Faltando menos de uma semana para as eleições, o Maranhão vive um cenário eleitoral inédito. Pela primeira vez na história, um candidato de oposição à família Sarney pode vencer um adversário não apoiado pelo grupo, em primeiro turno e sem auxílio da máquina do Estado. Algo tido como inacreditável até por integrantes do clã Sarney mais pessimistas.
O ex-presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) e ex-deputado Flávio Dino (PCdoB) lidera em praticamente todas as pesquisas de intenção de votos no Estado com índices na casa dos 50% ou 60%. No levantamento Ibope mais recente, por exemplo, Dino estava com 48% das intenções de voto contra 27% de Lobão Filho (PMDB), principal adversário e o nome que o Grupo Sarney apostou nestas eleições no Estado. Os demais candidatos, somados, não chegam a 5% das intenções de voto. Em apenas uma pesquisa, Dino não levaria a disputa para o segundo turno. Mas o levantamento foi realizado com 90% de eleitores com nível de instrução inferior ao ensino médio e com 80% deles com renda igual ou inferior a um salário mínimo.
Apesar da liderança relativamente folgada, Dino evita nos bastidores contabilizar-se como vencedor. Existe uma preocupação latente com possíveis fraudes eleitorais no Estado, principalmente casos de compra de votos no interior do maranhão. Tanto que Dino iniciou uma campanha de montagem de comitês populares de fiscalização Maranhão com o objetivo de se evitar essa prática. A ideia do eixo dinista é que eleitores simpatizantes se inscrevam e fiscalizem casos de compra de votos em todo o Maranhão. A atitude é considerada inédita no Estado.
Também existe uma outra preocupação do eixo dinista de que o grupo Sarney crie “fatos falsos” com o intuito de minar sua candidatura nessa reta final de campanha. Na semana passada, foi divulgado um vídeo em que um preso acusava Dino de ser integrante de uma quadrilha responsável por assaltos a bancos e atos de tráfico de drogas. Durante as investigações, a Polícia Civil do Maranhão descobriu que dois diretores do Complexo Penitenciário de Pedrinhas direcionaram o depoimento do preso. Os dois agentes foram afastados. O eixo da campanha de Dino acredita que a intenção dos ex-diretores foi prejudicar diretamente a campanha do candidato comunista.
Lobão Filho
Nos últimos programas eleitorais, Lobão Filho tem intensificado os ataques a Dino como uma forma de tentar levar a disputa para o segundo turno. Nos últimos dois, o programa dele tem dedicado 60% de seu tempo a ataques incisivos a Dino, ligando o comunista a situações como a queima de ônibus na capital maranhense, ocorridos no início do mês após rebeliões no complexo de Pedrinhas e também ligando Dino à abordagem feita pela Polícia Federal, na semana passada, à comitiva de Lobão Filho, no interior do Maranhão. Na campanha, a intenção do eixo do PMDB é mostrar que Dino “não é tão ficha limpa assim”.
Conforme o iG apurou com políticos aliados a Lobão Filho, eles mesmo admitem que “dependem de um milagre” para chegar ao segundo turno. Durante a campanha, Lobão Filho não conseguiu o crescimento esperado para o grupo, nem mesmo sendo apoiado pelo governo do Estado e com pronunciamento do ex-presidente Lula pedindo votos abertamente para ele.
O próprio Lobão Filho já se resignou nos bastidores de que o apoio da governadora, apesar de ter existido, foi inferior ao prometido durante a fase inicial da campanha. Roseana, doente, tem aparecido em poucos atos políticos ao lado de Lobão Filho que, segundo interlocutores, mantém a campanha praticamente sozinho.
Além disso, a candidatura de Lobão Filho foi vista com desconfiança pelos aliados. Ideia da governadora Roseana Sarney, parte do grupo não aderiu ao projeto como se imaginava. Tanto que vários deputados estaduais ligados ao grupo preferiram se dedicar às suas respectivas campanhas à deputado federal ou à reeleição a ter que levantar bandeira em nome do filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB).
Nesta semana, o PMDB inicia uma “força-tarefa” com prefeitos de vários municípios aliados para que eles busquem votos para o candidato do clã Sarney. A ideia é que os prefeitos estejam nas ruas em um esforço final de campanha nessa reta final. Além disso, o PMDB ainda pressiona a presidente Dilma (PT) a pedir votos abertamente para Lobão Filho nessa fase final da campanha como uma última cartada visando ao crescimento da candidatura de Lobão Filho.