Os brasileiros ficaram com a sensação de que os preços subiram mais no ano passado que nos anos anteriores. E esse sentimento foi real: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2014 em 6,41%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (9). Foi a maior taxa desde 2011. Os maiores impactos vieram dos preços dos alimentos e de habitação.
A diarista Cláudia Silvério, que tem 43 anos e mora em São Paulo, diz que sentiu no bolso a alta do custo de vida e precisou apertar os cintos. Mesmo aumentando a renda com trabalhos temporários ao longo do ano, ela aponta 2014 como “um dos piores anos” para a saúde financeira de sua casa, onde mora com o filho Wesley, de 21 anos. “Em 2014 ganhei um pouco a mais, mas o gasto subiu mais que ganho”, conta.
O grande vilão nas contas da família de Cláudia foi o aluguel, que passou de R$ 760 para R$ 1.198. “O aluguel foi um estrondo. Em setembro aumentou, ou eu ficava ou saía para outro apartamento. Como a maioria é caro assim e tem que pagar os três meses adiantados, ia sair mais caro do que continuar aqui”, lembra ela. Um dos motivos para o aumento foi a alta do condomínio, que está incluso no valor.
Outro gasto que cresceu foi a conta de luz, mesmo Cláudia tentando diminuir o consumo. “Antes vinha perto de R$ 80, agora está vindo até R$ 100. O dia inteiro a casa fica sozinha, e mesmo assim é alta a minha conta, e sem aumentar o consumo. O chuveiro, por exemplo, agora está ajustado no ‘morno’ e tem ficado menos tempo ligado por causa da crise da água em São Paulo. E mesmo assim a conta aumentou”, reclama ela, mostrando a conta de janeiro, de R$ 91. “O consumo de luz mesmo é pouco, mas aí cobram os impostos e quase dobra a conta. Só de ICMS veio R$ 21”, exemplifica.
A conta do gás encanado também aumentou. O valor costumava girar em torno de R$ 16 em 2013, e passou para cerca de R$ 25 no ano seguinte, aponta Cláudia.
Além disso, outra má surpresa do ano foi a perda de emprego de Wesley, que deixou o posto em uma loja de sapatos para trabalhar em um banco, de onde mais tarde foi dispensado. Após alguns meses sem serviço, ele voltou para a loja como funcionário temporário durante a época de Natal.
Cortes nos gastos
Para compensar as despesas a mais, Cláudia cortou gastos com roupas e sapatos. E não foi a única. Segundo a Serasa Experian, o movimento dos consumidores nas lojas em 2014 teve o menor ritmo de crescimento da atividade varejista em 11 anos, com alta de 3,7%.
Cláudia também passou a economizar no supermercado, deixando de lado as compras em grandes quantidades para ir atrás dos produtos em oferta. “Está tudo muito caro. Procuro comprar só quando está em promoção. Se anuncia que está em oferta, vou lá e compro. Ir ao mercado para fazer compra do mês não existe mais”, conta ela, acrescentando que passou em 2014 a ganhar cesta básica em uma das casas em que trabalha. “Isso ajudou. Eu comprava cinco quilos de arroz, agora de vez em quando eu compro um ou dois. Óleo não preciso mais comprar.”
Comer fora passou a ser raridade para Cláudia e Wesley em 2014. “Só como o que eu faço em casa”, diz a diarista, que leva marmita para o trabalho. “Pizza, então, faz muito tempo que não compro uma. De fim de semana às vezes eu tinha essas regalias. Com o Wesley empregado, ajudava um pouco. Aí ele ficou desempregado. Faz uns 6 meses que eu não compro uma pizza”, diz. “Em 2013 eu lembro que tinha fim de semana que eu comprava comida e não precisava fazer almoço, ou ia em restaurante japonês”, compara.
Outro corte foi o serviço de TV a cabo. “No condomínio não tem como ticar sem TV a cabo porque não tem parabólica. Mas tentei baixar o máximo que pude o valor. A minha conta diminuiu R$ 50 depois que eu tirei os canais de filme – que aliás era o que mais me interessava”, lamenta.
“2014 foi o pior ano pra mim em 5 anos, as coisas estão muito caras”, resume Cláudia.