‘Como resolve essa briga? Apresenta a ata’, diz Lula sobre eleição da Venezuela sob suspeita

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou pela primeira vez nesta terça-feira (30) sobre o impasse na eleição presidencial na Venezuela, realizada no domingo (28). Lula disse que, para “resolver a briga”, é preciso que as autoridades locais apresentem as atas de votação.

A declaração foi dada em entrevista exclusiva na manhã desta terça-feira (30) no Palácio da Alvorada à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso.

Nas eleições venezuelanas, as atas são boletins que registram os votos em cada urna. Elas não foram devidamente apresentadas pelas autoridades daquele país. O governo da Venezuela alega falha no sistema.

O resultado oficial, apresentado pelo Comitê Nacional Eleitoral (CNE), aponta o atual presidente, Nicolás Maduro, como vencedor com 51,2% dos votos. Mas a oposição e autoridades estrangeiras apontam fraude e dizem que o vencedor foi o oposicionista Edmundo Gonzalez.

O CNE é ligado ao governo venezuelano e, na prática, é controlado por Maduro. Desde esta segunda, a oposição faz manifestações de rua na capital, Caracas (veja mais abaixo).

Lula, que, no início do mandato, era próximo a Maduro, mas depois foi se afastando, não falou nada sobre a Venezuela nem no domingo nem na segunda. A manifestação veio nesta terça, dois dias depois do início do impasse.

“É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”, afirmou o presidente.

Lula condicionou o reconhecimento do resultado à apresentação das atas.

“Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela’, disse.
Lula começou seu mandato buscando reintegrar Maduro ao continente. O presidente venezuelano está no poder desde 2013 e vem renovando os mandatos com eleições consideradas suspeitas por observadores internacionais.

O governo brasileiro apostava em usar a interlocução de Lula com Maduro para influenciar a realização de eleições limpas. Mas Maduro radicalizou o discurso, impediu oponentes de participarem, e o governo brasileiro se afastou dele.

A estratégia da diplomacia brasileira, e de Lula, vem sendo aguardar a apresentação das atas.

“O que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de se expressar, de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo”, continuou o presidente.

Na noite desta segunda (29), o PT “furou” o silêncio de Lula e a cautela do governo e reconheceu a reeleição de Maduro. A nota é assinada pela executiva nacional do partido.

Lula comentou a nota do PT. Ele disse que não há nada “grave” nem “assustador” no processo eleitoral venezuelano.

“O PT reconheceu, a nota do partido dos trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Eu vejo a impresa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada a de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e Justiça faz.

Manifestações em Caracas
Quatro pessoas morreram e outras 44 ficaram feridas durante as manifestações que tomaram ruas de diversas cidades da Venezuela desde segunda-feira (29), segundo ONGs que atuam no país.

Os manifestantes protestam contra o resultado que indicou vitória do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, após uma eleição tensa no fim de semana. A oposição e a comunidade internacional pedem a divulgação das contagens completas dos votos.

Na tarde desta terça (30), María Corina Machado e Edmundo González, da oposição, protestaram em frente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Caracas.

Segundo a ONG Pesquisa Nacional de Hospitais, que monitora a crise hospitalar e centros de saúde da Venezuela, uma das mortes ocorreu em Caracas, e as outras três, em Aragua, no centro do país.

Fonte: G1

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