A presidente Dilma Rousseff disse que precisa de mais informações sobre as novas denúncias do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, envolvendo políticos em um esquema de corrupção na estatal, para tomar "as providências cabíveis". Numa série de depoimentos após acordo de delação premiada, o ex-diretor apontou o envolvimento de deputados, senadores, governadores e de pelo menos um ministro com desvios de dinheiro de contratos da estatal com grandes empresas.
Ao chegar para um encontro com mulheres, em São Paulo, a presidente disse:
– Gostaria de saber direito quais são as informações prestadas nessas condições (processo criptografado e depoimentos sigilosos) e asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Não com base em especulações. Acho que as informações são essenciais e são devidas ao governo. Caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas – disse ela, encerrando a entrevista antes do evento.
O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), vai solicitar na segunda-feira a convocação de uma reunião de emergência para deliberar sobre as novas denúncias envolvendo a empresa com o presidente da CMPI da Petrobras, senador Vital do Regô (PMDB-PB). O parlamentar vai também enviar requerimento pedindo cópias de todos os depoimentos prestados à Polícia Federal por Paulo Roberto Costa, incluindo os vídeos.
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, fez um discurso duro contra as denúncias. Em Presidente Prudente, interior de São Paulo, o tucano disse que o país está vivendo um "mensalão 2". Segundo ele, dinheiro público está sendo usado "para sustentar gente de poder".
– O Brasil acordou perplexo com o grau das denúncias. Estamos vivendo um mensalão dois, com dinheiro público sendo sugado para sustentar gente de poder. Poucas vezes na história desse país vimos tanta desfaçatez – disse ele.
Conforme noticiaram hoje O GLOBO, “Folha de S. Paulo” e o “Estado de S. Paulo”, o ex-diretor da Petrobras apontou o nome de pelo menos 25 políticos de cinco partidos em depoimento à Polícia Federal, em Curitiba, após acordo de delação premiada. Um dos principais focos da investigação da PF e do Ministério Público Federal são contratos de empreiteiras com a refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco. Segundo a Receita Federal, empreiteiras com contratos com a refinaria repassaram entre 2009 e 2013 R$ 90 milhões para a MO Consultoria, empresa do doleiro Alberto Youssef, acusado de lavagem de dinheiro. Os valores seriam repassados a políticos para financiamento de partidos, como uma espécie de continuação do mensalão.
Reportagem publicada neste sábado pela revista “Veja” afirma que Costa citou os nomes dos ex-governadores Sergio Cabral (RJ), Eduardo Campos (PE) e da atual governadora Roseana Sarney (MA). Nos três estados, a Petrobras mantém investimentos bilionários. Segundo a revista, o nome do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves também foram mencionados.
A reportagem não indica todos os nomes citados no depoimento, mas entre os parlamentares estão os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMBD-RR) e os deputados João Pizzolatti (PP-SC), Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Mario Negromonte (PP-BA), além do secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto.
Políticos envolvidos nas denúncias negam qualquer relação com o esquema de corrupção e recebimento de propina. Em nota, o ex-governador Sérgio Cabral disse que, quando foi eleito, em 2006, Paulo Roberto já era diretor da Petrobras. Ele garantiu que, durante sete anos e três meses, "jamais indicou ou interferiu nas nomeações do governo federal, tampouco nas decisões gerenciais da Petrobras". O ex-governador repudiou a inclusão de seu nome "em qualquer dos fatos supostamente relatados pelo ex-diretor".
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), afirma ter ficado indignada com as denúncias e que nunca participou de “nenhum esquema de corrupção”. Roseana diz que tomará “todas as medias cabíveis” para defender sua honra.
Em Maceió, durante ato de campanha, o presidente do Senado negou as acusações e disse que a delação premiada foi usada para fins políticos.
– Acho que a delação premiada, quando se faz para atingir pessoas e beneficiar outras, tem que agravar a pena. Acho que esse é o aprendizado que o Brasil vai passar. Há o uso político claro da delação premiada.
Também em Maceió, o vice-presidente, Michel Temer, defendeu cautela sobre as novas denúncias.
