Revista feita por detentos fala sobre ex-jogador preso

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Quando criança, o detento Andrey Leonardo, 32 anos, sonhava em ser jogador de futebol. No final da década de 90, já na adolescência, ele se destacava nas categorias de base e procurava uma chance nos clubes mais tradicionais de Minas Gerais, como Atlético, Cruzeiro, América e Villa Nova. Conseguiu chegar ao profissional para defender equipes menores do interior do Estado, mas veio a idade adulta e o envolvimento com as drogas, que o forçou a interromper a trajetória como atleta.

"Em concentração você conhece muitas pessoas boas, mas também tem esse lado da droga. Eu acabei conhecendo essas pessoas, por curiosidade acabei usando e me viciando", recordou. A opção pela criminalidade fez com que, hoje, Andrey cumpra pena de 7 anos por tentativa de homicídio na Associação de Proteção ao Condenado (APAC) de Itaúna, cidade que fica a 100 km de Belo Horizonte.

A história do ex-atacante é o destaque da primeira edição da revista A Estrela, produzida por detentos. O projeto, pioneiro entre as APACs do Estado, levou aos presidiários a oportunidade de aprender e a produzir uma publicação. Eles contaram através de texto e fotos trajetórias de vida deles próprios, como Andrey, que está há dois anos e oito meses detido na APAC de Itaúna: "A vida da gente é um livro, né? Cada um constrói a sua história. E, como diz a revista, eu vim construindo uma história no futebol e acabei preso. É uma historia que fica em branco na vida da gente. A gente não consegue escrever nossa história, privado da liberdade", avaliou.

A presidente da APAC de Itaúna, Lídia Moraes de Souza, apoiou a iniciativa e percebeu que o interesse dos condenados foi grande. "Para os recuperandos foi uma alegria muito grande. Deu pra perceber no rosto de cada um tirando as fotografias, contando a sua história. O ambiente ficou bem melhor", comentou.

Para Wesclei Mariano Lopes, 23 anos, que está preso por tráfico de drogas e trabalha na cozinha da instituição, participar do curso e aprender a fotografar foi um desafio. "Me motivou com certeza, é oportunidade. Conhecimento nunca é demais. Quem sabe um dia eu possa aprender essa nova profissão", afirmou.

Já para Flávio Pereira Vilela, que cumpre pena por homicídio e está detido há cinco anos, o projeto o ajudou a sair da rotina. "Já tinha feito outros cursos, mas este de fotografia me interessou bastante. Pude perceber que o trabalho é mais difícil do que eu pensava. E a gente se sente um pouco livre quando faz esse tipo de trabalho, sai um pouco da rotina", contou.
A oportunidade de agregar novos conhecimentos traz esperança aos internos. Tanto para Flávio e Wesclei que produziram o conteúdo da revista, quanto para Andrey, que foi um dos personagens, a experiência de lembrar da vida do lado de fora da cadeia foi a mesma. "A gente vê através da revista que ainda temos valor. E, mesmo tendo cometido alguns erros, eu construí uma boa história no meu passado. Essa revista me fez lembrar com carinho dos tempos que eu estava no auge, que as crianças queriam entrar comigo no campo. Essas imagens, eu já tinha apagado da minha mente", recordou Andrey.

Fonte: Terra

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