Noivo usa roupa com véu feito por ele mesmo em casamento no interior de São Paulo: ‘Tudo mágico’

O cabelereiro Robson Patrick Ferreira, de 32 anos, sempre teve o sonho de casar usando o acessório. A capa que foi confeccionada por ele, que fez o investimento em aproximadamente 3.500 pedras.

Durante a produção, evitava mostrar os detalhes para o então namorado, o jornalista Guilherme Vila Real, de 33 anos.

“Eu colei pedras por pedras, fiz o acabamento e tudo com amor. Eu não me arrependo nem um minuto. Eu faria tudo novamente porque ali eu estava realizando um sonho. Desde criança, desde adolescente eu sempre falava que quando eu fosse casar, eu ia entrar com uma capa cheia de brilho”, conta Robson.

O cabeleireiro diz ainda que usou o figurino completo, fez cabelo e maquiagem. O casal ficou cerca de um ano nos preparativos para a festa. Durante a cerimonia foi uma surpresa para todos os familiares e amigos. Os convidados não sabiam que ele usaria o traje.

“A única pessoa que sabia era minha cunhada e quando eu entrei na cerimônia, todo mundo ficou olhando, todo mundo ficou admirando, amaram, vieram conversar comigo depois. Falaram que eu arrasei na capa, que nunca tinham visto. Era uma coisa nova. Foi maravilhoso”; conta Robson.

Quando Robson contou sobre o desejo de usar a capa, inicialmente Guilherme ficou um pouco preocupado pensando que talvez não seria uma boa ideia, mas logo recebeu o apoio da mãe dele.

“Eu no começo fiquei meio receoso. Não por mim, não por ele. É que nós homossexuais vivemos em constante medo da sociedade. Porém essa ideia mudou, um dia conversando com a minha mãe. Ela disse para não pensar daquela forma. Que era para deixar o Robson realizar o sonho dele”, conta Guilherme.

O casal lembra que era difícil encontrar a capa disponível para a venda nas lojas, exatamente da forma como Robson queria. Diante disso ele decidiu fazer o acessório e recebeu apoio da irmã de Guilherme.

Ainda segundo Guilherme, o sonho de Robson é muito comum entre os noivos em casamentos heterossexuais. Ele acredita que isso deveria virar rotina também nas uniões de pessoas do mesmo sexo.

A celebração foi uma forma de superar o preconceito que eles viveram até mesmo dentro da família.

“Foi tudo muito mágico. A nossa história foi cheia de desafios. Principalmente em relação ao preconceito e a falta de respeito dentro da própria família, mas a gente nunca desistiu e vencemos. Aquele momento foi muito além de uma simples cerimonia”, conta Vila Real.

Por mais que sabia da capa e tinha acompanhado o então namorado, Guilherme diz que não imaginava que seria um dia tão especial. O momento que Robson apareceu no corredor todo produzido, usando a capa e acompanhado dos pais para entrar na festa, foi inesquecível para o jornalista.

“Para nós homossexuais muitos sonhos e vontades acabam sendo esquecidos, por conta da sociedade. Então esse nós fizemos questão de realizar, junto dos pais e amigos. Foi uma cerimônia linda, mágica, de muito respeito. Ali o amor reinou”, explica Guilherme.

Para tornar o momento ainda mais marcante, os noivos convidaram Leandro Waideman, que atua há 15 anos como celebrante. A ideia da capa com pedras e brilho surpreendeu até mesmo Leandro que já tinha celebrado vários casamentos de pessoas do mesmo sexo, mas nunca tinha vivenciado nada parecido.

“Em 15 anos como celebrante de casamento, esse foi o primeiro casamento homoafetivo com um dos noivos usando véu. Foi emocionante, porque, a cada dia a gente vê a autenticidade do casal mostrando a sua essência, realizando o sonho e isso que faz valer a pena”, conta Waideman.

Leandro só ficou sabendo do véu quando já estava tudo pronto para o início da celebração, que contou inclusive com o Ritual das Areias. Ele explica que apoia esse tipo de iniciativa e acredita que todos os casais deveriam ter a mesma coragem de enfrentar o preconceito e viver sem nenhum medo ou receio.

“Essa simbologia, ela traz a mensagem da união de duas pessoas. São duas pessoas que têm a sua personalidade diferente, duas pessoas com seus jeitos diferentes, cada um com suas conquistas, com suas qualidades, com seus defeitos e no casamento tudo isso se une. Por isso a união das areias”, conta Leandro.

Durante a festa o casal fez fotos usando um guarda-chuvas com as cores do arco-íris, representando a bandeira que simboliza o movimento LGBTQIAPN+.

As fotos da festa foram publicadas nas redes sociais do cerimonialista e geraram muitas reações positivas dos seguidores.

“Foi arrepiante ver a felicidade tanto do Robson, quanto a do Guilherme. E foi lindo também de ver a emoção dos convidados. Era o momento deles e tinha que ser muito especial. Pra mim foi gratificante”, finaliza Leandro.

Guilherme e Robson se conheceram em 2014, quando ambos moravam em Presidente Prudente(SP). No inicio Guilherme foi receoso em relação a começar o relacionamento, mas com o tempo os dois foram se aproximando e o jornalista acabou se rendeu a paixão.

No dia 30 de março de 2015 eles decidiram namorar. Foram nove anos se conhecendo e vivenciando várias experiências juntos. Até que os dois decidiram consagrar a união perante familiares e amigos. Atualmente ambos moram juntos em São José do Rio Preto.