Motorista de ônibus há 35 anos – cinco deles atendendo os campi da Universidade Federal do ABC (UFABC), na Grande São Paulo – José Renovato da Silva, de 75 anos, foi surpreendido no último dia de trabalho antes da aposentadoria com uma homenagem dos estudantes que viralizou nas redes sociais.
Quase 400 alunos da entidade se uniram para fazer uma grande vaquinha e homenagear o motorista, que pendurou as chaves do ônibus para, segundo ele, “finalmente curtir a vida e cuidar da saúde”.
O que era uma iniciativa entre poucos alunos para comprar uma camisa oficial do Corinthians – time do coração do José – virou uma grande mobilização dos estudantes para agradecer os serviços prestados pelo motorista nos últimos anos.
“O Zé é uma pessoa muito querida e gentil entre todos os alunos da UFABC. Mas a gente não imaginava que tanta gente gostava dele assim. A ideia era comprar apenas a camisa, juntando cinco ou dez pessoas pra arrecadar os R$ 300 pra comprar. Fizemos um textinho e espalhamos pelos grupos da faculdade e quase 400 alunos participaram”, contou o estudante de economia, Fabrício Severino, um dos organizadores da homenagem.
Segundo Fabrício, cada aluno deu cerca de R$ 5 a R$ 10, para o presente que acabou ganhando enorme adesão na faculdade.
“A gente arrecadou quase R$ 4 mil e demos o resto pra ele como forma de gratidão. Ele era um dos últimos motoristas do fretado da faculdade. Fazia o ônibus das 23h17 que deixava o campus. Ficamos com ele praticamente até a última virada de chave. Foi uma forma de gratidão por toda a gentileza e dedicação ao longo desses quase cinco anos que nos ajudou tanto”, contou o estudante.
A entrega do presentão foi feita na sexta-feira, 29 de novembro, último dia de trabalho de José Renovato na empresa Grandino, onde trabalhou nos últimos vinte anos.
Por volta de 21h, um grupo grande de alunos se reunião no ponto final habitual dos alunos em São Bernardo do Campo e entoaram cantou em homenagem ao motorista.
Em conversa com o g1, Renovato disse que o mimo inesperado foi “a maior homenagem que já recebeu na vida”.
“Eu nunca recebi um reconhecimento desse na minha vida. Foi a maior homenagem que já recebi. Até agora a ficha não caiu, porque eu não imaginava que era tão querido pelos estudantes dessa forma. A sensação até agora é de uma lua de mel que não acaba”, afirmou.
José Ronavato também que foi surpreendido com os cânticos e os alunos reunidos, tirando fotos com ele, no último dia de trabalho.
“Eu cheguei no ponto e via aquele tanto de gente reunida e pensei: ‘será que eles voltaram a fazer pancadão na frente da universidade? Tinha sido proibido. Mas quando parei o ônibus, eles vieram pra cima cantando e vi que era comigo. Meu coração disparou. Foi uma emoção tão forte dentro de mim que só Deus sabe. Uma gratidão que nem consigo dizer em palavras…”, afirmou.
“Sempre procurei fazer meu trabalho de forma correta, com gentileza e dedicação nas empresas que trabalhei. Já ganhei brindes e tapinhas nas costas. Mas nunca um presente desse tamanho. Pra mim é algo inesquecível que dá até saudades da molecada. Sei que fiz parte da vida de muitos deles como estudantes e hoje eles fazem parte pra sempre da minha vida, com essa homenagem tão linda. Nunca reconheceram meu trabalho desse jeito tão carinhoso”, comentou.
“Depois da homenagem a gente refletiu e, pelos depoimentos dos alunos, vimos que o Zé era de uma gentileza que a gente nem imaginava. Ele ajudava os alunos como podia, fazia piada, as vezes parava fora do ponto à noite pra ajudar os alunos a chegarem em segurança em casa. Atrasava a saída para que todos conseguissem embarcar. Foi uma homenagem merecidíssima”, disse o outro coordenador da homenagem, Carlos Anselmo, estudante do 3° ano do curso de Economia.
Aposentadoria
Com sete filhos e seis netos, José Ronavato deixou a empresa para finalmente “aproveitar a vida e cuidar da saúde”. Depois de descobrir que teve dois AVCs sem saber.
“Depois de 75 anos, não vou mais ‘enricar’. É hora de curtir um pouco a vida, cuidar da minha saúde e dos meus netos. Há um ano que não via quatro deles que moram no interior. Como disse a minha filha, hora de viajar com a minha esposa e aproveitar enquanto a vida ainda me sorri. Mas vou levar esses meninos e meninas pra sempre no meu coração, como se fossem alguém da minha família”, desabafou, emocionado.
O motorista ganhou a camisa 02 do Corinthians, que é o número da linha que dirigia entre São Bernardo e Santo André. Depois de receber o presente, todos os alunos quiseram tirar foto com ele.
“Me senti aquele jogador holandês do Corinthians – o Memphis Depay – de tanto carinho”, brincou.