José Marcos Chaves Ribeiro, o ex-motorista da socialite Regina Lemos Gonçalves, que o acusa de tê-la mantido em cárcere privado por 10 anos, presta depoimento nesta quinta-feira (16) na 12ª DP (Copacabana).
A socialite, parentes e amigos afirmam que recentemente la conseguiu fugir de uma situação de cárcere privado em que era mantida em seu próprio apartamento no Edifício Chopin, vizinho do Copacabana Palace.
Após a suposta fuga, Regina também obteve na Justiça uma medida protetiva no dia seguinte. José Marcos tem que ficar no mínimo 250 metros longe dela. Depois dessa medida judicial ela voltou ao apartamento no Chopin.
Regina é viúva e não tem filhos. Já era rica e herdou uma fortuna bilionária quando o marido morreu, há 30 anos.
O motorista alega que os dois tinham um relacionamento amoroso.
A defesa de José Marcos entrou com um pedido para que o inquérito que investiga o caso seja trancado. A Justiça negou o pedido na terça-feira (14).
“Não existe, data vênia, a menor condição de se deferir qualquer liminar por ora, para fins de trancamento de inquérito policial ou concessão de salvo conduto ao pretenso paciente José Marcos, dado o aparente grau de complexidade do fato que está a motivar a presente impetração. A rigor, parece-me estar havendo uma grave disputa de patrimônio entre José Marcos e familiares de Regina, sendo que a interdição de Regina não impede que ela mesma venha a se tornar, eventualmente, vítima de violência a ser apurada em regular investigação criminal”, diz um trecho da decisão do juiz André Felipe Veras de Oliveira, da 32ª Vara Criminal.
A denúncia
Como mostrou o Fantástico, Regina era conhecida por dar festas extravagantes, mas deixou de ser vista nas áreas comuns do prédio nos últimos dez anos, o que fez vizinhos e amigos ficarem preocupados.
Eles fizeram uma denúncia anônima sobre o sumiço ao Ministério Público do Rio em maio de 2022. Na época, disseram que tentaram em vão entrar em contato com Regina.
Afirmaram que os telefones dela eram usados e sempre atendidos por José Marcos Chaves Ribeiro, o ex-motorista. E que em ligações ou pessoalmente ele sempre respondia com negativas evasivas, alegando doença para não falarem diretamente com ela. Regina diz que José Marcos a isolava.
Escritura de união estável de 2021
O Fantástico teve acesso a documentos que fazem parte de uma disputa judicial para saber quem deve cuidar de Regina e do patrimônio dela.
José Marcos dizia que era companheiro de Regina, o que ela nega. Porém existe uma escritura de união estável registrada em 2021. Na época, José Marcos estava com 50 anos de idade. Regina tinha 85.
No documento consta que os dois estavam em pleno uso de suas faculdades mentais. Principalmente Regina, porque foram apresentados dois atestados psiquiátricos para comprovar a saúde dela.
A notícia de um suposto romance entre os dois chocou a família e amigos próximos. Carlos Queiroz, sobrinho de Regina, diz que desconfiou.
“Por causa da idade dela. Ela tinha feito um pacto. Depois que meu tio morreu, o marido dela – que ela que é minha tia de verdade – que nunca mais iria casar. Era apaixonada por ele. Era tudo para ele, para ela, né? Achei estranho.” Álvaro O’hara, estilista e amigo de Regina, também estranhou.
Em um outro trecho da união estável, o documento diz que em caso de eventual incapacidade mental, completa ou parcial, transitória ou definitiva de um dos dois, deve ser nomeado como seu curador e representante legal o outro em detrimento de quaisquer outros já existentes.
Na escritura consta que a declaração dos dois foi registrada em vídeo. Ela diz que não se lembra de ter assinado papel algum. Parentes afirmam, sem provas, que Regina vivia sob efeito de remédios.
A união estável em que a sanidade mental de Regina foi atestada é de dezembro de 2021.
No ano seguinte, em resposta a uma notificação da família pedindo notícias da socialite, foi apresentado outro laudo confirmando que ela estava bem. Essa resposta é assinada por José Marcos e Regina.
Laudo apresentado pelo homem
Em dezembro de 2023, o ex-motorista entregou à Justiça um terceiro laudo, de outro psiquiatra, dizendo exatamente o contrário. Que, agora, Regina apresentava quadro de demência avançada com déficit cognitivo grave que a incapacitava para a prática dos atos da vida civil.
Ao saber disso, a socialite ficou furiosa. Dona Regina ficou com José Marcos no apartamento quase por 14 anos. Só no dia 2 de janeiro deste ano ela conseguiu sair sozinha e foi para casa do único irmão vivo que também mora em Copacabana.
A socialite diz que foi uma fuga. “Eu resolvi fugir. Resolvi pôr um final nisso. O dia que eu fui procurar a casa do meu irmão, falei, cheguei, eles assustaram. Eu havia emagrecido mais de 30 quilos. Tava osso puro.”
A família diz que ficou horrorizada com o estado de saúde dela e entrou com um pedido de proteção pra dona Regina.
A Justiça concedeu a medida protetiva no dia seguinte. José Marcos tem que ficar no mínimo 250 metros longe dela.
No dia 6 de janeiro, policiais foram até o apartamento. Mas, pelos relatos dos agentes, porteiros disseram que José Marcos saiu na hora em que viu a viatura chegando.
Dias depois, José Marcos declarou à Justiça que Regina só saiu de casa porque teve um surto decorrente de seu estado frágil e de confusão mental.
Mesmo com a medida protetiva, ele conseguiu na Justiça o direito de ser o curador dela, e ganhou poderes pra administrar todo o patrimônio da socialite — assim como estava previsto na união estável.
Patrimônio de Regina
Segundo a família, são centenas de apartamentos, terrenos e mansões. Só em um condomínio em São Conrado, na zona sul do Rio, ela tem 4 casarões.
Os parentes de Regina dizem que uma das mansões — com 11 quartos — está sendo ocupada por José Marcos. A casa tem 1.400 metros quadrados.
A socialite afirma que o ex-motorista já vinha controlando a vida financeira dela havia muitos anos. Segundo a defesa de Regina, há provas de “que ele dilapidou o patrimônio”.
A família afirma que vinha tentando afastar José Marcos de Regina desde 2016. Procuraram a polícia, visitaram o apartamento com assistentes sociais.
O irmão de Regina tentou até interditá-la judicialmente pra evitar que José Marcos tivesse acesso ao patrimônio. Mas, segundo o sobrinho, o ex-motorista e seus advogados sempre conseguiram impedir as ações da família.
“Eles apresentaram o laudo de que ela tava bem, tava lúcida. Botaram pra falar com ela, ela falou que tava bem. Acredito que mais coação, medo da pessoa, aquela coisa normal.”