O uso, o abuso ou a dependência do álcool estão associados a cerca de 60 tipos de doenças e lesões. Vão desde cirrose hepática, câncer de boca e de mama e aborto espontâneo a quedas, afogamentos e homicídios. Abandonar o vício é um desafio para dependentes e familiares. Somente de 10% a 30% dos que buscam ajuda conseguem ficar sóbrios. O tempo de recuperação varia bastante. Enquanto uns conseguem ficar sóbrios na primeira tentativa, outros sofrem com as constantes recaídas e precisam recorrer à reabilitação.
Especialistas explicam que não existe cura para a dependência química, apenas tratamento. A gerente do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (Caps-Ad III) da Rodoviária do Plano Piloto, Maria Garrido, revela que a abordagem mais eficaz é a biopsicossocial, que leva em conta o indivíduo como um todo — família, trabalho, atividades de interesse e meio social no qual está inserido. “A crença de que a internação resolve é uma ilusão. O primeiro passo é o paciente reconhecer que está adoecido e procurar ajuda. Começa, aí, um longo caminho a percorrer”, explica.
Nos Caps, o atendimento é multidisciplinar. O doente é avaliado por clínicos, psicólogos e psiquiatras, que identificam a necessidade de uso de medicação para tratar as consequências pelos exageros da bebida. “Às vezes, a pessoa chega desidratada ou com pressão alta, por exemplo. O primeiro passo é a desintoxicação, feita em um hospital quando o caso é mais grave ou nos Caps-Ad III para intoxicações leves. Após esse processo, a pessoa passa a ser acompanhada por uma equipe interdisciplinar”, detalha a especialista.
Na edição de ontem, o Correio mostrou que, no Distrito Federal, das 100,5 mil pessoas atendidas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) no ano passado, 80,4 mil (80%) têm problemas exclusivamente com a bebida. Além disso, fatores genéticos explicam quase metade das vulnerabilidades que levam ao consumo abusivo. Segundo Arthur Guerra de Andrade, psiquiatra, especialista em dependência química e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), os filhos de alcoolistas têm quatro vezes mais risco de desenvolver o alcoolismo mesmo se forem criados por famílias sem dependentes.