Com disparada do dólar e leilões do BC, reservas internacionais do Brasil caem 7,1% em 2024

Queda foi de US$ 25,3 bilhões em relação ao patamar de 2023 (US$ 355 bilhões); BC leiloou US$ 20 bilhões no mercado à vista no fim do ano por conta da forte saída de recursos do país.

Após forte alta do dólar, o Brasil fechou o ano de 2024 com US$ 329,7 bilhões em reservas internacionais – uma “poupança” que o governo faz em moedas estrangeiras, e que funciona como um seguro contra crises externas.

O número representa uma queda de 7,1%, ou US$ 25,3 bilhões, em relação ao patamar do ano anterior (US$ 355 bilhões).

O recuo das reservas em 2024 está relacionado, principalmente, com a venda de dólares pelo Banco Central no fim do ano – ao todo, foram US$ 20,07 bilhões injetados no mercado à vista.

Além disso, também foi contabilizada a venda de outros US$ 15 bilhões por meio dos chamados leilões de linha, que são um tipo de empréstimo. Nesse caso, porém, os valores retornam posteriormente para as reservas cambiais.

A escalada da moeda norte-americana em 2024 é resultado de uma série de fatores externos e internos, como conflitos internacionais, nível de juros nos Estados Unidos, eleição de Donald Trump e expectativas em torno das contas públicas brasileiras.

A disparada do dólar: entenda o salto de R$ 5,67 para o recorde de R$ 6,09 em apenas um mês
Especialmente no fim do último ano, os holofotes ficaram com o quadro fiscal do Brasil, em meio a receios do mercado financeiro sobre a efetividade do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo no fim de novembro.

Colchão contra choques externos

As reservas internacionais, ou cambiais, são um volume de dólares que o país tem em caixa.

´Esses recursos ficam aplicados fora do país, em ativos considerados seguros, geralmente em títulos do tesouro norte-americano.

A vantagem de ter esses dólares guardados é que isso dá garantias contra eventuais crises no mercado internacional, como a da Rússia em 1998, ou eventuais retiradas de recursos por investidores.

Com os dólares, o país tem mais autonomia e não fica dependente, por exemplo, de empréstimos externos como os do Fundo Monetário Internacional (FMI) – buscado recentemente pela Argentina.

O governo acumula a moeda norte-americana de três formas:

  • comprando dólares no mercado,
  • recebendo por suas aplicações (geralmente em títulos do Tesouro norte-americano), ou
  • fazendo emissões de títulos da dívida pública no mercado internacional.

Alguns analistas apontam, entretanto, que as reservas muito altas também representam um peso para a sociedade. Como são aplicadas em investimentos no exterior, que rendem juros muito mais baixos do que aqueles que governo paga ao emitir papéis no mercado interno (dentro do Brasil), há um chamado “custo de carregamento”.

Segundo Sérgio Gobetti, economista do IPEA, esse custo de carregamento no Brasil é de cerca de R$ 40 bilhões por ano.

“O ataque especulativo que vivemos no Brasil abriu uma ótima janela de oportunidade para o BC lucrar vendendo dólares”, avaliou, por meio de rede social. Essa venda de dólares, por sua vez, pode reduzir a dívida pública.

Câmbio flutuante

A administração da política cambial é uma atribuição do Banco Central, que possui autonomia legal desde 2021.

Dentro de uma política de livre flutuação do real, a instituição tem esclarecido que intervêm no câmbio somente em momentos específicos: para evitar movimentos bruscos no dólar, quando há uma falta de divisas no mercado ou quando vê algum tipo de distorção na formação de preço, por exemplo.

No fim do ano passado, o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que a instituição resolveu vender dólares porque houve uma saída atípica de recursos do país naquele momento. E reiterou que não ha defesa de preço do dólar por parte do BC.

“Mas há a percepção que, se o BC não atuar, pode haver uma disfuncionalidade de preços [no dólar]. Para isso que existem as reservas”, concluiu Campos Neto, que foi substituído por Gabriel Galípolo no começo de 2025.

O novo presidente do BC avaliou, em dezembro, que não houve um “ataque especulativo”, com a subida do dólar, no fechamento do último ano.

Fonte: g1

Veja Mais

Deixe um comentário