A Coleção Perseverança, um acervo de 211 objetos sagrados que resistiram ao violento episódio do Quebra de Xangô, em 1912, acaba de receber seu tombamento definitivo pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o tombamento, a coleção se consolida como um dos mais importantes acervos de arte sacra do Brasil e será registrada nos Livros de Tombo das Belas Artes, Histórico, e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, assegurando sua preservação e reconhecimento cultural.
Com o novo status, a Coleção Perseverança passa a ser protegida não apenas em âmbito estadual, como ocorreu desde 2013, mas também em nível nacional, sob a guarda do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), onde se encontra desde 1950. Agora, como um bem cultural oficialmente tombado, a coleção está sob uma série de novas garantias de proteção e será alvo de políticas específicas de preservação e conservação promovidas pelo Iphan.
Segundo a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas, Melina Freitas, o reconhecimento é uma conquista histórica.
“O tombamento da Coleção Perseverança é um marco para a preservação da nossa história. O acervo reflete a resistência e fé das comunidades de matriz africana em Alagoas e ressalta a importância de salvaguardar e valorizar nosso patrimônio cultural para as futuras gerações”, comentou.
Preservação e valorização
A partir do tombamento definitivo, a Coleção Perseverança receberá um tratamento especial que garantirá sua preservação e valorização cultural. Esse reconhecimento implica uma série de proteções e responsabilidades, incluindo a proteção legal dos objetos, que agora são resguardados contra qualquer forma de destruição, exportação ou modificação que possa comprometer seu valor histórico e cultural.
O Iphan, em conjunto com o IHGAL e outras instituições, realizará ações de monitoramento e conservação preventiva, assegurando a integridade das peças através de inspeções regulares. Além disso, a coleção ganhará maior visibilidade em atividades culturais e educativas, promovendo a compreensão do valor etnográfico e histórico da cultura afro-brasileira. O acervo também servirá como uma fonte importante para estudos acadêmicos, incentivando pesquisas que aprofundem o conhecimento e difusão do patrimônio cultural afro-brasileiro.
Participação social no processo de tombamento
O processo de tombamento contou com uma ampla participação social, através de um Grupo de Trabalho (GT) formado por lideranças do Povo de Santo, técnicos do Iphan-AL e outras entidades culturais. Com metodologias participativas, os religiosos puderam atribuir significados culturais aos objetos e estabelecer diretrizes para a preservação da coleção. Um dos frutos desse processo foi a Exposição Fotográfica da Coleção Perseverança, que circulou em terreiros e espaços institucionais, promovendo o acervo como um ícone de resistência e fé.
O tombamento da Coleção Perseverança se une a outros reconhecimentos de relevância cultural, como a Serra da Barriga, em União dos Palmares, os registros da Roda da Capoeira e do Ofício dos Mestres de Capoeira, contribuindo para fortalecer e proteger as manifestações culturais de matriz africana no Brasil e em Alagoas.