Investigação localiza R$ 200 milhões do PCC em contas de laranjas

A dinheirama, segundo o secretário nacional de Justiça, estava em cerca de 500 contas bancárias movimentadas a partir de presídios por membros da organização criminosa.

Uma parafernália eletrônica e digital operada por especialistas e identificada com o singelo nome de LAB-LD (siglas do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro) está revolucionando as investigações no país. No resultado recente mais promissor na guerra contra o crime, a engenhoca ajudou a polícia a identificar a lavandaria financeira do Primeiro Comando da Capital (PCC) cujo império é estimado em R$ 200 milhões – uma verdadeira fortuna erigida através do tráfico e do roubo.

A dinheirama, segundo o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, estava em cerca de 500 contas bancárias movimentadas por integrantes do PCC presos em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, através de comparsas e parentes em liberdade. Identificada a rede e as movimentações, o dinheiro e os bens em nome de laranjas foram bloqueados e aguardam decisão judicial.

Já se descobriu que parte dos lucros da quadrilha é reinvestida nas operações criminosas e o restante lavado de diferentes formas: mercado financeiro, imóveis, transporte clandestino, comércio ou qualquer atividade que possa ser exercida por terceiros. As investigações prosseguem em 2014 e buscam identificar outras ramificações da quadrilha.

O PCC, segundo aponta o rastreamento, erigiu de dentro da Penitenciária II de Presidente Venceslau – onde estão recolhidos seus principais líderes –, uma estrutura econômica cujo desmantelamento se transformou num verdadeiro desafio ao Estado brasileiro. Antes de ingressar na era dos grandes negócios do crime, a organização já exercia o controle de 90% da massa carcerária paulista.

Um conjunto de equipamentos eletrônicos, hardwares e softwares operados por policiais que se especializam na identificação dos rastros de dinheiro sujo, o LAB-LD é uma das principais ferramentas do grupo de inteligência integrada criado em São Paulo após a crise na segurança pública em 2012. A força-tarefa reúne atualmente 19 órgãos públicos estaduais e federais, dedicados a esmiuçar as atividades do PCC e de outras quadrilhas.

Organizadas inicialmente para combater o desvio de recursos públicos, os LABs se destacam por analisar com rapidez e precisão grandes volumes de dados. Os laudos emitidos por especialistas no setor, segundo o secretário Paulo Abrão, têm sido aceitos pelo Judiciário como provas confiáveis. Além disso, livram a polícia de um trabalho excessivamente técnico que, além de gasto em tempo, com frequência não surtia resultado.

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Segundo ele, a eficácia dos LABs pode ser medida pelos resultados obtidos. Entre 2009 e 2013, os laboratórios localizaram em todo o país R$ 19,6 bilhões originários de modalidades criminosas que vão dos crimes contra o patrimônio privado a corrupção em órgãos públicos estaduais e federais.

No Rio de Janeiro, num trabalho que precedeu a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), em 2010, rastreamento norteado pelos LABs identificou e localizou um montante de R$ 6 bilhões, supostamente originários do tráfico de drogas, contrabando de armas e corrupção, em nome de laranjas dos criminosos.

Desde os primeiros convênios firmados em 2008, o Ministério da Justiça já instalou 28 laboratórios, repassando aos Estados serviços, equipamentos e treinamento que custaram investimentos da ordem de R$ 40 milhões.

Em 2014, serão instalados outros 15, completando a rede. “Até o final do ano o Brasil será 100% LAB”, garante o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão.

São Paulo era, até 2012, na crise que resultou na matança de 106 policiais militares a mando do PCC – e que derrubou o ex-secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto – o último ponto de resistência. Desde então, os organismos estaduais e federais passaram a agir em sintonia para enfrentar o PCC e sua rede esparramada por vários Estados. A Polícia Civil e o Ministério Público receberam os laboratórios.

No inquérito conduzido pelo Ministério Público de São Paulo, a primeira e maior investigação específica sobre o PCC – uma montanha de 876 páginas – descobriu-se que a quadrilha tem ramificações em todos os estados e em países vizinhos, como o Paraguai e Bolívia.

Através de convênio firmado com a Secretaria Nacional de Justiça, as autoridades bolivianas aceitaram a oferta de instalação do LAB e devem colaborar no rastreamento de bens e finanças em nome de criminosos brasileiros. Os indícios apontam que, além de fornecedores da droga e armas, quadrilhas do Paraguai e da Bolívia ajudam a lavar dinheiro do PCC.

Fonte: iG

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