Na escola, os professores ensinam que a água é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O), mas as garrafinhas à venda por aí guardam muito mais do que só isso. Há sais minerais que podem fazer bem e até o controverso sódio. O consumo de água envasada tem crescido constantemente. Dados da Associação Brasileira de Indústria de Água Mineral (Abinam) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) mostram que a produção também tem avançado ano a ano e, em 2014, o aumento esperado é de 30%.
Porém, informações sobre o conteúdo das garrafas não parecem caminhar no mesmo ritmo. Poucos sabem que nem toda água envasada é mineral. O tipo deve ser indicado no rótulo.
Não à toa foi editada uma portaria do Inmetro que concederá selo de qualidade a águas minerais e naturais vendidas em embalagens de plástico e de vidro retornável. A certificação, voluntária, foi um pedido da própria Abinam. A expectativa é que as primeiras embalagens certificadas cheguem ao mercado em 2015.
Segundo resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os três tipos de água vendidos no país têm em comum a origem (podem ser de fontes naturais ou de extração de águas subterrâneas). Mas, enquanto a mineral não sofre qualquer tratamento ou adição de componentes e deve ter um mínimo de sais minerais, a água natural não respeita este mínimo. Já a adicionada de sais precisa ter, pelo menos, 30 mg/L de sais minerais, como bicarbonato de cálcio, carbonato de magnésio ou sulfato de cálcio, entre outros. Nenhuma das três deve conter açúcares, adoçantes, aromas ou outros ingredientes. E o produto tem zero calorias.
NATURAL OU ARTIFICIAL?
Outro fato percebido por poucos é que a gaseificação pode ser natural ou artificial:
— Quando a água é gaseificada artificialmente, pegamos o gás carbônico da atmosfera, tratamos e injetamos na água. Na natural, ela já sai gaseificada da fonte, mas retiramos o gás, que é tratado e reinjetado. O tamanho das bolhas também é diferente. Elas são maiores no caso da naturalmente gaseificada— esclarece presidente da Abinam, Carlos Alberto Lancia.
O tipo de gaseificação não chega a fazer diferença para a saúde, garante a nutricionista Vânia Barberan, que relativiza a questão do sódio:
— As águas de fontes naturais são uma fonte extra de sais minerais. O sódio presente nela dificilmente vai afetar a saúde.
Para a nutricionista Isabel Jereissati, como algumas águas têm mais sódio, é importante sempre checar a quantidade no rótulo.
Os rótulos também têm que indicar a composição química da água listando, no mínimo, os oito elementos predominantes no produto, de acordo com portaria do Ministério de Minas e Energia (MME). Os sais devem estar em forma de cátions e ânions, por isso, no caso do cloreto de sódio, a quantidade de cloreto fica em uma linha, e a de sódio, em outra.
Apesar de a regulação da Anvisa não permitir que o rótulo indique possíveis propriedades medicinais das águas, algumas podem ser benéficas à saúde, desde que tenham um mínimo de certos minerais. De acordo com dados da Abinam, entre as propriedades medicinais estão ser digestiva, ajudar quem tem problemas de pele, combater a anemia, ser laxante e até auxiliar na reposição de cálcio. O fato é que o mercado têm crescido tanto que há locais em que, como acontece com os vinhos, se oferece carta de água, tamanha a variedade do produto.
Por outro lado, ressalva Cláudia Darbelly, coordenadora de regulamentação de alimentos da Anvisa, as “águas saborizadas” não podem ser chamadas de água, já que são acrescidas de substâncias que lhes conferem gosto:
— A legislação não permite que bebidas com sabor sejam vendidas como água. Se tem sabor, passa a ser outro tipo de bebida — explica.
As regras de rotulagem preveem um alerta caso sejam ultrapassadas certas quantidades de alguns ingredientes. Entre eles, está o aviso indicando que a água contém sódio quando a concentração dele ultrapassar 200 mg/L. O rótulo depende de uma aprovação do DNPM, e os dados devem coincidir com os aferidos pelo Laboratório de Análises Minerais (Lamin). Se aprovado, o rótulo é publicado no Diário Oficial da União, e o modelo precisa ser respeitado pelas marcas. Cabe ao Inmetro verificar a conformidade das embalagens à venda.
— Tampas e rótulos são avaliados através de inspeções visuais para verificar se há evidências de violação que possam afetar a integridade do produto. Por exemplo, é verificada a existência de lacre, se está rompido ou danificado e se a tampa está danificada — explica Roberta Chamusca, técnica da Divisão de Regulamentação Técnica e Programas de Avaliação da Conformidade do Inmetro.
CONSUMIDOR ATENTO
As características físico-químicas têm um dado que pode deixar um ponto de interrogação na cabeça do consumidor: radioatividade na fonte. Mas não há motivo para alarme. Lancia esclarece que é normal rochas terem radioatividade, inclusive, as comuns, como o granito usado em bancadas de cozinha. O item no rótulo, explica, é um controle do índice da fonte.
Outra informação desta tabela é a condutividade da água, que é um dado usado para verificar a procedência da água, de acordo com Lancia:
— A condutividade é diretamente proporcional à quantidade de sais minerais presentes na água. A informação serve mais como parâmetro de controle e uma espécie de impressão digital da água. Ao comparar águas supostamente da mesma marca e fonte, se a condutividade não é igual, há um indício de que pode ter havido falsificação — confirmada com análise química.
Outra propriedade listada é o pH da água, diz:
— O pH está ligado à presença de ânions de bicarbonato na água. Quanto maior a concentração, maior o pH, ou seja, mais alcalina (básica) é a água. Quanto menor o volume destes ânions, menor o pH (mais ácido). Porém, o pH não influi na potabilidade nem no gosto da água.
Os consumidores devem estar atentos ainda a contaminações. Só este ano, duas marcas de água mineral natural tiveram as vendas suspensas após testes indicarem a presença da bactéria Pseudomonas aeruginosa além do permitido. Além disso, é preciso ter cuidado para não comprar produtos falsificados ou adulterados, diz Cláudia.
— É importante verificar se o lacre está íntegro, se a embalagem não está arranhada. A armazenagem também importa: a garrafa não pode ficar no chão, por exemplo — alerta.
Lancia dá uma outra dica:
— Deve-se pegar a garrafinha, virá-la de cabeça para baixo e apertar no meio com força. Caso a parte da rosca da tampa se encha de água, mesmo que não vaze, é melhor não beber.