Maju Giorgi e o filho, o fotógrafo André Giorgi. Ele se assumiu gay para a mãe na adolescência .

Maju Giorgi e o filho, o fotógrafo André Giorgi. Ele se assumiu gay para a mãe na adolescência .

Arquivo pessoalMaju Giorgi e o filho, o fotógrafo André Giorgi. Ele se assumiu gay para a mãe na adolescência .

Maju Giorgi e o filho, o fotógrafo André Giorgi. Ele se assumiu gay para a mãe na adolescência .

Muitas vezes intensa, profunda e cheia de cumplicidade, a conexão entre os filhos gays e suas mães é vista como algo diferente e especial por muitas pessoas. Aliás, a ficção já retratou este forte vínculo afetivo em produções como a novela global “Amor à Vida” (2013) e o filme “Cazuza – O Tempo Não Para” (2004). Mas será que esta relação maternal é diferente mesmo das outras?
Mãe do fotógrafo André Giorgi, 25, a ativista da causa LGBT e colunista do iGay Maju Giorgi, 48, acredita que este vínculo forte sé dá em muitas das relações entre mães e filhos gays, mas que ele não é uma regra repetida sempre.
“Essa história é um pouco lenda, algo criado numa época em que gays não se casavam e acabavam cuidando das mães. Eu tenho uma sintonia muito grande com meu filho gay em algumas coisas e com minha filha hétero em outras, mas acho que não cabe generalizar”, diz Maju, reconhecendo, no entanto, que esta relação especial acontece muitas vezes por conta de uma sensibilidade maior que grande parte dos homens homossexuais possuem.

Clarice Cruz Pires, 62, é uma mãe que reconhece esta conexão especial com seu filho Yuri Carlos Pires, 36. “Nós gostamos das mesmas coisas. Por exemplo, se eu visto uma roupa e não me sinto confortável, ele logo percebe e diz que aquela roupa não me cai bem”, relata Clarice.
Já Maria Auxiliadora, 55, mãe da jovem lésbica Thayse, 24, tem uma hipótese para este vínculo afetivo que se manifesta de maneira particular. “Na verdade, muitas de nós mães temos um cuidado maior com esses filhos porque temos consciência de que eles estão mais sujeitos agressões e preconceitos por causa de sua orientação sexual”, avalia ela.

Recebendo muitas mães, pais e seus filhos gays em seu consultório, a terapeuta Edith Modesto entende a ideia de que o filho homossexual é diferente dos outros como um preconceito ao contrário.

“É uma forma de segregar, de dizer que o gay é diferente dos outros. Não existe isso. Existem sim filhos mais ou menos afetivos, independentemente da orientação sexual”, pondera Edith, que também é mãe de um filho homossexual. Membro do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), a terapeuta é autora do livro "Mãe sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais" (Record).
Levando em conta sua experiência como terapeuta e também como pesquisadora da diversidade sexual, Edith explica que é comum na infância os filhos se refugiarem no colo da mãe quando percebem que são diferentes do padrão heteronormativo. “Por conta dos preconceitos, ele identifica essa diferença como negativa, como algo que vai deixá-lo exposto, fragilizado diante dos outros. Isso assusta. E como qualquer criança com medo, eles procuram a mãe”, pontua ela.

MÃE E FILHO SAEM DO ARMÁRIO

Um comportamento de insatisfação evidente foi a senha para estas mães notarem que os filhos estavam sofrendo por algo que não conseguiam externar. “Por volta dos 14 e 15 anos, ele andava triste, deprimido e agressivo. Mas um dia, ele me abraçou soluçando e me disse: ‘Não aguento mais mãe, eu sou gay. A reação imediata foi pegar no colo e dizer: ‘Eu sei meu filho, está tudo bem, estamos juntos’”, conta Maju, que providenciou uma viagem para ajudar André a superar a tensão por qual estava passando. Enquanto ele viajava, ela falou do assunto com os outros familiares, que deram todo o apoio quando o jovem voltou.

Clarice soube da homossexualidade do filho já com Yuri adulto. “Eu fiz aquela pergunta dolorida: ‘ Você não gosta de mulher?’. Ele chorou, me abraçou e disse que tinha vergonha de dizer. Ficamos um tempo abraçados chorando. Um dia depois, faltamos no trabalho e fomos passar o dia em um parque, só eu e ele. Conversamos, choramos e rimos o dia todo”, relata a mãe.

Para Maria Auxiliadora, a homossexualidade de Thayse não ficou evidente logo de cara. “Eu não desconfiava que minha filha é lésbica, até porque na infância ela brincava de boneca com outras meninas. Passei a desconfiar quando ela começou a se isolar muito e a sair com o primo gay. Foi difícil para mim entender, porque ela nunca tinha namorado. Eu achava que ela não tinha como saber do que gostava. Só depois entendi que não é é preciso provar para saber do que se gosta.”
Thayse se assumiu aos 14 anos e sua mãe precisou de um tempo para lidar melhor com a situação. “Foi quase um ano entre saber, aceitar e entender. Mas sempre deixei claro que a amaria de qualquer modo”, diz Maria Auxiliadora.

Essa clareza de que o amor não vai mudar por causa da orientação sexual do filho é algo fundamental para qualquer mãe que já passou ou vai passar pela experiência de ver um filho sair do armário.

“Deixe claro que você estará sempre ao lado dele, incondicionalmente”, aconselha Maria Auxiliadora. “Os filhos gays têm muito medo de perder o carinho da mãe. Para eles, isso é o pior que pode acontecer. É preciso apoiar, conversar muito com o filho, mostrar que o amor vai continuar o mesmo”, completa Clarice.
Encarar a homossexualidade do filho como uma falha pessoal é um erro que as mães não podem cometer, segundo Maju. “Comece o processo eliminando a palavra ‘culpa’ do dicionário. Porque neste caso, ela não existe. Não é dos pais, muito menos dele. Ela simplesmente não existe”, adverte a ativista, que também ressalta o fato da orientação sexual ser uma condição e não uma escolha.

Ela indica ainda que os pais dos filhos gays busquem muita informação. “Leiam toda a literatura que vocês encontrarem sobre assunto. É algo válido para se informar, entender e se armar contra o preconceito” , sugere Maju, que ainda aponta a necessidade de se conversar com grupos famílias que estão passando ou passaram pela mesma situação.

“Procure iguais, porque nenhum item citados anteriormente substitui a troca de experiências, de vivências e de emoções. Eu recomendo o GPH, o Mães pela Igualdade e o Famílias fora do Armário”, finaliza Maju.

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