Colecionadores brasileiros estão aproveitando a febre dos álbuns de figurinhas da Copa do Mundo para fazer um dinheiro a mais. Nas redes sociais, um livro completo de 1982 pode ser encontrado à venda por até R$ 17 mil. O analista contábil Elbert Lincoln de Souza, de 30 anos, criou um sistema de compra e venda para financiar o seu hobby de colecionar.
“As coleções que envolvem a Copa do Mundo se tornaram uma febre no mundo inteiro. No momento, estou montando seis álbuns da Copa de 2014. Irei vender quatro deles a R$ 250 cada, totalizando R$ 1 mil. Para montar esses álbuns, irei gastar 649 figurinhas x R$ 0,20 [preço unitário] = R$ 129,80 + R$ 20 do álbum capa dura = R$ 149,80. Conseguindo vender os quatro, o lucro é de R$ 400,80”, detalhou o mineiro de Belo Horizonte.
Com a renda extra, Elbert pretende montar outros dois álbuns de 2014, que ficarão em sua coleção para venda futura. “Um capa dura e outro capa mole. Calculo [o custo] de R$ 149,80 + R$ 136 = R$ 285,80. E posso investir em um possível outro álbum que também ficará guardado na gaveta para daqui a alguns anos”, contou.
E os lucros não param por aí. O analista contábil vende ainda as figurinhas que sobraram, separadamente, por R$ 0,30 (jogadores), R$ 0,50 (estádios e seleção posada) e R$ 1 (escudos e brilhantes).
“É importante frisar que a venda do álbum com todas as figurinhas para o comprador é mais comum e rentável, pois ali você está vendendo o prazer de proporcionar ao colecionador colar as suas próprias figurinhas”, afirmou.
Elbert colocou à venda dois álbuns da Copa de 1998 que estão incompletos por R$ 300. “Estou realizando trocas pelo Facebook e venderei por aproximadamente R$ 500 [depois de completo]”, disse o analista, que anunciou ainda livros de 2006 por R$ 300 e de 2010 por R$ 250.
“Hoje em dia, eu penso que meu hobby tem que, pelo menos, ser rentável ao ponto de se sustentar. Então, sempre monto o meu álbum, que fica na coleção nas melhores condições de manejo e armazenamento. E com as figurinhas repetidas, eu faço mais um ou dois álbuns que, quando vendidos, pagam aquele da minha coleção.”
O roteirista paulistano Chuca Pagliari, de 45 anos, também é um adepto das vendas de álbuns completos pela internet. Colecionador desde 1978, ele contou que todos os livros foram montados para serem guardados. A sua relíquia mais valiosa é o álbum de 1982, quando a Copa teve a Espanha como sede e deu ao time da Itália o título após 44 anos. Ele garante que, se colocado à venda, pode render mais de R$ 10 mil. Nas redes sociais, o mesmo álbum é oferecido por até R$ 17 mil.
“Mas este eu não vendo. É uma raridade. Os que estão sendo vendidos são os álbuns que eu montei com sobras das figurinhas repetidas. Na Copa de 2006 eu cheguei a completar quatro álbuns. Com o dinheiro da venda, eu invisto em mais figurinhas do álbum da Copa atual e assim caminha minha coleção. Estou vendendo de 1994, 1998, 2006 e 2010. Os preços variam entre R$ 350 e R$ 800”, disse.
‘Nem lembrava do álbum’
Colecionador desde 1988, o publicitário Leandro Cardial Dias, de 24 anos, é outro exemplo de quem está aproveitando o que chama de “febre em alta”. De acordo com ele, os álbuns de 1998, 2002, 2006 e 2010 que colocou à venda estavam guardados dentro de um saco de lixo na sua casa.
“É pelo dinheiro mesmo. Coisas que estão guardadas em casa há muito tempo. Nem lembrava que tinha esses álbuns. A gente só lembra de quatro em quatro anos. Não pretendo dar para os meus filhos, se tiver, porque está parado, sem uso. Queria aproveitar que a febre está em alta de novo. Eles estavam dentro de um saco de lixo”, contou.
Diferente de Elbert e Chuca, ele só quer vender as edições em conjunto para se “livrar de tudo de uma vez” e fazer um dinheiro extra. Seu primeiro anúncio oferecia todas as edições que possui por R$ 700, mas apareceram tantas as propostas que ele considerava, até a publicação desta reportagem, aumentar o valor para entre R$ 1 mil e R$ 1.250.
“Muita gente veio para comprar. Está barato. Choveu proposta. Fui pesquisar e vi que tem gente que vende só o da França [1998] por R$ 300. E no grupo [de troca de figurinhas no Facebook], me falaram que o que tenho na minha mão, estando em boas condições, consigo vender entre R$ 1 mil e R$ 1.250. O de 2014 eu já comprei com a intenção de vender”, explicou.
‘É um tesouro’, diz comprador
Interessados pelas ofertas não faltam. Com as novas aquisições, eles tentam recuperar o tempo perdido e encorpar as suas coleções. Maylson Rodrigues, de 25 anos, é auxiliar administrativo e foi um dos interessados na coleção de Leandro Cardial Dias. Ele, no entanto, não pensa em revender os álbuns.
“Não penso em vender futuramente. Esses álbuns são difíceis de achar. É um tesouro para mim. Gosto de colecionar figurinhas e de histórias da Copa. É um hobby. Coleciono desde 2002 e tenho alguns álbuns do Campeonato Brasileiro desde 2004. Também tenho cards [cartões] de jogadores europeus e brasileiros desde a infância”, disse o jovem de Vianópolis, em Goiás.