A Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), por meio das Comissões de Promoção da Igualdade Racial e de Defesa da Criança e do Adolescente, confirmou nesta quarta-feira, 22, que está acompanhando o caso da criança de 10 anos vítima de racismo em um condomínio situado no conjunto Salvador Lyra, na parte alta de Maceió.
Os familiares da criança estiveram na OAB/AL e relataram o caso ocorrido no último dia 13 de Maio, destacando que tentaram, junto ao condomínio, ter acesso às imagens das câmeras de monitoramento para verificar a situação, mas o pedido foi ignorado. Foi feito um Boletim de Ocorrência e, agora, a OAB vai acompanhar, junto às autoridades, as investigações do caso.
Segundo a presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial, Ana Clara Alves, é preciso que o fato seja investigado para que as autoras sejam devidamente punidas.
“Enquanto Comissão de Igualdade Racial, iremos acompanhar o caso conjuntamente com a Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente para que o suposto crime seja efetivamente apurado e que tenhamos a responsabilidade da autoria. Além da legislação racial pertinente ao caso, trata-se de uma criança de 10 anos de idade em que incidirá também, no que couber, o Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA]”, afirma Ana Clara.
Ana Clara lembra que racismo é crime. Algo inadmissível, que quando praticado contra uma criança, torna o fato ainda mais grave.
“O racismo é inadmissível e é um crime, e quando praticado contra uma criança afeta em um estágio vulnerável e formativo de suas vidas. Disponibilizamos o acompanhamento psicológico para a vítima e acompanharemos o inquérito policial e todas as consequências jurídicas advindas da apuração do caso”, completa.
Para Mariana Sampaio, presidente da Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente, as pessoas não enxergam as crianças e adolescentes como sujeitos de direito e acham que podem impor algo de forma agressiva. No caso em questão, ela coloca que o menino foi duplamente violado, pois foi vítima de racismo e teve seus direitos cerceados.
“A sociedade deve assegurar prioridade absoluta às crianças. Isso consta não só no ECA, mas também na Constituição Federal. Esse caso se refere à violação de um menino, de uma forma mais agravada, pois ele teve os direitos violados enquanto criança e enquanto pessoa negra”, pontua Mariana.
Sobre o caso
Segundo relato do pai da criança, o filho chegou em casa naquele dia relatando que estava brincando com outras crianças no estacionamento do condomínio, quando duas mulheres – que segundo o pai seriam mãe e filha – se aproximaram e começaram a ameaçar o grupo de menores, direcionando ofensas racistas especificamente contra ele. Entre outros insultos, a criança foi chamada de “macaco” e “nego safado”.
O caso foi registrado no livro de ocorrências do condomínio e foi solicitado ao síndico acesso às imagens de câmeras de segurança para tenta identificar as agressoras, que seriam moradoras do mesmo local.
Um encontro teria ficado agendado para o dia seguinte, mas o síndico não teria comparecido e desde então estaria dificultando o acesso do pai aos registros de imagem, o que o fez procurar a polícia para registrar Boletim de Ocorrência a respeito do caso no dia 15 deste mês, na Delegacia Especial dos Crimes Contra Crianças e Adolescentes, na Jatiúca.
Dados sobre racismo
No ano passado, de janeiro a dezembro, a OAB/AL recebeu 22 denúncias de racismo. Em 2024, esse foi o segundo caso registrado pela Comissão de Promoção da Igualdade Racial.