PM que executou homem negro em frente a mercado foi reprovado em exame psicológico por descontrole emocional

Apesar de ter sido reprovado na primeira tentativa, Vinicius de Lima Britto foi aprovado numa segunda tentativa, em 2022. Ele também está envolvido na morte de dois homens em São Vicente em 2023.

Vinicius atirou em jovem negro pelas costas após furto em mercado na Zona Sul de SP — Foto: Reprodução

O policial Vinicius de Lima Britto, que executou pelas costas um jovem negro em frente a um mercado Oxxo na Zona Sul de São Paulo em 3 de novembro, foi reprovado no exame psicológico do concurso da Polícia Militar em 2021, quando tentou ingressar na corporação pela primeira vez.

Segundo o resultado da avaliação, Vinicius apresentou “inadequação” aos critérios exigidos no perfil psicológico para o cargo de soldado nos seguintes requisitos:

relacionamento interpessoal adequado;
capacidade de liderança;
descontrole emocional.

O concurso público para o cargo de Soldado PM de 2ª Classe na PM é formado por seis etapas: exames de conhecimento, de aptidão física, de saúde, psicológicos, avaliação da conduta social, da reputação e da idoneidade e análise de documentos. A avaliação psicológica é um critério eliminatório e realizada por uma banca examinadora.

Após ser reprovado, Vinicius entrou com uma liminar contra a Fazenda Pública de São Paulo para contestar o resultado. Na petição, o advogado Luiz Lello apontou ilegalidade na avaliação psicológica, justificando que o processo “está calcado em parâmetros de avaliação de natureza puramente subjetiva”. Também alegou que os motivos da desqualificação não foram informados ao candidato.

A defesa ainda solicitou reintegração ao concurso, produção de nova avaliação psicológica com um perito e indenização por danos morais no valor de 100 salários mínimos.

Na sentença de agosto de 2022, a juíza Lais Helena Bresser Lang, da 2ª Vara de Fazenda Pública, julgou improcedente o pedido e extinguiu o processo. Segundo a magistrada, a exclusão de Vinicius do concurso é legal, já que ele foi considerado inapto para o trabalho no momento da avaliação.

Diferentemente do que é apontado pela defesa, a juíza explicou que o laudo psicológico que o desclassificou apresentou sua metodologia pautada em critérios técnicos e foi produzido por profissionais capacitados.

A magistrada ainda ressalta que, no teste, Vinicius apresentou descontrole emocional, impulsividade, “tendendo agir fortemente por meio de condutas instáveis e imprevisíveis” e “podendo agir sem tanta reflexão diante de inesperadas”.

“Para o desempenho da função policial, é imprescindível que o profissional tenha habilidade para reconhecer as próprias emoções, diante de um estímulo qualquer, antes que as mesmas interfiram em seu comportamento, controlando-as, a fim de que sejam manifestadas de maneira adequada no meio em que estiver inserido, bem como que saiba direcionar a sua energia agressiva, adequadamente, para a superação de obstáculos, mostrando autocontrole necessário frente às situações inesperadas, que são inerentes ao dia a dia da atividade policial-militar, e, principalmente, nos relacionamentos, já que irá deparar-se com momentos de tensão em que raiva e brigas poderão estar presentes, devendo então pensar bem sobre suas ações antes de agir”, diz a juíza.

“A inaptidão acusada nos exames psicológicos não pressupõe a existência de transtornos mentais ou a inaptidão do autor para outras funções e atividades, indicando, tão-somente, que o candidato não atendeu, à época dos exames, aos parâmetros exigidos para o exercício das funções de Soldado PM 2ª Classe”, finaliza.

Cerca de três meses após a extinção do processo, Vinicius foi aprovado em um segundo concurso para soldado da Polícia Militar em novembro de 2022.

Questionada sobre o motivo pelo qual Vinicius conseguiu ser aprovado, a Secretaria da Segurança Pública não respondeu até a última atualização desta reportagem.

Até a última atualização desta reportagem, a defesa de Vinicius não foi localizada.

Mortes em São Vicente
A execução de Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, assassinado com mais de dez tiros pelas costas no estacionamento do mercado, não é o único episódio letal na carreira de Vinicius de Lima Britto como policial.

Ele também é investigado pela morte de dois homens em São Vicente, no litoral de São Paulo. A informação foi divulgada inicialmente pelo site “O Joio e O Trigo” e confirmada por fontes da g1 e GloboNews.

Na madrugada de 18 de dezembro de 2023, Vinicius estava em um carro, e o amigo Davi dos Santos de Souza, que também é policial, estava de moto, quando foram abordados por dois homens em uma motocicleta. Os PMs estavam acompanhados das namoradas.

Quando Matheus Quintino e Davi Emanoel Braz Ferreira anunciaram o assalto, Vinicius reagiu e atirou diversas vezes. Ambos morreram no local. Na época, o PM alegou legítima defesa. Segundo o inquérito policial, a dupla tinha antecedentes criminais, inclusive por tentativa de homicídio contra policiais.

Execução no mercado
Câmeras de segurança registraram o momento em que Gabriel Renan da Silva Soares é executado por Vinicius em frente ao mercado Oxxo, no bairro Jardim Prudência, na Zona Sul de São Paulo, em 3 de novembro. O jovem é acusado de furtar quatro pacotes de sabão.

No depoimento na delegacia, o PM disse que Gabriel estava armado e com a mão no bolso do moletom, razão pela qual ele atirou. Vinicius alegou que agiu em legítima defesa. Contudo, não é o que as imagens mostram.

Pelas imagens, obtidas pelo g1, Gabriel vestia um moletom vermelho com capuz, quando entrou no mercado às 22h44. Em seguida, ele andou até a seção de limpeza, onde pegou quatro produtos. Na fuga, ele escorregou num pedaço de papelão na porta do estabelecimento e caiu no chão do estacionamento.

O policial estava no caixa pagando pelas compras, quando percebeu a ação. Vinicius sacou a arma e atirou várias vezes pelas costas de Gabriel, que tentava fugir. O jovem morreu no chão do estacionamento. Segundo o boletim de ocorrência, foram encontradas 11 perfurações pelo corpo dele.

Fonte: g1

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