Jovem vai implantar dispositivos para bloquear passagem da ‘pior dor do mundo’ até o cérebro; entenda

Carolina Arruda luta contra a neuralgia do trigêmeo há mais de 10 anos e atualmente recebe tratamento em Alfenas. Caso repercutiu após campanha divulgada por ela para conseguir recursos financeiros e ser submetida a eutanásia na Suíça.

O tratamento definido para Carolina Arruda, que tem neuralgia do trigêmeo e convive com a “pior dor do mundo” há 11 anos, foi dividido em alternativas que buscam minimizar as dores que ela sente. O primeiro passo a ser testado é o implante de neuroestimuladores na medula espinhal e no Gânglio de Gasser.

Conforme o médico Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa e presidente da Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor (SBED), os neuroestimuladores são dispositivos com alta tecnologia que podem “estimular” o nervo e, com isso, impedir a transmissão de estímulos dolorosos.

Carolina Arruda/Arquivo Pessoal

Carolina Arruda

No caso de Carolina Arruda, os dispositivos serão aplicados na medula espinhal e no Gânglio de Gasser – que é um grupo de neurônios associados ao nervo trigêmeo responsável por transmitir sensações da face ao cérebro, justamente onde está concentrado o problema.

“Espera-se que [os neuroestimuladores] sejam bastante efetivos no tratamento da dor dela. Não há grande número de casos [com esses dispositivos] no mundo, até porque casos como dela são raros, mas a descrição dos casos já feitos foi muito boa”, afirma o médico responsável pelo plano terapêutico.

Como a dor de Carolina é bilateral, o procedimento será realizado após a equipe médica confirmar a localização exata da origem da dor por meio do bloqueio teste. O procedimento consiste na injeção de uma pequena quantidade de anestésico local próximo ao nervo.

A depender da resposta desse teste, a equipe médica e a jovem definirão o que será feito: a reabordagem no gânglio da esquerda ou a neuromodulação do Gânglio de Gasser. Segundo o hospital, a decisão irá pesar os riscos e benefícios de cada alternativa.

“Todo procedimento médico, ainda mais no sistema nervoso central, tem risco. A princípio, o maior risco é não funcionar. Mas pode acontecer infecções, rejeição, eventos tromboembólicos e outros”, afirmou o médico.

O fato da estudante ter anteriormente tentado outras intervenções aumenta o nível de cuidados com os procedimentos. Conforme o médico, devido a esse histórico, será necessário reavaliar toda a trajetória do caso dela.

Durante o processo, Carolina Arruda permanecerá acordada e sem sedativos, o que deve colaborar com o processo de adaptação aos neuroestimuladores.

Carolina Arruda foi internada no dia 8 de julho na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas — Foto: Carolina Arruda/Arquivo PessoalCarolina Arruda foi internada no dia 8 de julho na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas — Foto: Carolina Arruda/Arquivo Pessoal

“Após o implante, há um período de ajuste, mas dentro de uma semana já saberemos resultado deste primeiro [passo]”, completou.

A previsão é que o implante dos neuroestimuladores ocorra no dia 27 de julho. Enquanto isso, Carolina Arruda segue em tratamento adjuvante na Clínica da Dor até o procedimento.

Outras alternativas

O tratamento de Carolina Arruda na Clínica da Dor prevê outras três alternativas caso o implante de neuroestimuladores não proporcionem alívio suficiente para melhorar a qualidade de vida dela. São eles:

A opção do implante de bomba de morfina, em que um dispositivo será implantado no abdômen da paciente que por meio de um cateter colocado diretamente no sistema nervoso central levará os medicamentos analgésicos diretamente ao alvo.

Caso ainda não haja um alívio satisfatório, a paciente poderá ser submetida a uma nova abordagem cirúrgica de descompressão vascular do nervo trigêmeo. Para isso, será feito um exame de ressonância magnética nuclear que mostrará a alça vascular da artéria cerebelar superior tocando o segmento cisternal dos nervos trigêmeos bilateralmente.

Por fim, caso nenhuma das opções anteriores funcione bem, será feito um procedimento neurocirúrgico de nucleotractomia trigeminal, que tem como objetivo interromper a transmissão sensitiva do nervo trigêmeo.

Tratamento na Clínica da Dor

Carolina Arruda foi internada no dia 8 de julho na Santa Casa de Alfenas para um processo gradual de tratamento na Clínica da Dor. A clínica é especializada em dores crônicas – aquelas dores que persistem por mais de três meses sem solução.

Segundo o médico Carlos Marcelo de Barros, casos como o de Carolina devem ser tratados em centros especializados para que a possibilidade de alívio da dor seja maior, mesmo que seja de forma parcial.

No dia 10 de julho, Carolina Arruda foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para receber a medicação que exige, em protocolo, que o paciente esteja internado neste tipo de leito.

Após ficar sedada por cinco dias, ela acordou na segunda-feira (15) e retornou ao quarto da Santa Casa de Alfenas, onde relatou um alívio das dores que proporcionou uma “experiência inédita” em mais de uma década de vida.

A história de Carolina

Carolina Arruda é natural de São Lourenço, no Sul de Minas, e mora em Bambuí, no Centro-Oeste. Ela é estudante de medicina veterinária, casada há três anos e mãe de uma menina de 10 anos. A jovem começou a sentir as dores aos 16 anos, quando estava grávida e se recuperava de dengue.

O diagnóstico foi feito há 7 anos e desde então foram feitos vários tratamentos como descompressão microvascular, rizotomia por balão e duas neurólises por fenolização, mas sem alívio que trouxesse qualidade de vida para ela.

A dor e o desgaste de Carolina com a doença são tão intensos, que fizeram ela tomar a decisão para pôr fim ao sofrimento. Ela iniciou uma campanha na internet para conseguir recursos financeiros e ser submetida ao suicídio assistido na Suíça.

Com a repercussão do caso, ela foi convidada pelo médico Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas e presidente da Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor (SBED), para passar por um tratamento na Clínica da Dor, ligada ao hospital.

O que é a neuralgia do trigêmeo?

A neuralgia do trigêmeo, também conhecida como a “doença do suicídio”, e comparada a choques elétricos e até a facadas. O trigêmeo é um dos maiores nervos do corpo humano. Ele leva esse nome porque se divide em três ramos:

  1. o ramo oftálmico;
  2. o ramo maxilar, que acompanha o maxilar superior;
  3. o ramo mandibular, que acompanha a mandíbula ou maxilar inferior.
Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo  — Foto: Carolina Arruda/Arquivo pessoalCarolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo — Foto: Carolina Arruda/Arquivo pessoal

Ele é um nervo sensitivo, ou seja, que controla as sensações que se espalham pelo rosto. Permite, por exemplo, que as pessoas sintam o toque, uma picada e a dor no rosto.

A doença normalmente atinge um lado do rosto. Em casos mais raros, pode atingir os dois — como é o caso da estudante de veterinária.

Segundo os especialistas, a dor causada pela doença é uma das piores do mundo. Ela não é constante fora das crises, mas é disparada por alguns gatilhos que, na verdade, fazem parte da vida cotidiana como falar, mastigar, o toque durante a escovação ou barbear e até com a brisa do vento sobre o rosto.

A dor é incapacitante. Ou seja, impede que a pessoa consiga fazer atividades simples do dia a dia.

Fonte: g1

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