O ex-marido da auxiliar administrativa Jandira Magdalena dos Santos Cruz, Leandro Brito Reis, reconheceu a mulher que dirigia o carro que levou Jandira para fazer um aborto, na terça-feira da semana passada. Ao ver a foto, Leandro não teve dúvidas de que a jovem identificada como Débora Dias Ferreira, de 20 anos, era a condutora do veículo.
— É ela, mesmo. O cabelo dela estava um pouco diferente, mas a fisionomia é dela, mesmo. É ela que estava dirigindo o carro — confirma Leandro, uma das últimas pessoas a ver Jandira.
A jovem deixou a Rodoviária de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, com outras duas mulheres, que também estariam grávidas. Assim que Jandira entrou no carro, o ex-marido perguntou quanto tempo demoraria o procedimento. Ainda de acordo com ele, Débora teria explicado que era impossível dizer com precisão, mas que ele deveria esperar na rodoviária.
— Ela disse que dependia do caso, podia demorar uma, duas horas ou até mesmo meia hora, e que era para eu ficar lá esperando, que ela seria levada de volta para o mesmo local.
Segundo Leandro, Débora é branca, de cabelos louros e magra e parecia saber bem o que estava fazendo. O carro em que Jandira foi levada era um Gol branco, de quatro portas e parecia antigo.
Débora responde, com mais seis pessoas, a processos por formação de quadrilha, homicídio qualificado e prática de aborto. Em 14 de março de 2013, Débora foi presa em flagrante, em uma operação em que policiais da DCAV foram até o ponto onde algumas gestantes a aguardavam para serem transportadas até a clínica. Cinco dias depois, no entanto, ela recebeu alvará de soltura. Segundo denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, mulheres que foram encontradas na clínica revelaram que Débora “angariava pacientes e providenciava o transporte”. Além de ser suspeita de participar da quadrilha, ela já foi processada, em maio de 2012, por corrupção de menores e ameaça.
Outra suspeita de participar do grupo é Rosemere Dias Ferreira. Em um cartão com o nome da suposta clínica de aborto, encontrado no celular de Jandira, dois telefones de Rose, como é conhecida, foram encontrados. Ela também responde pelos mesmos crimes de Débora e já foi presa quatro vezes, em flagrante, por prática de aborto, nos últimos quatro anos. Rose seria a responsável pelo contato inicial com as gestantes e também trabalharia como enfermeira durante as intervenções cirúrgicas.
Leandro, que trabalha como vendedor, se diz desesperado com o desaparecimento de Jandira. Ele conta que a jovem o procurou antes de revelar à família que estava grávida. Já decidida a abortar, ela queria saber se o ex-marido conhecia alguém que pudesse lhe ajudar. O comerciário diz ainda que só foi com ela até a rodoviária porque ela pediu, um dia antes da data marcada para a cirurgia.
— Eu estou muito mal. Só fiz o papel de acompanhante de Jandira até o local. Não sei com quem ela marcou, negociou preço. Entrei na história um dia antes porque ela foi até o meu trabalho e me pediu, dizendo que a pessoa que ia com ela desmarcou em cima da hora. Antes de contar para a família, ela já tinha me procurado e eu falei que não tinha como ajudá-la nessa situação, porque sou contra isso e poderia me prejudicar — explica Leandro.
Jandira, segundo o ex-marido, estava irredutível da decisão tomada e conseguiu o contato de Rose com uma amiga, que conhecia uma pessoa que teria abortado na clínica dela.
— Não tinha como impedir. Ainda perguntei se era isso mesmo que ela queria. Ela me disse: “já estou aqui, vou fazer”. E de fato ia, ela tinha o dinheiro, já tinha os contatos. Ia acabar conseguindo, de um jeito ou de outro.
O desaparecimento de Jandira está sendo investigado pela 35ª DP (Campo Grande). Nesta quinta-feira, Leandro e a mãe da jovem, Maria Ângela Magdalena dos Santos, foram ouvidos na delegacia.