Ela detestava samba, era casada e pesava 120 quilos. Até que a morte do pai, a gravidez na adolescência e a traição do marido abalaram Luciana Messias Amaral, que resolveu mudar de casa e de vida em 2008. Para sair da "fossa" da separação, foi convencida por amigos a curtir um samba na quadra da Caprichosos de Pilares. Em menos de um ano, deixou de ser foliã e passou a ser passista. Neste meio tempo, perdeu 40kg. Luciana adotou o nome artístico Negralu e virou a página.
"Foi o samba que me tirou da depressão. Aprendi a me olhar no espelho e a falar: ‘Você é bonita, vá à luta’. Ou :’Está ruim, mas vai melhorar’", explica a sambista de 33 anos, que é também rainha de bateria da Arame de Ricardo de Albuquerque e destaque na Unidos de Cubango.
Para emagrecer, Negralu recorreu à reeducação alimentar e a atividades físicas constantes. Ginástica todos os dias e mudança radical na alimentação, que continuam até hoje. Assim como a comoção pela mudança no visual. "Nunca pensei que teria este corpo", surpreende-se.
Aos 8 anos, a moradora de Vigário Geral viu o suicídio do pai. Mudou-se para Piedade, mas não conseguiu afastar as más lembranças e, ainda na infância, foi diagnosticada com depressão.
Anos depois, a mãe também foi vítima da doença e morreu. Órfã aos 18 anos, Luciana já estava grávida e casada contra a própria vontade. "Era um casamento infeliz, eu não queria ter casado. Éramos muito novos", relembrou.
Nesta época, ela conta que já pesava mais de 100kg e a insatisfação no matrimônio não parecia suficiente para uma reviravolta em sua vida. Foi quando, segundo ela, testemunhou a traição do marido pelo telefone. O aparelho celular dele havia sido um presente dado por Luciana.
Antes de se separar, descobriu que estava grávida de novo. Nascido o pequeno Cauã, saiu de casa."As pessoas da minha família ficaram do lado dele. Eu tive que levar a vida sorrindo para não passar a situação complicada para os meus filhos. Foi entrar no mundo do samba para sorrir novamente. Nunca mais vou me deixar cair em depressão", garante a mulata, que virou até capa de calendário carnavalesco.
Famosa em Pilares, a musa que não gostava de carnaval passou a ser modelo para as "gordinhas" do bairro que brigam contra a balança. "Quando as pessoas me veem e perguntam, isso me incentiva. Dei exemplo para muita gente", explica Negralu, que, quando não está de saltão sambando pela Sapucaí afora, volta atender por Luciana, como técnica de enfermagem em uma empresa de petróleo.
