Uma designer de cílios e sobrancelha encontrou um carrapato preso na pálpebra de uma cliente que foi fazer manutenção de cílios em um salão em Vitória, na última semana. Maria Vitória Araújo Santos gravou um vídeo que mostra o animal nos cílios da cliente. A designer de 24 anos retirou o inseto e o descartou em um vaso sanitário, mas não avisou a cliente o que aconteceu.
Especialistas em estética, no entanto, explicaram ao g1 que o mais indicado nesse tipo de caso seria comunicar a cliente da situação e orientá-la a buscar atendimento médico para a retirada do carrapato.
Maria Vitória trabalha há 6 anos na área e tem cursos profissionalizantes de design de cílios e sobrancelha. Ela postou o vídeo nas redes sociais e fez um alerta sobre higiene da extensão de cílios. Até a manhã desta segunda-feira (23), o vídeo tinha mais de 77 mil visualizações.
Visita para manutenção
A designer contou ao g1 que estava atendendo em um salão no bairro São Pedro e que assim que a mulher deitou na cadeira, ela conseguiu visualizar o animal sem precisar de espelho de aumento.
“O bicho estava grandinho, grudado ali na pele dela. O corpo estava no cílio, bem visível a olho nu. Quando ela deitou na maca eu já vi. Fiquei em choque e filmei porque se eu não filmasse ninguém ia acreditar no que eu tinha encontrado”, relatou a designer.
Durante o atendimento, a cliente em nenhum momento relatou sobre incômodo nos cílios, nem antes, nem depois da retirada do carrapato.
“Não é uma cliente que eu atendo com frequência. Inclusive, ela foi até o salão com uma extensão que não era minha. Ela falou que não sentia nada, nem mesmo na hora da retirada. Era como se não tivesse nada dos cílios dela. É algo chocante, se eu que removi o animal fiquei chocada, imagina as pessoas. É difícil de acreditar. É a primeira vez em seis anos de profissão que eu encontro isso. Já ouvi outros colegas falando de piolho, mas não de carrapato”, comentou.
Procedimentos
Maria Vitória disse que assim que viu o carrapato, procurou na internet como poderia tirar o animal da cliente.
“Eu procurei na internet como tirar, porque eu nunca tinha visto uma coisa dessas. Vi que eu não poderia esmagar, que precisa tirar ele inteiro. Tirei com um cotonete específico para cuidar de cílios, um material descartável. Foi coisa rápida. Tive só um pouco de dificuldade para tirar porque ele estava bem agarrado. Depois coloquei em um algodão, enrolei em uma fita e joguei no vaso sanitário”, narrou.
A profissional afirmou que não contou sobre o animal para a cliente nem durante o atendimento e nem depois porque ficou com medo da reação dela.
“Como o salão estava lotado na hora, com várias outras pessoas, inclusive uma sendo atendida bem ao lado dela, achei melhor não falar, se não eu ia constrangê-la, ia gerar um desconforto e talvez até um caos no salão. E se eu mandasse depois, ela não ia acreditar. Até quando eu mostrei para algumas pessoas, elas não acreditaram”, pontuou.
Após a retirada do carrapato, Maria Vitória disse que higienizou os cílios e o local do atendimento. Ela reforçou que sempre orienta as clientes a terem cuidados básicos de higiene com a extensão.
“Não é um cílio postiço, é um fio sintético que é colocado no próprio cílio da cliente. Uma das principais recomendações é que higienize os cílios todos os dias, com shampoo neutro, uma escovinha que a gente dá para higienizar e fazer a manutenção a cada 15 dias”, destacou.
Alerta
A professora e coordenadora da Pós em Estética Clínica e Avançada da Universidade de Vila Velha (UVV), Cíntia Ribeiro Muñóz Brazolino reforçou que segundo as atribuições e proibições do profissional de estética, algumas medidas precisavam ser tomadas quando a designer encontrou o carrapato na paciente, sendo elas a principal de avisar a pessoa do ocorrido.
“É importante que o profissional, de maneira tranquila, informe a paciente da situação e oriente os cuidados necessários para remover. Como é um animal que libera toxinas, pode deixar outras lesões na pele e o profissional de estética não deve fazer a remoção, precisa encaminhar para o médico”, pontuou a professora.
Cíntia reforçou que a profissional não deveria ter retirado o animal por conta própria e deveria ter encaminhado a cliente para o pronto atendimento.
‘Seria importante de que algum médico pudesse fazer a retirada de forma correta e também analisar se teria carrapato em outro lugar e a quanto tempo ele deveria estar ali. E claro, no ambiente de trabalho, ela precisa desinfetar tudo depois do atendimento”, disse.
Cuidados
Segundo o biólogo especialista em insetos, Pedro Reck, apenas pela gravação feita pela designer é difícil precisar o tipo de carrapato.
“Eles podem transmitir algumas doenças, a mais famosa sendo a febre maculosa. Carrapatos têm, na maioria dos casos, o mesmo formato. As características que os diferenciam geralmente são microscópicas. O carrapato estrela tem um ‘desenho’ avermelhado nas costas, no formato de uma estrela. Com certeza é muito difícil de uma pessoa identificar. Mas aparentemente parece não ser o carrapato estrela, que é o principal vetor da febre maculosa”, explicou.
O biólogo comentou sobre qual procedimento é o mais adequado para a retirada de carrapatos:
Usar uma pinça de ponta fina (limpa);
Puxar o carrapato com uma força constante para cima (no sentido contrário do que ele está preso a pele);
O ideal é não puxar de uma só vez e nem girar a pinça porque isso pode fazer com que partes das peças bucais do bicho quebrem e fiquem presas na pele. Nesse caso, pode gerar uma inflamação pela presença desse corpo estranho na hora da cicatrização;
Lavar a área com sabão ou álcool;
Jogar o bicho inteiro no lixo ou matar ele com álcool, nunca amassar com os dedos para que não possa haver alguma contaminação.