Léo Moura no top 10 do Flamengo

Lateral chega à décima temporada no Fla prestes a entrar na lista dos que mais atuaram pelo clube.

Gustavo Miranda / O GloboLeonardo Moura terá mais uma Libertadores pela frente com o Flamengo

Leonardo Moura terá mais uma Libertadores pela frente com o Flamengo

Aos 26 anos, um cigano. Aos 35, ídolo da maior torcida do Brasil. Nesse meio tempo, algumas derrotas e títulos inesquecíveis. E, nesse mesmo período, a construção vagarosa de uma identidade pouco comum no futebol atual. Ele é o Léo Moura do Flamengo e de mais nenhum outro clube. Este ano, o lateral-direito rubro-negro completará a décima temporada seguida na equipe. Marca alcançada somente por gerações muito anteriores da dele. Aquelas que ele viu da arquibancada do Maracanã e de onde saíram seus ídolos. Agora, equipara-se a eles e, em pouco tempo, daqui a sete partidas, será o décimo jogador que mais atuou com a camisa do Flamengo, com 468 jogos, mesmo número de Zinho.

Como se não bastassem os números, que poderiam indicar de maneira fria apenas um jogador com anos de serviços prestados burocraticamente, atos comprovam uma relação bem mais profunda entre ídolo, torcida e clube. Do nome gritado pelos torcedores a cada partida de um lado e da reverência do lateral a eles ao fim dos jogos do outro, Léo oscila entre admirado e admirador. As sete conquistas no Flamengo são do profissional e do torcedor, que chegou ao seu ápice ao ganhar a braçadeira de capitão e levantar o troféu da Copa do Brasil diante de mais de 70 mil pessoas.

— Se eu falar que imaginava que ficaria dez anos no Flamengo, estaria mentindo. Mas as coisas foram acontecendo, os títulos foram vindo, conquistando a torcida, me tornando um ídolo. Sou um cara iluminado por ter feito trajetória no meu time de coração. Meu sonho sempre foi jogar no Maracanã com a camisa do Flamengo, mas não sabia que seriam tantos jogos, que seria tão duradouro. Sinceramente, não consigo me imaginar com outra camisa que não a do Flamengo — disse o lateral, que renovou contrato por mais um ano. — Se eu puder ficar aqui até o final da carreira, serei muito feliz. Mas não coloquei limite de idade, vai ser até quando o corpo conseguir.

Não tinha como imaginar realmente. Em cinco anos de profissional, Léo, criado nas categorias de base do Linhares-ES e do Botafogo, já tinha rodado por oito clubes. Os outros três grandes do Rio, além de passagens por Bélgica, Holanda e Portugal. E, mesmo no Flamengo, nenhuma garantia tão grande. O contrato mais longo foi de quatro anos. Depois, renovações anuais. Na última, o pedido do lateral era de mais duas temporadas, mas o clube só aceitou uma.

— Sempre joguei tranquilo quanto a isto. Quando assino contrato, me preocupo em terminar bem. O ano de 2013 foi muito especial para mim, com título, sendo capitão. Não importa se de ano a ano vou renovar. O que importa é que a diretoria confia em mim, a torcida ainda conta comigo, os jogadores me apoiam. E vamos assim de ano a ano até encerrar a carreira. Isto não me deixa em inseguro, sei do meu potencial — afirmou ele, acrescentando que a vida cigana no início foi mero acaso, já que corria atrás das melhores oportunidades até aparecer o Flamengo. — Tudo aconteceu no momento certo.

Hoje, Léo circula pela Gávea e pelo Ninho do Urubu como se estivesse mesmo em casa. E estando no seu lar, fala dos problemas com naturalidade. Dos tempos difíceis de salários atrasados, que afastavam grandes jogadores do clube. E vê uma transformação.

— Está evoluindo. Antes, os jogadores tinham receio de vir para o Flamengo. O clube está se reestruturando, mas era para ter se reestruturado há muito tempo pelo potencial que tem. Ter maior organização, pagar em dia, isto tudo anima o jogador a vir. Hoje vejo este interesse. Tem jogador que liga e pergunta. Eu já roí muito osso. Agora, no finalzinho, estou comendo o filé. Fico feliz.

Libertadores, um trauma
Nessa década, Léo não teve somente momentos gloriosos, como o de erguer a última taça. Para ele, “ser capitão do Flamengo é representar uma nação, uma responsabilidade muito grande”. Alguns traumas o marcaram. Os principais na Libertadores, outro sonho do jogador.

— A do América do México (2008) machucou mais. Tínhamos vantagem muito grande (podia perder por 2 a 0) e acredito muito que, passando daquele jogo, dificilmente não seríamos campeões. O time era muito forte mentalmente e também em campo. Mas Libertadores é isto. Aquilo mudou as coisas no clube. Apesar de sabermos que a torcida sempre vai fazer a diferença, nós temos que fazer a nossa diferença dentro de campo — explicou ele, que crê na força da equipe atual para ir longe na competição. — É um sonho possível de conquistar. Precisamos continuar sendo o grupo forte do ano que passou.

Para ser mais uma vez decisivo na busca desse sonho, Léo admite que terá de equilibrar bem as energias ao longo do ano. A velocidade já não é a dos 25 anos. Porém, a inteligência e a experiência contam no momento de dosar o cansaço num jogo. Mesmo assim, a estratégia será igual a do ano passado. Não dá para defender o Flamengo em todas as partidas. Por isto, hoje não estará em campo na estreia do Carioca e a diretoria contratou um substituto imediato. Talvez para a torcida não sentir tanto a falta.

— O número exato de jogos que eu aguento, eu não sei. Mas a cada ano tem mais partidas e fica inviável jogar todas elas, técnica e fisicamente. Ter um jogador como o Léo, que fez sucesso no Atlético-PR, vai ser importante. A cobrança para quem entra quando não estou em campo é grande — admite Léo Moura

Se vão ser 30, 40 ou 50 jogos, não importa. O que vale para Léo Moura é a honra de vestir a camisa rubro-negra. No futuro, quem sabe, espera continuar vestindo-a, mas de outra forma.

— Não quero ser treinador. Mas se continuar trabalhando aqui vai ser uma honra grande demais — diz.

Fonte: O Globo

Veja Mais

Deixe um comentário