O Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HU) deu início a uma experiência pioneira e histórica na especialidade médica de hepatologia, cujos resultados podem representar um avanço importantíssimo no tratamento de pessoas com esquistossomose, uma doença endêmica em Alagoas e que também está presente em outros estados brasileiros, sendo mais prevalente no Nordeste.
No final do mês de outubro, a médica Leila Maria Soares Tojal, que é responsável pelo Ambulatório de Hepatologia do Hospital Dia – Infectologia, iniciou uma série de exames com o equipamento fibroscan para medir a fibrose do fígado, substituindo a biópsia hepática, em cem pacientes selecionados na capital e interior do Estado.
Até então, essa tecnologia criada por um físico francês e que não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) nem para usuários de planos de saúde – vinha sendo utilizada para determinar o grau de fibrose hepática apenas em pacientes com hepatites, doenças alcóolicas e outras patologias hepáticas ou para medir a esteatose [gordura do fígado].
“O objetivo da pesquisa é avaliar a acurácia desse método [uso do fibroscan] nos pacientes com esquistossomose. Estabelecer qual a validade dele no tratamento desses pacientes. Isso é desconhecido no mundo inteiro, uma vez que não existe esquistossomose nem nos Estados Unidos nem na Europa, onde o fibroscan é utilizado comercialmente”, esclarece a médica. Segundo explica Leila Tojal, o prognóstico e o manejo das doenças hepáticas crônicas dependem significativamente da progressão da fibrose hepática, que é uma cicatriz no fígado, decorrente de uma agressão.
O equipamento fibroscan foi cedido à pesquisa do Hospital Universitário pela Sociedade Brasileira de Hepatologia. Os resultados dos exames serão comparados com aos observados em exames de ultrassonografia para determinar os ganhos com o fibroscan no tratamento dos pacientes. “A pesquisa nos dará respaldo para que, num futuro próximo, o Hospital Universitário possa adquirir um desses equipamentos”, revelou a médica, acrescentando que o projeto para aquisição do fibroscan pelo HU já está pronto.
O superintendente do hospital, dr. Paulo Teixeira, manifesta interesse na aquisição do fibroscan e garante que não poupará esforços para ter o equipamento no HU. “Vamos adotar este projeto como prioridade e defender sua aquisição junto aos ministérios e à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares para disponibilizar essa tecnologia aos nossos usuários”, enfatizou.
A superintendência do HU deu apoio logístico e de estrutura para a realização dos exames no Hospital Dia-Infectologia. O exame, explica Leila Tojal, não é invasivo, é indolor, rápido e seguro. O paciente não precisa ser anestesiado nem ficar internado para fazê-lo. No Brasil, o uso do fibroscan foi liberado pela Anvisa em 2009, mas pouquíssimos equipamentos estão disponíveis no país e em grandes centros de medicina em São Paulo e Rio de Janeiro.
No Nordeste, o fibroscan já é utilizado em Pernambuco, mas sua aplicabilidade, em todo mundo, não inclui pacientes com esquistossomose. Segundo a médica, nos Estados Unidos e na Europa o grau da fibrose hepática só é determinado com o exame fibroscan, substituindo a biópsia hepática, que é invasivo e apresenta alguns riscos, como a perfuração acidental de outros órgãos. No Brasil, como existem poucos equipamentos e o custo do exame é alto, o método não foi disseminado.