O presidente Barack Obama declarou o fim da "abordagem ultrapassada" dos Estados Unidos a Cuba nesta quarta-feira (17), anunciando o restabelecimento de relações diplomáticas, bem como os laços econômicos e de viagens para a ilha – uma mudança histórica na política dos EUA, que visa pôr fim a um meio século de inimizades da Guerra Fria.
Isolamento nunca funcionou", disse Obama durante discurso na Casa Branca. "É hora de uma nova abordagem".
Enquanto Obama falava, o presidente cubano Raúl Castro também discursava para sua própria nação em Havana. Obama e Castro falaram ao telefone por mais de 45 minutos na terlam, a primeira mudança substancial para as discussões entre EUA e Cuba desde 1961.
Anúncio de quarta-feira foi resultado de mais de um ano de negociações secretas entre os EUA e Cuba. O restabelecimento das relações diplomáticas foi acompanhada pela libertação do americano Alan Gross e de um espião norte-americano feita por Cuba e EUA, que também tinha três espiões presos na Flórida.
Obama afirmou que as relações entre os dois países terão um novo começo a partir de agora. "Estamos tomando medidas para melhorar as relações comerciais e políticas com Cuba", afirmou.
Em discursos concomitantes transmitidos para o mundo todo no início desta quarta-feira, os líderes de Cuba e EUA falaram sobre o embargo da nação americana à ilha caribenha, iniciado em 7 de fevereiro de 1962.
"Pedimos aos EUA para remover os obstáculos que há décadas acabam com os vínculos entre nossos povos", disse o presidente cubano Raúl Castro, citando conversa que teve com Obama na noite anterior, marcando o início das retomada de relações diplomáticas entre os dois países.
"Os progressos alcançados por intercâmbio entre nossos cidadãos e os norte-americanos demonstram ser possível encontrar soluções a muitos dos problemas da atualidade."
Uma fonte norte-americana destacou que o papa Francisco e o Vaticano desempenharam papel fundamental como intermediários para a reaproximação entre os dois países. O papa também enviou carta com um apelo pessoal a Barack Obama e a Raúl Castro, e o Vaticano acolheu delegações dos dois países para finalizar a reaproximação.
Libertação
Alan Gross, preso pelo governo cubano desde 2009, foi libertado nesta quarta-feira (17) como parte de um acordo com Havana e que abre o caminho para uma grande reformulação na política dos EUA em relação à ilha, altos funcionários do governo disseram à CNN.
O ex-espião esteve preso por quase 20 anos no país comunista, disseram funcionários da administração Obama. Gross é um homem não-americano, cuja identidade permanece em segredo de acordo com os funcionários, que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizados a discutir o assunto publicamente.
Crítica
O líder do senado republicano Mitch McConnell criticou os planos da administração de Obama para normalizar os laços com Cuba.
Ele disse que sua opinião não difere de Rubio porque Rubio, um possível candidato presidencial em 2016, conhece bem os problemas cubanos. Ele conversou com a Associated Press nesta quarta.
"El bloqueo"
Conhecido pelos cubanos como "el bloqueo" (o bloqueio), o embargo norte-americano a Cuba foi uma medida adotada pelos EUA no auge da Guerra Fria que interditou totalmente a relação econômica, financeira e comercial entre os dois países, separados por uma fronteira marítima de apenas 535 km.
A medida foi imposta no início dos anos 1960, depois do revolucionário e então recém-empossado líder cubano, Fidel Castro, iniciar uma aproximação com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), representada pela Rússia.
Após uma restrição inicial para a importação de açúcar cubano ao território norte-americano, instituída pelo então presidente dos EUA Dwight Eisenhower em 1960, John F. Kennedy ampliou as restrições para o grau máximo dois anos depois, suspendendo relações de nações anteriormente tão próximas – antes da Revolução Cubana que removeu a ditadura de Fulgencio Batista do poder, Cuba era conhecido como um "quintal dos EUA", onde empresários exploravam seus recursos e as elites passavam temporadas gastando dólares em seus cassinos e hotéis de luxo.
Devido ao aumento da tensão por influência entre soviéticos e norte-americanos, em 1962 Cuba foi protagonista daquela que ficou conhecida como a Crise dos Mísseis.
Em resposta à instalação de mísseis nucleares na Europa e à tentativa dos EUA de derrubarem Castro em Cuba, no ano anterior, os russos colocaram mísseis em território cubano apontados diretamente para os EUA em outubro.
A tensão acabou levando os EUA a impor restrições para viagens de seus cidadãos ao país caribenho, bem como à restrição comercial total entre as nações-membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) com os cubanos. Também colaborou para a assinatura do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, cujo objetivo foi conter a corrida armamentista mundial, em 1968.
O embargo total, no entanto, prosseguiu, com presidentes norte-americanos assinando continuamente sua prevalência ao longo dos anos. Entre eles, o próprio Barack Obama, eleito chefe do Poder Executivo do país em 2008 com a promessa de terminar com o longo bloqueio à nação caribenha, conhecida pelos mais diversos problemas sociais.