o secretário executivo de Ordem Pública e Controle Urbano de Jaboatão dos Guararapes, Carlos Sá, declarou que o micro-ônibus envolvido no acidente tinha passado por uma manutenção e estava com a licença renovada após uma perícia junto à prefeitura, feita há cinco meses.
O motorista fugiu após o atropelamento, mas foi identificado pela prefeitura. Na manhã da segunda-feira (1º), ele prestou depoimento na Delegacia de Prazeres, localizada no mesmo município do acidente e que investiga o caso.
O acidente
- O acidente aconteceu na Avenida Barreto de Menezes, no bairro de Marcos Freire, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife;
- O atropelamento ocorreu durante a caminhada “Cristo Vive”, uma procissão realizada pela Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro;
- O micro-ônibus fazia a linha 118 – Marcos Freire/Barra de Jangada e levava passageiros no momento do acidente, mas nenhum deles se feriu;
- Segundo a prefeitura de Jaboatão, faltou freio ao veículo ao descer a “ladeira da Adelaide”, assim conhecida por ficar perto da Escola de Referência em Ensino Médio Adelaide Pessoa Câmara.