Se por um lado, a inserção da tecnologia na educação provoca alterações nas formas de aprender e ensinar, por outro apresenta às editoras o desafio de reavaliar os materiais didáticos e sua produção. “Livros didáticos têm conteúdos demais. É preciso mudar o formato do conteúdo, torná-lo interativo e oferecer materiais relevantes em áudio, vídeo, etc.”, diz Carlos Seabra, coordenador técnico pedagógico da gerência de Inovação e Novas Mídias da Editora FTD, que atua na gestão e produção de jogos, infográficos e outros produtos tecnológicos nos quais a editora vem investindo.
No último dia 26, o especialista participou de uma mesa-redonda com o tema “Impacto das tecnologias disruptivas na vida, nos negócios e na educação”, que fez parte da programação da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros) na 23ª Bienal do Livro de São Paulo. Este ano, a entidade se reuniu com suas onze associadas para debater o futuro do livro na Educação.
Seabra acredita que para se adequar aos novos tempos, o caminho é repensar a produção dos conteúdos e as necessidades dos professores e alunos.
O modelo de negócio atual das editoras também precisará ser reconsiderado. Uma das grandes questões ainda obscuras é se a lucratividade atual – com os materiais impressos – irá se manter na produção dos conteúdos digitais. “O trabalho editorial com essas novas ferramentas fica muito mais complicado e caro para produzir, embora o consumidor tenha a expectativa de pagar menos em obras didáticas digitais”, pontua.
Aliada a todas essas ponderações, está também a discussão acerca dos direitos autorais, que, segundo ele, no Brasil são bastante restritivos. “O digital pede multiplicação, então não há como estipular o acesso como no caso do impresso (por tiragem, por exemplo). É legítimo que quem tem direitos autorais lute por eles, mas quem produz conteúdo, também deve ter o direito de disponibilizá-lo”, afirma.
Imaginação pedagógica – “Se um professor é chato pessoalmente, na EAD (educação à distância) ele será ainda mais chato”, diz o especialista, que compara a tecnologia a um megafone; ela é apenas um instrumento com poder de amplificar o que já existe.
Seabra ressalta que o futuro, não tão distante, reserva infinitas possibilidades no uso da tecnologia relacionado ao ambiente escolar, tanto na parte estrutural, como crachás e sensores que indiquem a presença dos alunos – eliminando a “chamada” – quanto na própria aula, como, por exemplo, quadros interativos que permitam que os alunos compartilhem suas fotos, anotações e outros elementos com colegas e professores.
Mas ele acredita que para que estes recursos tragam benefícios à sala de aula e à educação é preciso que haja imaginação pedagógica por parte dos professores e, especialmente, dos gestores, além de um projeto pedagógico que norteie o uso desses recursos. “A gestão é um paradigma que precisa ser mudado para que mudemos a realidade das escolas”, reforça.