Neblina fecha o maior porto da América do Sul por tempo recorde; veja os impactos e prejuízos milionários

Em 2024, a navegação foi paralisada por 195 horas. Este já é um recorde comparado aos últimos quatro anos, quando a Autoridade Portuária de Santos (APS) começou as medições.

Gustavo Bertoldi/g1 Santos

Santos (SP) ‘coberta’ por neblina

A baixa visibilidade provocada por neblinas densas causou a paralisação das operações no Porto de Santos, o maior da América do Sul, por 195 horas em 2024. Embora ainda restem pouco mais de três meses para o fim do ano, essas interrupções estabeleceram um recorde em comparação com os últimos quatro anos, desde que a Autoridade Portuária de Santos (APS) iniciou as medições.

A paralisação das atividades no cais santista pode acarretar prejuízos milionários para os armadores, que são as empresas proprietárias de navios mercantes. Em 2023, por exemplo, a navegação foi interrompida por 80 horas.

Ao g1, o Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado (Sindamar) informou que 195 horas com um navio parado pode custar de R$ 1,1 milhão a R$ 4,5 milhões, a depender do tipo da embarcação. Valores calculados com base na cotação do dólar a R$ 5,62.

Além do custo fixo do navio, o Sindamar explicou à equipe de reportagem que os terminais aplicam multas para qualquer tipo de atraso nas saídas dos navios, por eles permanecerem atracados e inoperantes. De acordo com a entidade, as penalidades variam conforme a metodologia de cada empresa, mas geralmente custam entre R$ 7 a R$ 8 mil por seis horas.

g1 conversou com especialistas em climatologia que explicaram que o aumento da neblina na região tem relação com as mudanças climáticas, casos de incêndios em todo o Brasil e o inverno. Clique aqui para entender o que é o fenômeno e a motivação do aumento dele.

Veja os impactos da paralisação no Porto de Santos

🕓Quantas horas as atividades do cais santista ficaram suspensas em 2024? 195 horas até quarta-feira (11)
📆Quantos dias seguidos seriam? Oito dias e três horas
💰Quanto custa um navio parado por hora (sem multa)? R$ 5.876,88 a R$ 23.507,50, dependendo do tipo da embarcação
🚢Qual seria o prejuízo de apenas um navio parado por 195 horas (sem multa)? R$ 1.143.585,60 a R$ 4.582.987,50, dependendo do tipo da embarcação

Apesar dos custos, a APS disse que as operações de carga ocorreram sem impactos significativos, balanceando a logística com a segurança operacional.

Importância

O diretor-executivo do sindicato, José Roque, afirmou ao g1 que entende as necessidades das paralisações para a segurança da navegação. “[As suspensões são] indispensáveis para evitar acidentes no porto ou na barra durante a movimentação dos navios”, disse ele.

Roque destacou que é melhor prevenir do que ‘correr’ o risco de acontecer um acidente que, ainda de acordo com ele, pode fechar o cais santista por tempo indeterminado e com prejuízos incalculáveis.

Visibilidade prejudicada no Porto de Santos — Foto: Jornal Nacional/ReproduçãoVisibilidade prejudicada no Porto de Santos — Foto: Jornal Nacional/Reprodução

A APS acrescentou que acompanhará as pesquisas elaboradas pelas instituições que estudam o clima para entender como as mudanças climáticas podem afetar a operação e infraestrutura portuária.

De acordo com a responsável pelo cais, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já informou à autoridade portuária que irá pesquisar se o fenômeno climático é incomum ou não.

Histórico

A autoridade portuária iniciou a somatória das durações das suspensões há quatro anos, em 2021. Confira abaixo o histórico de horas da paralisação da entrada e saída de navios no Porto de Santos:

  • 2021 ➡ 60 horas
  • 2022 ➡ 132 horas e 55 minutos
  • 2023 ➡ 80 horas
  • 2024 até o dia 11 de setembro➡ 195 horas

Neste ano, ainda de acordo com a APS, foram 44 horas e 55 minutos até julho. O recorde foi em agosto com 116 horas e 35 minutos, um período maior que os 12 meses de 2021 e 2023.

Já em setembro, foram 33 horas e 30 minutos, com destaque para domingo (8) e segunda-feira (9), que a suspensão durou mais de 18 horas. Relembre algumas paralisações:

Neblina prejudica a visibilidade em Santos — Foto: Arquivo Pessoal/Antonio Carlos da SilvaNeblina prejudica a visibilidade em Santos — Foto: Arquivo Pessoal/Antonio Carlos da Silva

O que é neblina?

Neblina, ventos fortes e condições do mar são os principais fatores climáticos para a paralisação do cais santista. Neste último ano, o maior registro foi a baixa visibilidade causada pela neblina, que é um fenômeno meteorológico que se forma com a presença de pequenas gotas de água suspensas no ar.

A baixa visibilidade, de acordo com a meteorologista Heloisa Pereira, é considerada quando a visibilidade horizontal fica abaixo de um quilômetro. Este fator interfere e oferece riscos para uma navegação segura.

“A Organização Meteorológica Mundial (OMM) define como nevoeiro [que é um outro nome dado a neblina] quando a visibilidade é reduzida para menos de 1 km devido a gotículas de água suspensas no ar”, afirmou a especialista.

Aumento do fenômeno

O especialista em Climatologia e Agrometeorologia, Rodolfo Bonafim, explicou ao g1 os fatores que motivaram o aumento da neblina em 2024. Veja abaixo:

Entre julho e agosto, é normal ter estes nevoeiros causados pela temperatura da água do mar que está mais baixa por conta do inverno.

Em 2023, foram menos episódios de neblina por conta da influência do El Niño, um fenômeno climático que aquece as águas do Oceano Pacífico. Como este ano não tivemos, consequentemente o mar ficou mais frio e os nevoeiros aumentaram.

As mudanças climáticas e os casos de incêndios em todo o Brasil e, principalmente, no interior de São Paulo também aumentar os nevoeiros no litoral paulista. A massa de ar mais quente entra em contato com a água fria formando a neblina intensa.

O estado de São Paulo registrou 2.316 focos de incêndio entre os dias 22 e 23 de agosto — mês em que o Porto de Santos bateu recorde de paralisação por conta das condições climáticas com 116 horas e 35 minutos.

“O aumento das queimadas no Brasil fez com que o nevoeiro fosse realmente muito persistente. Em 25 anos de observação e monitoramento do clima da Baixada Santista, nós da Climatologia Amigos da Água nunca observamos um nevoeiro tão duradouro”, finalizou Bonafim.

Fonte: g1

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