As micro e pequenas empresas (MPEs) estão recorrendo mais ao crédito para capital de giro para expandir as operações e quitar dívidas.
Segundo o Banco Central (BC), em dezembro de 2013, o total emprestado em capital de giro era de R$ 388 bilhões, sendo que cerca de 60% dos contratantes foram micro e pequenas empresas. No mesmo mês de 2012, o valor era de R$ 366,4 bilhões. O valor no ano passado foi o maior da série histórica do BC, iniciada em 2007.
Com a maior demanda das empresas, os bancos estão ampliando as linhas de crédito para micro e pequenas empresas e oferecendo taxas de juros mais atrativas, quando comparadas às oferecidas a grandes companhias.
O Santander, por exemplo, liberou R$ 2 bilhões em capital de giro para companhias de pequeno porte no fim do ano passado. Na avaliação de Jesús Zabalza, presidente do banco no Brasil, o incentivo à expansão as MPEs é fundamental para o crescimento do País."Vamos investir de maneira constante no segmento”, reforça ele, ao iG.
No mesmo caminho, o HSBC planeja aumentar em 12% a carteira de MPEs neste ano e passou a segmentar pacotes. Há opções de capital de giro para franquias e operações internacionais, por exemplo.
"As pequenas empresas são estratégicas no Brasil e estão no nosso foco. O ideal é sempre conversar com o gerente para avaliar as linhas mais acessíveis porque nem sempre o capital de giro é o mais adequado", aconselha Marcelo Aleixo, superintendente-executivo de pequenas e médias empresas do HSBC.
As MPEs representam 90% da carteira de pessoas jurídicas da Caixa. Em 2013, o banco ofereceu 50% a mais de crédito a essas companhias em relação a 2012 — um total de R$ 15 bilhões em crédito.
"Para 2014, estão sendo realizadas ações para fomentar a continuidade deste crescimento, bem como garantir a qualidade do atendimento", destaca Regina de Melo, superintendente nacional de estratégia e micro e pequeno empreendedorismo.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê a liberação de R$ 3 bilhões para capital de giro para micro, pequenas e médias empresas em 2014 por meio do Programa BNDES de Apoio ao Fortalecimento da Capacidade de Geração de Emprego e Renda (Progeren). Além desse valor, R$ 2 bilhões serão destinados a grandes companhias.
Só nos quatro primeiros meses deste ano, as micro, pequenas e médias empresas desembolsaram R$ 775 milhões em capital de giro pelo BNDES. Em 2012, o montante era de R$ 3,6 bilhões no mesmo período, incluindo aportes para grandes empresas. Segundo o BNDES, não há dados anteriores exclusivos de micro, pequenos e médios negócios.
Até abril deste ano, o BNDES utilizou a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) no Progeren, taxa inferior à Selic cobrada no aporte a grandes companhias. Enquanto a TJLP ficou em 0,4167% em abril, a taxa básica esteve em 0,82% no mesmo mês.
Expansão da rede
O empresário Juliano Perez Simões, de 28 anos, proprietário da rede Paulinhos Grill, recorreu ao capital de giro do BNDES em 2012 para abrir a segunda unidade do restaurante, na Alameda Jaú, em São Paulo — a primeira está localizada na Avenida Paulista.
"Pegamos R$ 700 mil para montar a loja. O crédito é essencial para a empresa crescer com mais vigor", avalia o empresário.
Ao contrário de Simões, Lucas Contraifer, de 29 anos, dono da agência de publicidade carioca Café das 4, recorreu ao capital de giro "para estancar a hemorragia financeira da companhia".
"Peguei R$ 20 mil em 2011 para pagar contas mensais, como salário dos funcionários e aluguel. É assustador ver a empresa com dívidas, mas foi bom para percebermos que nem sempre é possível ganhar no mundo dos negócios", analisa Contraifer.
Hoje, no terceiro ano de operação da agência, o empresário conta que a agência já se mantém sozinha. Mas para se preparar para outros imprevisos, ele criou a fundos de investimento. "Tenho um exclusivo para bancar a expansão da empresa. Mudamos de escritório três vezes e devemos trocar de sede em breve novamente", afirma.
Segundo Reinaldo Domingos, educador financeiro e autor do livro "Papo Empreendedor" (Editora DSOP), o crédito para capital de giro deve ser evitado ao máximo, como qualquer tipo de empréstimo, por conta da alta taxa de juros.
“Se a empresa não tem dinheiro para se manter ou expandir, é sinal de que o empreendedor precisa repensar o seu negócio" (Reinaldo Domingos, educador financeiro)
Alguns bancos, como o BNDES, por exemplo, utilizam a taxa Selic (a taxa básica de juros), que teve sua 9ª alta consecutiva em abril e atualmente está em 11% ao ano.
Conseguir crédito também não é facil. Há empresas que têm o empréstimo negado por conta do maior cuidado dos bancos em relação à inadimplência, alerta Domingos.
Segundo a Serasa Experian, a inadimplência de pessoas jurídicas subiu 2,5% em 2013. Apesar da alta, esse foi o melhor resultado dos últimos dois anos. Em 2012, o levantamento indicou avanço de 10,4% da inadimplência e, em 2011, de 19%.
Para utilizar melhor o capital de giro, é importante colocar no papel o que a empresa tem a pagar e a receber. Com uma planilha, é possível analisar a necessidade de dinheiro e a capacidade de quitar as dívidas.
"Corte gastos para evitar a necessidade de um novo empréstimo. Se a empresa não tem dinheiro para se manter ou expandir, é sinal de que o empreendedor precisa repensar o seu negócio", orienta Domingos.