O delegado Rivaldo Barbosa, um dos réus no processo que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, volta a depor nesta sexta-feira (26) no Supremo Tribunal Federal (STF).
Rivaldo responde a perguntas das assistentes de acusação que representam as famílias de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além dos advogados dos outros 4 réus.
“Sou uma vítima das mentiras do Ronnie Lessa. Aliás, hoje eu vejo que todos nós somos: Eu, Chiquinho (deputado federal) e o Domingos (Brazão)”, disse Rivaldo.
Todos os citados pelo delegado são apontados como responsáveis por mandar e planejar a morte de Marielle Franco.
Nesta quinta-feira (24), o delegado respondeu a perguntas do desembargador Airton Vieira, que conduz as audiências, e do promotor Olavo Pezzotti, que representa a Procuradoria Geral da República.
Em pouco mais de 5h de audiência, o delegado tentou esclarecer as acusações e apontou Cristiano Girão como o possível mandante do crime e não o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) e seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Papel do delegado no crime, segundo a PF
Após a delação do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do assassinato, a Polícia Federal concluiu que Rivaldo já tinha uma “relação indevida” com os mandantes – segundo a corporação os irmãos Brazão – antes mesmo do crime.
De acordo com a ordem de prisão, “se verifica claramente que o crime foi idealizado pelos dois irmãos e meticulosamente planejado por Rivaldo”.
“E aqui se justifica a qualificação de Rivaldo como autor do delito, uma vez que, apesar de não ter o idealizado, ele foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências”, diz o relatório da PF.
Segundo a investigação, Rivaldo exigiu que Marielle não fosse morta entrando ou saindo da Câmara. “Tal exigência tem fundamento na necessidade de se afastar outros órgãos, sobretudo federais, da persecução do crime”, diz a PF.
A polícia concluiu também que, durante o tempo em que chefiou a polícia, o delegado buscava “desviar o foco da investigação daqueles que são os verdadeiros mandantes”.
Rivaldo negou todos os pontos e disse que Ronnie Lessa o apontou por estar com “ódio da sua prisão”. O delegado lembrou que foi o então titular da Delegacia de Homicídios, Giniton Lages que prendeu Lessa em março de 2019.
“Ele me ligou a Giniton por ódio de sua prisão. Fui eu que coloquei o Giniton lá por isso ele me apontou”, afirmou. E complementou dizendo que Lessa protegeu Cristino Girão.
“Cristiano Girão, miliciano, dominava a Gardênia Azul. Quando ele foi preso, após a CPI das Milícias, em 2008, quem dominava a comunidade era o Robocop (o ex-policial civil Wallace de Almeida Pires, morto em julho de 2019) e Ronnie Lessa. Agora, a Delegacia de Homicídios não investiga crime organizado”
Em outro momento do depoimento, nesta quinta-feira, Rivaldo disse não se lembrar da destruição e sumiço de um inquérito em que envolvia o capitão Adriano da Nóbrega em um assassinato. De acordo com as informações da PF, o documento teria sido deixado debaixo de uma goteira na DH.
“Que tinha infiltração na delegacia, tinha. Lembro das infiltrações, mas não de ter danificado um inquérito”, explicou Rivaldo.
O que diz a defesa de Girão
Em nota, o advogado Zoser Hardman, que defende Cristiano Girão, explicou que as acusações contra o seu cliente fazem parte de estratégia de defesa:
“É natural que a estratégia de defesa dos acusados de serem os mandantes da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes seja tentar desqualificar o depoimento do delator e atribuir a responsabilidade do mando a outra pessoa.
Porém essa tese não faz o mínimo sentido, pois Cristiano Girão não conhece Ronnie Lessa, nunca o viu pessoalmente e não é crível que ele prefira delatar um Deputado Federal, um Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e o ex-chefe de Polícia Civil para proteger um ex-vereador que perdeu seu mandato em 2010 e não mora mais no Estado do Rio de Janeiro desde o ano de 2015.
Devemos lembrar que Cristiano Girão foi profundamente investigado, teve sua vida devassada e nenhum indício foi encontrado, apesar de todo o esforço feito pela Divisão de Homicídio na época para “encontrar” um mandante para o caso Marielle”.
Interrogados pelo STF
Os depoimentos começaram na segunda-feira (21). O primeiro a ser ouvido foi o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) que falou por dois dias.
Na quarta-feira (23), foi a vez do conselheiro do TCE Domingos que se emocionou logo no início do relato ao STF ao lembrar da família. O deputado Chiquinho acompanhava o depoimento de Domingos, por videoconferência, e também foi às lágrimas ao ver o irmão em prantos.
Após Domingos Brazão, na quinta-feira (24) foi a vez do Rivaldo Barbosa.
Prestarão ainda depoimento, o assessor de Domingos Brazão, o ex-PM Robson Calixto, conhecido como Peixe, e o major da PM, Ronald Paulo Alves Pereira.
A previsão é de que o depoimento de Peixe comece ainda nesta sexta-feira e o do major Ronald apenas na segunda-feira (28).