O número de casos de dengue deve cair até o início da Copa do Mundo, o que representará um risco menor para os turistas que visitarão o país, segundo apontam especialistas. O evento vai coincidir com um período em que normalmente se observa uma queda sazonal da doença. Uma projeção feita por pesquisadores da USP e de outras instituições concluiu que, no pior dos cenários, haverá 59 ocorrências de dengue entre os 600 mil visitantes que o país deve receber durante a Copa.
Para se chegar a esse resultado, a projeção levou em conta a média de casos de dengue registrados nas cidades-sede no mesmo período da Copa – entre 12 de junho e 13 de julho – nos quatro anos anteriores. Além disso, considerou a estimativa do número de visitantes que o país deve receber e os possíveis roteiros escolhidos pelos turistas.
Um dos autores do estudo foi o infectologista Marcelo Nascimento Burattini, professor da Faculdade de Medicina da USP e da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Ele explica que a primeira etapa do cálculo foi estimar o risco de contrair dengue em cada dia de permanência no país, em cada cidade-sede. Depois, estimou-se a quantidade de estrangeiros em cada cidade, durante cada dia do mundial. Foram simuladas 32 opções de roteiro, levando em conta que um visitante pode querer acompanhar os jogos de seu time pelo país e permanecer durante mais tempo nas cidades com mais atrativos turísticos.
Levando em conta todas essas variáveis, o cálculo concluiu que, no pior dos cenários, haverá 59 infecções entre os 600 mil visitantes; no melhor dos cenários, haverá 3 casos. Na média, o número esperado de casos entre os estrangeiros é de 33. “Talvez a gente fique muito mais próximo do limite inferior porque assumimos que os turistas tenham o mesmo risco dos residentes”, diz Burattini. Segundo ele, os turistas podem ter hábitos que configurem um risco menor de infecção em relação aos moradores.
Em um roteiro simulado pela pesquisa em que o visitante passe 4 dias em São Paulo, 12 dias em Fortaleza (para acompanhar dois jogos), 4 dias no Distrito Federal, 8 dias em Belo Horizonte (também para acompanhar dois jogos) e 5 dias no Rio de Janeiro, o risco de contrair dengue seria de 0,0335%
O especialista afirma que o pico de casos de dengue costuma ocorrer entre a 15ª e a 20ª semana do ano. A Copa terá início na 24ª semana de 2014. Um gráfico fornecido pelo Ministério da Saúde que mostra a sazonalidade da doença ao longo dos últimos cinco anos ilustra essa dinâmica (veja gráfico acima).
Alerta
Em novembro do ano passado, o mundo passou a discutir os riscos de dengue durante a Copa do Mundo quando um artigo na revista “Nature” chamou a atenção para o problema. “A dengue pode ser um problema significante em algumas das locações dos jogos, e medidas preventivas são necessárias”, afirmou o professor de epidemiologia Simon Hay, da Universidade de Oxford, no artigo. O especialista enfatizou o risco mais alto de infecção por dengue em cidades como Fortaleza, Natal e Salvador.
Intitulado “A febre do futebol pode ser uma dose de dengue”, o artigo recomenda que turistas fiquem em acomodações com telas nas janelas e ar condicionado, que usem inseticida em ambientes internos e que vistam roupas que cubram os braços e pernas para evitar a picada do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.
Sazonalidade
De acordo com o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho, o padrão do número de casos de dengue ao longo do ano é determinado principalmente pelas condições climáticas. “O mosquito se prolifera principalmente em temperaturas médias de 28 a 30ºC, com umidade relativa alta. Coincide de janeiro a maio no Brasil”, diz Coelho.
Ele afirma que, este ano, o topo da curva de ocorrências já foi alcançado. “Agora existe uma tendência de queda. A tendência é que, até o final de maio, haja uma redução importante”, diz. Coelho observa que o país não será um ambiente isento do risco de doenças durante a Copa. “Mas do ponto de vista epidemiológico, há um risco baixíssimo”.
Até o dia 5 de abril, o país havia registrado 215.169 casos de dengue no ano. Em 2013, o número de casos chegou a 1.470.487. “O cenário que temos este ano é bem melhor do que o cenário do ano passado”, afirma o coordenador.
Coelho lembra que o Brasil tem um programa de combate à dengue em caráter permanente e que, em outubro do ano passado, todas as cidades-sede da copa já haviam apresentado planos de contingência contra a dengue. “A dengue é uma doença endêmica no Brasil e, embora a gente esteja em uma situação tranquila, os cuidados precisam ser mantidos”, diz.