A vida de Adriano Imperador virou livro. A biografia “Adriano – meu medo maior”, chega às livrarias nesta segunda-feira, 11, e mergulha nas origens humildes do ex-jogador de futebol, criado na comunidade da Vila Cruzeiro, no Rio.
No livro, escrito pelo jornalista paulista Ulisses Neto, Adriano fala sobre alcoolismo, depressão e quase ida à reabilitação. Veja trechos:
Alcoolismo
“Eu chegava em casa e arrumava qualquer motivo para beber. Ou era porque meus amigos estavam lá, ou era porque eu não queria ficar no silêncio pensando merda, ou era para conseguir dormir. Deitava apagado em qualquer canto sem ter nem condição de sonhar. Muita gente usa o futebol como válvula de escape, eu precisava de um escape do futebol. Esse escape era a minha família. Meu pai. Quando olhei, ele não estava mais ali. Uma coisa levou a outra, e a bebida se tornou a minha companheira. Continuei chegando atrasado nos treinos. O clube tentava passar um pano na imprensa, eu recebia as multas no meu salário e nem me importava mais. Era tanta grana que eu ganhava, cara. A primeira multa dói. A segunda, tu fica puto. Na terceira, você já nem liga. E isso vale para os dois lados…”.
Acima do peso
“Eu nunca quis prejudicar ninguém, isso é importante que fique claro. Tudo que fiz foi porque eu não consegui tomar outro caminho… Terminei a temporada acima do peso outra vez. Sofri com algumas lesões durante o ano. Minhas costas doíam. Doem neste momento, para ser sincero. Convivo com este problema. Não fui convocado para a Copa América de 2007. Tudo reflexo da vida que eu estava levando… O que eu não sabia é que a paciência de alguns dentro do clube já tinha chegado no limite. Os caras estavam se movimentando para me despachar, mano. Sério. Vieram com conversa de me emprestar…”
“Comecei a sentir o cheiro de arroz queimado. Conversei com o meu procurador. A verdade é que eu não via saída para o que estava acontecendo. Até que veio mais uma paulada: o Mancini me deixou de fora da lista de jogadores da Inter que disputariam a Champions League. Falou na imprensa que o time tinha outras opções no ataque, eu não era uma delas… Saí do treino um dia e encontrei o meu procurador conversando com o Branca e com o doutor Combi. O clima estava pesado. “Adriano, o pessoal aqui está desconfiando de você. Estão preocupados com doping”, meu procurador disse… Saí do treino um dia e encontrei o meu procurador conversando com o Branca e com o doutor Combi. O clima estava pesado. “Adriano, o pessoal aqui está desconfiando de você. Estão preocupados com doping”, meu procurador disse…”
“Estufei o peito e levantei a cabeça. “Boato de que, cara? Fala logo. Tu tá achando que eu uso droga?”, respondi olhando de cima pra baixo. A sobrancelha estava arqueada. “Adri, veja bem. Estamos preocupados com você, é só isso”, o doutor Combi falou. “Preocupados é o c… Faz a p…do exame, então. Pode fazer agora. Mas faz aquele do cabelo, que pega de vários meses pra trás”, eu falei. Bom, eu estava a um triz de perder a cabeça, cara. Foi quando o tal do diretor fez uma piadinha que caiu muito mal. “Poxa, Adri. Vamos fazer exame de cabelo contigo como se você é careca?”, ele falou. Malandro, minha vontade era de abrir a mão e dar uma chapada na orelha do filho da mãe. Sem sacanagem. Diz aí, Hermes. Conta pra eles como eu fico quando estou puto. Enfiei a mão dentro da calça. Agarrei meu saco. Arranquei um tufo de pentelho e por pouco não esfreguei na cara dele. Pode ligar para o Gilmar pra perguntar se eu tô mentindo. “Faz exame com esse cabelo aqui então, cara. Acho que vai ser o suficiente”, eu disse, balançando os meus p…no meio do CT…
Depressão
“Minha depressão tinha chegado a um nível que eu não gosto nem de lembrar”.
“Nada mais funcionava. Uma coisa leva a outra, negão. Pra jogar bem, eu precisava de sequência, e eu não tive isso. Para ter sequência, eu tinha que treinar bem, e eu não conseguia manter o foco por muito tempo. Para não beber e não ir para a balada, eu tinha que estar com a cabeça no lugar. E sem jogar nem fazer gol era impossível. Tá entendendo o tamanho da cagada? Uma coisa estava ligada a outra…
Clínica de reabilitação
“Adri, antes de mais nada, eu quero te dizer uma coisa. O que está acontecendo com você não é motivo de vergonha. Já aconteceu e acontece com muita gente”, o Moratti disse daquele jeito sereno e elegante dele. “Eu quero te dar uma sugestão. Nós gostaríamos de te mandar para um lugar muito especial”, ele seguiu. Eu olhei para a minha mãe. Ela arregalou os olhos. Pegou na minha mão. “O doutor Combi vai te explicar os detalhes, para você entender. Ele vai te explicar sobre esse lugar que fica na Suíça. É uma clínica com discrição… Neguinho… eu não entendia aquela conversa”.
O que eles estavam pensando em fazer? Isso mesmo. Queriam me internar. Falaram que eu deveria passar um tempo numa clínica de reabilitação na Suíça. Eu estava deprimido e não tinha noção das coisas direito. Eu não entendia o que eles estavam falando. Que p…de ideia era aquela de me internar? “Eu não sou maluco, presidente. Com todo o respeito. Por que vocês estão querendo me mandar para um manicômio?”, eu falei. Comecei a me alterar na reunião. Aquela ideia era absurda. Tu já viu isso? Jogador internado em clínica de reabilitação? Puta merda…”