A Polícia Federal deve intimar a depor o ex-secretário da Receita Federal, José Tostes – que comandou o órgão na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Tostes foi citado na reunião, gravada pelo então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, em que Bolsonaro discute estratégias de defesa do filho, o senador Flávio Bolsonaro, em um processo por “rachadinhas”.
Investigadores classificaram como “grave” a participação do então presidente no encontro com advogadas de Flávio e representantes de órgãos de investigação do governo.
Eles destacam, ainda, que Bolsonaro fala mais de uma vez em usar o cargo para acessar altos funcionários do governo que poderiam ter informações úteis para a defesa.
“O secretário da Receita é um cara muito bom”, diz Ramagem em dado momento da conversa.
“Ninguém está pedindo favor aqui (inaudível). É o caso conversar com o chefe da Receita? O Tostes”, diz Bolsonaro pouco depois.
Moraes levanta sigilo de áudio de reunião com Jair Bolsonaro encontrada em computador de Ramagem
A Polícia Federal acredita que é possível comprovar a atuação do presidente no favorecimento de Flávio junto a essas autoridades.
Na segunda, o g1 e o Jornal Nacional mostraram que, dias após a reunião no Planalto gravada por Ramagem, as advogadas de Flávio Bolsonaro se reuniram duas vezes com José Tostes.
Em seguida, o então chefe da Receita se reuniu pelo menos outras duas vezes com Bolsonaro. Os registros constam na agenda pública do ex-presidente.
Segundo a PF, a Receita Federal chegou a abrir uma sindicância interna contra os auditores que levantaram os dados que apontavam a prática rachadinha do senador Flávio Bolsonaro.
Na conversa gravada, cujo áudio se tornou público nesta segunda, as advogadas de Flávio acusam auditores de promover levantamentos ilegais para tentar enquadrar o senador em supostos crimes.
Canuto também deve depor
O ex-chefe da Dataprev, Gustavo Canuto, também deve ser chamado a depor.
Na gravação, as advogadas sugerem que a Serpro poderia apurar se auditores da Receita acessaram dados do senador Flávio Bolsonaro. Ramagem chega a observar que Canuto era de outro órgão, mas poderia ser um caminho para obter dados adicionais.