Embaixador expulso da Nicarágua se reúne com ministro das Relações Exteriores em Brasília

Breno Dias da Costa foi expulso do país da América Central pelo governo de Daniel Ortega, depois de se ausentar das celebrações oficiais dos 45 anos da Revolução Sandinista.

O embaixador Breno Dias da Costa, que foi expulso da Nicarágua pelo governo de Daniel Ortega, participou nesta segunda-feira (12) de uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em Brasília.

Divulgação/Itamaraty

O diplomata Breno Dias da Costa e o chanceler Mauro Vieira durante reunião no Itamaraty

A expulsão de Breno Dias da Costa foi uma retaliação do governo da Nicarágua pela ausência do Brasil nas celebrações, em julho, pelos 45 anos da Revolução Sandinista – Daniel Ortega, presidente nicaraguense, é um ex-guerrilheiro do movimento.

A medida extrema também é considerada um indicador de como as relações entre os governos de Lula e Ortega, antigos aliados, vêm se deteriorando nos últimos anos.

“O ministro Mauro Vieira recebeu o embaixador Breno Dias da Costa, que ocupou, até 8 de agosto, o cargo de embaixador do Brasil na Nicarágua. Na audiência, trataram do estado das relações bilaterais e dos últimos acontecimentos antes de sua partida do posto”, afirmou o Itamaraty em comunicado.

Em resposta à expulsão do diplomata brasileiro, o governo Lula também decidiu, pelo princípio da reciprocidade, expulsar a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus.

Ela deixou o Brasil na madrugada da última quinta-feira, antes mesmo de ser informada da decisão do governo brasileiro.

Gesto grave

A expulsão de um embaixador brasileiro é um gesto grave nas relações diplomáticas entre dois países e indica a piora nas relações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governo do nicaraguense Daniel Ortega, de quem Lula já foi aliado.

Em abril, Lula decidiu congelar as relações com a Nicarágua por um período de um ano em retaliação à prisão de padres e bispos no país.

Por conta desse congelamento, o embaixador brasileiro foi instruído a não comparecer às celebrações pela Revolução Sandinista, conforme o Itamaraty.

Em 2022, o governo de Daniel Ortega iniciou uma ofensiva contra a Igreja Católica do país, confiscando imóveis, dissolvendo ordens jesuítas e prendendo padres e bispos que denunciavam a guinada autoritária do líder esquerdista.

O Brasil tentava atuar como mediador entre o Vaticano e Manágua e pedia que o governo nicaraguense que soltasse bispos presos no país desde 2022.

No entanto, decidiu romper com o governo nicaraguense após Ortega se negar a soltar o bispo católico Rolando Álvarez, um dos principais críticos da gestão de Ortega.

Álvarez foi preso pela primeira vez em 2022. Depois, com a mediação do Brasil e a pedido do Vaticano, foi solto, mas o governo exigiu que ele deixasse a Nicarágua. O bispo se recusou e, por isso, foi preso novamente.

O fracasso nessa negociação aprofundou o afastamento entre Lula e Ortega. O Vaticano, na ocasião, rompeu relações com a Nicarágua e passou a classificar o país como uma ditadura.

Quase duas décadas no poder

Daniel Ortega, presidente da Nicarágua — Foto: Leonardo Fernandez Viloria/ReutersDaniel Ortega, presidente da Nicarágua — Foto: Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Há 17 anos no poder, Ortega também é acusado por críticos de ditador e nepotismo — sua própria esposa, Rosario Murillo, é a vice-presidente do país e, no ano passado, e ele já nomeou diversos parentes para seu governo.

O ex-guerrilheiro alega que seu governo é do povo e defende a soberania do país dos “ataques” dos Estados Unidos.

Segundo o índice V-DEM, que mede o status das democracias pelo mundo, a Nicarágua é uma autocracia. O presidente é Daniel Ortega, reeleito para o quarto mandato em 2021, em eleições apontadas pelos Estados Unidos como nem justas nem livres.

Ortega é um ex-guerrilheiro de um movimento de esquerda dos anos 1970 conhecido como sandinista. Ele também governou o país nos anos 1980, depois que seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), derrubou em 1979 o ditador Anastasio Somoza. A derrubada de Somoza é conhecida como a Revolução Sandinista.

Os sandinistas governaram Nicarágua até 1990, quando foram derrotados na eleição presidencial realizada no país.

Fonte: g1

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