– Tudo isso está agora no Supremo Tribunal Federal. O PMDB, enquanto instituição, não tem nada a ver com isso. A delação premiada tem os seus problemas. E isso precisa ser levado com muito cuidado para que não haja acusações que possam vir a ser infundadas.
Quando perguntado se as denúncias afetariam a campanha à reeleição de Dilma, ele disse:
– Zero. Não afeta a campanha da Dilma.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou, por meio de nota, que nunca recebeu recursos de Costa. Chamou de “insinuações genéricas” a matéria da revista e disse que em nenhum momento o ex-diretor apresentou provas. “Nunca pedi nem recebi quaisquer recursos por meio do senhor Paulo Roberto Costa. As insinuações publicadas pela revista Veja, de forma genérica e sem apresentar evidências sobre o meu nome, não podem ser tomadas como denúncia formal nem fundamentada”, diz trecho da nota. "Foram feitas em um processo de delação premiada, sem apresentação de provas. E delação premiada exige provas. Peço a todos que fiquem atentos à manipulação do episódio na campanha eleitoral, por candidatos sem respeito pela verdade dos fatos", disse.
O secretário de Finanças do PT trata de “mentirosas” as declarações do ex-diretor. Vaccari afirma nunca ter ido à sede da estatal e que não arrecada recursos em empresas do governo porque é proibido pela lei. Em nota, o tesoureiro petista diz que nunca “tratou de assunto relativo ao partido com o senhor Paulo Roberto Costa. Assim, é absolutamente mentirosa a declaração de que tenha havido qualquer tratativa, seja pessoal, por e-mail ou mesmo telefônica, com o referido senhor a respeito de doações financeiras ou qualquer outro assunto.”
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirmou “repudiar” o que chamou de “insinuações” feitas pela revista. Por meio de nota, o senador “nega ter recebido qualquer recurso por meio do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto e que conhece o diretor de maneira institucional”.
O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), citado como beneficiário do esquema, disse que não conhecia e que não "operava" com Costa. Em nota, ele sustentou que nunca fez qualquer negociação com o ex-diretor da Petrobras.
– Não vou falar sobre esse assunto, pois o que eu falar é que vai virar notícia. Vou tratar desse assunto depois da eleição. Existe uma campanha (da revista "Veja") contra mim, é uma sacanagem. Eu nem sabia desses contratos (das empreiteiras com a Petrobras) – disse o parlamentar.
A reportagem não conseguiu contato com Ciro Nogueira, presidente do PP; e com o deputado federal João Pizzolatti (PP-SC). A reportagem tentou falar com eles por meio de ligações telefônicas e mensagens de texto. O ministro Edson Lobão (Minas e Energia) também não foi localizado.
SUSPEITAS DE COMPRA DE IMÓVEL DE CERVERÓ EM IPANEMA
Segundo a revista “Veja”, o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, envolvido na polêmica da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, teria alugado durante cinco anos um apartamento em Ipanema, no Rio, adquirido por uma empresa uruguaia e posteriormente transferido para um laranja, segundo reportagem da revista “Veja” desta semana.
De acordo com a revista, o imóvel foi comprado pela empresa Jolmey Soceidad Anonima, aberta em 2008 em Montevidéu. Ainda naquele ano, a empresa uruguaia passou a ser representada no Brasil por Marcelo Oliveira Mello, que atuou no departamento jurídico da Braspetro – subsidiária extinta que foi incorporada pela área internacional da Petrobras.
Segundo a revista, três meses após a aquisição do apartamento pela empresa uruguaia representada por Mello, uma administradora imobiliária teria alugado o imóvel para Patrícia, esposa de Cerveró. O advogado disse à revista que o imóvel ter sido alugado ao ex-colega fora “coincidência”.
Outra reportagem da revista revela que a ex-contadora do doleiro Alberto Yousseff – ligado a integrantes da ex-diretoria da Petrobras –, Meire Poza, foi ameaçada por um suposto advogado ligado a construtoras envolvidas no esquema do doleiro. Meire Poza tornou-se testemunha da Polícia Federal em investigações sobre a quadrilha de Youssef. (Danilo Fariello, Simone Iglesias, Vinícius Sassine, Maria Lima, Chico Otávio e Washington Luiz).