O advogado João Manoel Armôa Junior, de Santos, no litoral de São Paulo, levou uma bronca de uma juíza após entrar sem camisa em uma videochamada de um despacho virtual. Ao g1, o advogado explicou que enviou mensagens para explicar à Vara Criminal que acabou entrando sem camisa porque estava retornando de um hospital. “Arrumei um problemão”, disse Armôa.
Armôa e a juíza realizavam um despacho virtual, na quinta-feira (10). Trata-se de um atendimento por videoconferência, que permite que o advogado converse com o magistrado sem precisar de agendamento.
As imagens obtidas pelo g1 mostram o momento em que a juíza percebe que Armôa está sem camisa e encerra o atendimento.”É o fim. Está registrando, está gravado, que o senhor veio despachar com uma juíza de direito sem camisa. Isso é inadmissível”, afirmou ela.
Durante a bronca, Armôa disse “me perdoe” à juíza. Em seguida, a magistrada determinou que fosse expedido um ofício à Ordem dos Advogado do Brasil (OAB), veiculando o vídeo para que, ainda de acordo com ela, as medidas cabíveis fossem tomadas em relação a conduta do advogado.
Armôa explicou ao g1 que está afastado do trabalho por conta de um problema renal, mas continua instruindo os funcionários do escritório. De acordo com o advogado, o link do despacho caiu no lixo eletrônico do e-mail dele e a Vara Criminal entrou em contato por um aplicativo de mensagens.
Ele explicou que acessou o link para avisar que não tinha condições de fazer o despacho. Porém, ao ficar online, não teve oportunidade de se explicar porque logo a juíza começou a falar sobre ele estar sem camisa. “Ela me julgou e desligou na minha cara a videoconferência […]. Eu não tive direito de nada. Na verdade, eu não ia despachar com ela daquele jeito”, afirmou Armôa.
O advogado encaminhou à reportagem a justificativa e um atestado médico, também enviados à Vara Criminal de São Sebastião. Segundo o documento, o advogado estava com crises frequentes de cólica renal e foi atendido com urgência na quarta-feira (9). O laudo apontava que ele precisava de 20 dias de repouso absoluto.
O que diz a OAB?
Em nota, o presidente da OAB Santos, que é a subseção da inscrição de Armôa, Raphael Meirelles afirmou que desconhece a denúncia do caso, que chegou de forma inesperada pela equipe de reportagem.
“Nossa instituição zela para que a relação, entre os atores do Judiciário e da Advocacia, precisa ter o devido respeito, incluindo a indumentária e comportamento de lado a lado”, afirmou o presidente.
A OAB São Paulo, seccional da inscrição do advogado, também enviou uma nota ao g1 e explicou que apura toda e qualquer infração que chega ao conhecimento do órgão.
No entanto, a OAB afirmou não ter permissão para divulgar as providências adotadas até que haja decisão condenatória irrecorrível que tenha penalizado o advogado com suspensão ou exclusão dos quadros do órgão. Isto ocorre, de acordo com a OAB, porque os processos são sigilosos.
João Manoel Armôa
O advogado João Manoel Armôa Junior já foi preso pela Polícia Federal (PF), suspeito de envolvimento com quadrilha de tráfico internacional de drogas, no dia 16 de setembro de 2022, em Santos, no litoral de São Paulo.
Segundo a PF, o advogado estaria participando ativamente de atividades criminosas desenvolvidas por Vinicyus Soares da Costa, conhecido como Evoque. Durante investigação, apontou-se que João Manoel teria comunicado o amigo sobre uma apreensão de droga, e estaria presente durante uma negociação de propina.
Armôa foi levado para o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, sendo liberado após decisão da Justiça Federal de Santos em 30 de março de 2023.