Vendas de carros caíram 2,1% no primeiro trimestre, a produção de veículos despencou 8%, as exportações continuam em baixa e os juros em trajetória de alta. De longe, esse cenário não parece muito convidativo para quem pensa em comprar um carro novo.
De fato, quem estava buscando um financiamento não encontrava as melhores condições. Em março, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, já lamentava. “A maior parte das instituições está restringindo crédito e aumentando juros”, disse. O drama do crédito é tanto que a Caixa Econômica Federal também entrou na dança, promovendo em abril o Salão Auto Caixa, com a participação de 1.470 concessionárias. O crédito estava pré-aprovado para um terço dos clientes e as montadoras precisaram oferecer pequenos benefícios. “Um tapete ou algo assim”, como afirmou Moan na ocasião do lançamento da iniciativa.
O cenário pouco favorável não afeta a todos que plenejam trocar de carro. Este pode ser um momento bem especial para quem já está pronto – leia-se pronto para pagar à vista. Com estoques de 48 dias, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), há montadoras fazendo esforços adicionais para esvaziar os pátios.
A GM, por exemplo, já fez dois feirões neste ano, além da chamada operação troca com troco, em que uma parte do valor do veículo usado como entrada volta em dinheiro para o cliente. Também há montadoras oferecendo Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) pago e outros atrativos.
Os estoques cheios caracterizam uma das poucas condições em que vale refletir sobre a situação do mercado antes de pensar no melhor momento para o seu bolso. Para Mauro Calil, consultor financeiro e professor da Academia do Dinheiro, vale a pena esperar por momentos como esse, desde que o dinheiro já esteja à mão. “Comprando a vista, você consegue negociações muito mais vantajosas”, ressalta. Além de conseguir preços melhores, os acessórios podem sair bem mais baratos. As vantagens ofertadas podem não compensar o custo dos juros de um financiamento desnecessário. “Só vale entrar em financiamento agora se o indivíduo realmente precisa do carro para gerar renda”, afirma.
O especialista da consultoria Carro e Dinheiro, Leandro Mattera, lembra que se o cenário continuar tão ruim para as montadoras, é possível que elevem o tom na disputa por clientes. “Pode ser que fique ainda melhor para o consumidor”, diz
Somado a isso, considerando o momento de queda nas vendas e o ano eleitoral, as montadoras poderão fazer ainda mais pressão para que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) não volte a subir em julho, conforme previsto. “Está difícil de acreditar que esse aumento vá se concretizar”, pontua Mattera.
Mercado de usados segue aquecido – e sem grandes vantagens
No entanto, os benefícios oferecidos pelas montadoras não se repetem no mercado de usados, que vai muito bem, por sinal. As vendas cresceram 9,4% no primeiro trimestre, após uma “reversão de tendência”, nas palavras de Mattera. Para quem tem menos poder de compra, adquirir um usado tem sido uma opção melhor, já que os carros zero ficaram mais caros.
A preferência pelo pagamento à vista, no entanto, deverá ser mantida. No mercado de carros usados a restrição de crédito é ainda maior, segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). “Ainda não dá para saber como este momento da indústria vai afetar o mercado de seminovos, mas o crédito vai ficar mais caro se os juros continuarem subindo”, aponta Mattera.
No entanto, Mattera não esconde que por mais favorável – ou desfavorável – que seja o contexto, o que define mesmo é o seu bolso. “Sempre que ouço essa pergunta, eu lembro que para o consumidor consciente a melhor hora é a hora em que ele definir. As promoções e as condições de mercado são periféricas.”
A hora certa é o seu melhor momento
Independentemente das condições macroeconômicas e do cenário, não há dúvidas de que o melhor momento para comprar um carro é a hora em que você está pronto para sustentá-lo. Não se trata apenas das parcelas, mas também do seguro, do IPVA, do combustível e até do aumento no seu padrão de vida uma vez que o carro estará à disposição.
Nas contas do educador financeiro da DSOP, Reinaldo Domingos, um carro custa mensalmente 2% do valor pago por ele. Isso sem contar o aumento no custo de vida. “Pode considerar um aumento de 10% a 20% nos gastos do dia a dia. O indivíduo acaba viajando mais, saindo mais a noite, enfim, é um bem de consumo e não um investimento”, afirma.
Não é um investimento, principalmente considerando a depreciação do veículo, que perde 10% assim que sai da concessionária – mais outros 10% anuais, pela idade do modelo. “Quando você pensa em comprar um carro, precisa saber no que ele vai agregar valor ou qualidade de vida e, principalmente, é necessário definir a urgência”, explica Domingos.
Por isso, a regra número um é observar o seu bolso. O IPI reduzido, o feirão de fábrica e a troca com troco não ofertarão grande alívio se as contas mensais não estiverem em dia – no azul e com folga. Se não tiver pressa, junte o dinheiro e fuja do parcelamento. Se não der para esperar, tente dar a maior parcela possível. Se a parcela ficar cara demais, espere o seu momento.
Vale tudo para fugir dos juros. “Tem gente que compra carro e não tem casa própria. É preciso acertar as prioridades”, diz. “Dinheiro não aceita desaforo.”