A força coletiva que o Flamengo apresenta neste início de temporada faz do técnico Tite uma das maiores estrelas desse time que, invicto em 2024, estreia na Libertadores hoje, às 19h, contra o Millonarios, em Bogotá. Aos 62 anos, pode-se dizer que o comandante rubro-negro já passou por quase todo tipo de experiência nessa que é a principal competição do calendário sul-americano, seja o céu, com o título invicto do Corinthians em 2012, ou o inferno, com a eliminação do Timão para o Tolima, em 2011, quando tinha no elenco nomes como Roberto Carlos e Ronaldo. No entanto, na edição desse ano Tite terá uma experiência inédita: a de iniciar a disputa no comando de uma equipe que é uma das grandes favoritas e que convive com a pressão pelo título.
Com o Flamengo invicto sob seu comando — são dez vitórias e dois empates em 12 partidas — e sem ter sofrido nenhum gol, Tite terá que saber enfrentar não só os rivais do rubro-negro dentro de campo e a pressão pela conquista da taça, mas também a fama de ser um treinador de sucesso em campeonatos de pontos corridos, mas que vai mal em mata-matas. O conceito tem como embasamento os insucessos do Corinthians nas Libertadores de 2011 e 2015 (eliminado nas oitavas para o Guaraní-PAR), anos em que o Timão foi campeão do Brasileirão, e da seleção brasileira nas Copas de 2018 e 2022, depois do time canarinho comandado pelo técnico sobrar nas Eliminatórias.
Por outro lado, quem já trabalhou com Tite garante que o técnico segue a mesma metodologia de trabalho ao longo de toda a temporada, independente da competição.
— A preparação é bem parecida para tudo, Libertadores, Brasileirão e amistoso. É muito forte no sentido da concentração, do foco, de valorizar todos os jogos da mesma maneira, independentemente se é clássico, mata-mata ou pontos socirridos. É uma filosofia de valorizar o próximo jogo da mesma maneira, como se fosse uma final — afirmou Fábio Santos, campeão com Tite em 2012 e atual comentarista da ESPN, que transmitirá a estreia do rubro-negro.
— Eu aprendi na vida que, sempre, o próximo passo é o mais importante — explicou Tite após a vitória contra o Nova Iguaçu.
Em meio à essas críticas, o treinador tem um retrospecto positivo na Libertadores. Ao todo, são 65 partidas como técnico na competição, com 35 vitórias, 17 empates e 13 derrotas. 62,5% de aproveitamento com um título invicto, uma eliminação nas semifinais, outra nas quartas, três nas oitavas de final e uma na pré-Libertadores. Além disso, em 2004, o gaúcho deixou o São Caetano após estrear com vitória na primeira rodada.
Foco no equilíbrio
Para ir longe na Libertadores com o Flamengo, Tite tem como foco o equilíbrio tático da equipe. A ideia do treinador, que sempre teve como característica principal a habilidade em montar equipes que não só levam poucos gols, mas sofrem pouco nas partidas, é manter o estilo ofensivo do elenco do rubro-negro junto de uma defesa bem arquitetada. Nos 12 jogos no ano, o saldo de gols é de 27 feitos, com média de 2,2 gols por partida, e nenhum sofrido.
— Uma equipe que só se defende e prima por não tomar gol vai perder. Uma equipe que desequilibradamente busca só fazer gol e abre mão de ser consistente e organizada vai perder. Vejo uma grande equipe quando ela consegue estabelecer um ponto de equilíbrio nessas duas situações — falou Tite em entrevista à Conmebol.
Dentro disso, talvez um dos estigmas que Tite terá a oportunidade de enfrentar é a de hipoteticamente ser um treinador que, no contexto de jogos mata-mata, não consegue encontrar alternativas para fazer com que seus times consigam reverter cenários adversos. Essa foi uma das grandes críticas que o técnico enfrentou após a eliminação do Brasil na Copa do Catar, em 2022. Por outro lado, o poderoso elenco do Flamengo pode ser um trunfo para superar esse desafio.
Preparo para altitude
Para enfrentar o Millonarios, o Flamengo, que deve ter David Luiz na zaga no lugar de Fabrício Bruno, por dosagem de minutos, enfrentará também altitude de 2.650m. No entanto, a comissão técnica acredita que esse não deve ser um fator preponderante.
— Se você já chega com uma mentalidade que vai ser difícil, que a dificuldade é muito mais nossa do que do adversário, isso pode trazer um sentimento de inferioridade. Tem o momento de chegar, o horário de chegar, como chegar, em termos até de refeições também, a gente tem tudo isso muito bem organizado, entendo aí que essa parte física não deve ser algo que venha nos prejudicar — explicou o auxiliar Cesar Sampaio.
— Jogamos contra o próprio Millonários, em 2013, e ganhamos. A preparação de campo em si continua a mesma. Os cuidados pela altitude ficam mais com a fisiologia, que às vezes traz alguma informação que possa ajudar, trabalha um pouco mais a bola parada, diferente do que a gente está acostumado por causa da velocidade da bola. Esses são pequenos detalhes de preparação — disse Fábio Santos.