É possível que você já tenha ouvido dizer que determinada criança come bem. Até aí tudo bem, não fosse pelo conceito de ‘comer bem’ que perdurou por muitos anos. Muitas vezes, essa afirmação fazia referência à quantidade, não à qualidade. A criança consumia bastante carboidrato, gordura e glicose, mas ganhava o elogio pelos pratões que encarava.
Desde que a obesidade infantil se tornou uma pauta em todo o mundo, e particularmente no Brasil, notou-se que é preciso colocar um asterisco no que chamamos de comer bem. Entre se saciar de comidas mais pesadas ou diversificar o prato com frutas, legumes e verduras, ainda que dê espaço para algo mais calórico, o que afinal está mais próximo do ideal?
É evidente que você sabe a resposta, como também sabem os estudos sobre o tema. O Observatório de Saúde na Infância, produzido pela Fiocruz e pela Universidade de Medicina de Petrópolis (Unifase) revela que o quadro de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade no Brasil deu um salto em 2022. Na faixa etária de até 5 anos de idade, atestou-se que uma em cada 10 crianças estão acima do peso. Já entre adolescentes, de 10 a 18 anos, a balança fica acima do ideal em uma a cada três pessoas.
O período da pandemia também não fez bem para a alimentação infanto-juvenil. Entre 2019 e 2021, o número de crianças acima do peso teve um aumento de 6,08%, ainda de acordo com o Observatório. Já entre os adolescentes, o crescimento representou um salto de 17,2%. É possível supor que esses casos tenham relação direta com o aumento da ansiedade e do próprio comportamento doméstico: mais tempo dentro de casa culminou com a necessidade de comer algo a mais para se distrair.
Na contramão de números pesados para a saúde infantil, a ciência já sabe que a alimentação saudável tem impactos importantes para o desenvolvimento físico, cognitivo e até emocional entre as crianças. Isto ajuda a explicar por que a necessidade de nutrientes é tão acelerada nos primeiros anos de vida, demandando o consumo apropriado de vitaminas, minerais, proteínas e gorduras saudáveis.
O comer bem, de que tratamos anteriormente, consiste portanto em suprimir essas carências. Há alimentos específicos para cada item do desenvolvimento infantil. Desde a formação dos circuitos neurais que darão suporte ao desenvolvimento cognitivo e emocional, passando por aqueles que auxiliarão na formação dos ossos e músculos, dando suporte ao crescimento físico, e aqueles que auxiliarão no funcionamento dos órgãos internos.
Estimular a alimentação saudável desde cedo significa oferecer à criança recursos para reduzir os riscos no futuro de sofrer com a obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e outras igualmente crônicas. Quanto mais cedo o indivíduo assimila uma dieta adequada ao organismo, melhor aprende a importância desses alimentos e a tomar gosto por sabores e texturas que podem provocar certas resistências no início. Mas dá pra ressaltar que a alimentação é um exercício diário, e que a prática constante é que pode levar àquilo que
*Dr. Celso di Lascio, médico da You Saúde