Colecionadores de armas, atiradores e caçadores (CACs) se tornaram fornecedores de armas e munições para facções criminosas no país, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo e da Bahia.
Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro (PL) flexibilizou as regras dos CACs, o que permitiu que mais pessoas tivessem acesso a armas por meio dessa modalidade. Com as mudanças, o número de novas armas registradas por ano saltou de 59 mil, em 2018, para 431 mil em 2022 – último do mandato do ex-presidente.
De onde vêm armas, munições e explosivos usados por quadrilhas do ‘novo cangaço’ em ataques recentes a bancos no Brasil?
Segundo os investigadores, quadrilhas especializadas em ataques conhecidos como novo cangaço ou domínio de cidades têm utilizam armas fornecidas por CACs em ações batizadas de novo cangaço, nas quais bloqueiam ruas e rodovias para assaltar carros-fortes e bancos e impedir a reação das forças de segurança.
Na terça-feira (21), a PF e o Ministério Público de São Paulo deflagraram a operação BAAL para prender integrantes de uma quadrilha de novo cangaço.
Entre os presos estão pelo menos quatro CACs ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa paulista que atua dentro e fora dos presídios. Um deles é um comerciante e outro, um vigilante de uma empresa de transporte de valores.
Segundo a polícia e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a investigação começou a partir de uma tentativa de roubo a uma base de valores em abril de 2023, em Confresa (MT).
Na época, criminosos foram presos ou mortos no confronto com as forças de segurança. Um deles era membro do PCC, morava em São Paulo, participou da execução do crime e forneceu as armas utilizadas.
Os principais fornecedores das armas de fogo e de munições utilizadas pela PCC são CACs, aponta a investigação.
“O relacionamento dessa organização criminosa com os CACs foi apurado no sentido que eles fornecem tanto armas e munições que eles adquirem legalmente. Ou seja, eles alugam essas armas, como também [as conseguem] pelos canais informais deles. Então, pelo fato deles estarem numa rede de atiradores, isso facilita com que eles adquiram armamento legal, tanto ilegal quanto legal, que eles fornecem para essas pessoas”, afirma o delegado da PF Jeferson Di Schiavi.
O grupo esteve envolvido com ao menos outros 3 casos de novo cangaço:
Criciúma/SC (2020)
Araçatuba/SP (2021)
Guarapuava/PR (2022)
A PF investiga se os CACs foram aliciados pelo crime organizado ou se obtiveram o registro já com o objetivo de financiar ataques do PCC.
O grupo alvo da operação BAAL também é investigado por execuções na cidade de Avelino Lopes (PI) e pela disputa de território para o comércio de drogas em Osasco, na Grande São Paulo, segundo o promotor de Justiça Eduardo Veloso.
“É um grupo que atua em todo país, mas com base em São Paulo e com grupos bem atuantes no Norte e no Nordeste do país”, afirmou.
‘Como se fosse um traficante de arma’
Também na terça, a PF na Bahia deflagrou a operação Fogo Amigo, com objetivo de prender criminosos que abasteciam com armas de fogo diversas facções criminosas no estado, em Alagoas e em Pernambuco.
Segundo as investigações, entre as armas negociadas pelo grupo estavam fuzis e espingardas calibre 12 semiautomáticas, que são frequentemente utilizados em assaltos de tipo novo cangaço.
A investigação identificou o envolvimento de 4 CACs no esquema.
“Os CACs, na verdade, não são todos, mas os que estão atuando com o objetivo de lucro, eles passam a atuar também fora da lei, como se fosse um traficante de arma. Eles conseguem adquirir essas armas através de empresas, empresas inicialmente legalizadas, eles cumpram essas munições”, diz o Rodrigo Motta de Andrade, chefe da Delegacia Regional de Polícia Judiciária da Polícia Federal na Bahia.