A madrinha de Bernardo, encontrado enterrado em um matagal em Frederico Westphalen (RS), no dia 14 de abril, disse em entrevista ao R7 que o pai do garoto dava remédios tarja preta para ele e que foi possível notar um comportamento estranho nas últimas férias em que o menino passou em sua casa. Clarissa da Silva Oliveira era amiga de infância da mãe de Bernardo, morta em 2010, e disse ter certeza de que a morte de Be, como o chamava, foi premeditada.
— O pai do Bernardo me disse que o levou a um médico psiquiatra que receitou remédios tarja preta, mas o menino desmentiu isso e acredito nele porque os medicamentos eram todos amostras grátis. Tenho certeza que o Leandro [pai] pegou no hospital que trabalhava e deu para o menino por conta própria. Não tinha nem receita.
Clarissa explica que nos dias em que o garoto esteve com ela, no mês de janeiro, ela não deixou que ele ingerisse a medicação. Ela o descreveu como um menino calado, apático, mas que passou a ser ‘revoltado’ nos últimos tempos.
— Eu sempre estranhei que ele aceitava com muita facilidade tudo o que o pai falava e mandava. Não era um comportamento normal para um menino da idade dele. Mas ele estava diferente. Estava respondão e parecia revoltado. Hoje eu sei que é porque ele estava sofrendo e sabe-se lá o que passou na mão do pai e madrasta.
O pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, e Edelvânia, amiga da madrasta, estão detidos desde o dia 14 de abril, quando o corpo da criança foi encontrado. Graciele confirmou em depoimento que fez a aplicação do medicamento Midazolam, mas que a morte do menino foi acidental. A amiga confessou que ajudou a esconder o corpo e ambas dizem que o pai não tem participação na morte. Para a polícia, Boldrini teria conhecimento do crime e quer apurar o que realmente cada um colaborou no caso.
A madrinha disse que a última vez que viu Leandro pessoalmente foi em 2011. Depois disso, a madrasta era quem levava o garoto até ela nos períodos de férias e sempre acompanhada de um parente. Clarissa conta que não conversava com eles e quando queria falar com Bernardo ligava direto no celular do menino.
— Eu falei com ele pela última vez dez dias antes dele ser morto. Ele queria saber do Miguel, meu bebê, perguntei se ele estava bem. Eu tenho certeza que a madrasta premeditou tudo. Ela foi a Frederico Westphalen dois dias antes de enterrar o corpo. Para mim, ela foi ver o local. Em fevereiro o Bernardo confirmou para o juiz que sofria maus-tratos e todos ficaram bravos por isso.
Morte da mãe
Clarissa conheceu a mãe de Bernardo ainda na infância, quando tinham cerca de dez anos. Odilaine morreu com um disparo de arma de fogo em 2010, aos 32 anos, três dias antes de assinar a separação do pai do garoto. A polícia concluiu que ela cometeu suicídio. Clarissa recebeu uma carta de despedida escrita por ela.
— Na carta, ela se despedia de todo mundo e dizia que tomou a decisão porque estava cansada da vida. Eu culpo o Leandro pela morte dela também. A Odilaine estava depressiva e ele não contou para ninguém. Ela tomava remédios receitados por ele e morreu dentro da clínica dela com uma arma de fogo. Dois meses depois ele casou com a Graciele. Se ela realmente cometeu suicídio, ele contribuiu muito para isso.
O advogado Marlon Adriano Balbon pretende protocolar na próxima terça-feira (5) um pedido na Justiça para que a Polícia Civil abra novas investigações sobre a morte de Odilaine Segundo Balbon, que representa a avó de Bernardo, Jussara Uglione, a família nunca se convenceu de que Odilaine cometeu suicídio, como concluiu o inquérito sobre o caso. Com a morte de Bernardo, os parentes querem acusar o pai do menino como um possível suspeito também do falecimento de Odilaine.
— Vou argumentar a partir das falhas no inquérito que já existe sobre a morte dela e pedir novas diligências no caso. A família acredita que ela foi assassinada e que o pai do Bernardo pode ser considerado um suspeito. Uma tomografia computadorizada foi feita em Odilaine, mas nunca anexada ao processo. Queremos rever as provas para esclarecer tudo.
Ela receberia R$ 1,5 milhão e uma pensão de R$ 10 mil por mês após a separação. Para a família, ela foi morta para não receber esse valor. O pedido será protocolado no fórum da cidade de Três Passos. A Justiça não tem um prazo determinado para dar um parecer.