Será lançado em sessão especial na terça-feira, 3 de junho, às 20 horas, no Cine Arte Pajuçara (Cine Sesc), o documentário Memórias de Sangue, do jornalista e historiador João Marcos Carvalho e com direção de fotografia de André Feijó. O documentário conta a história do advogado, jornalista e militante comunista alagoano Jayme Miranda, sequestrado e assassinado pela Ditadura Militar e que cujo corpo está desaparecido desde fevereiro de 1975.
Militante do Partido Comunista Brasileiro desde o início dos anos 40 do século passado, Jayme Miranda sumiu em uma rua do Rio de Janeiro quando foi ao encontro de um companheiro de partido que deveria entregar-lhe documentos para que pudesse fugir do País por causa das perseguições da polícia política.
Naquela época, a ditadura militar brasileira, implantada em 1º de abril de 1964, era comandada pelo general Ernesto Geisel. Depois de esmagar inúmeras facções da esquerda que haviam optado pela luta armada contra o regime, o governo ditatorial ordenou que os órgãos de repressão investissem contra os membros do Partido Comunista Brasileiro, que, por sua vez, escolhera a luta revolucionária pacífica para derrotar o sistema militarista.
Na caça aos comunistas, dez membros do Comitê Central do PCB, órgão máximo partidário, foram capturados, entre eles Jayme Miranda, que vivia clandestino no Rio, sendo, na época, o terceiro homem na hierarquia nacional da agremiação vermelha.
Dias depois de seu desaparecimento, correu a notícia entre a militância que ele havia sido sequestrado, torturado e morto num centro de extermínio do Exército na capital fluminense. Ainda segundo estas notícias, seu corpo teria sido atirado em alto mar por avião da FAB.
Mais tarde, outras versões contadas por agentes da repressão deram conta que Jayme fora morto sob tortura e seu corpo esquartejado e lançado em um rio no interior de São Paulo.
É e nesse plano que o documentário Memórias de Sangue, de João Marcos Carvalho, cobra do Estado Brasileiro informações sobre o paradeiro de Jayme e de outros 163 opositores da ditadura que ainda estão na condição de desaparecidos.
No filme, o autor procura situar o militante Jayme Miranda no contexto histórico nacional dos últimos cem anos, enfocando sua trajetória desde o nascimento, em 1926, até a ascensão como um dos principais líderes do chamado Partidão (PCB) no final dos anos 60.
Nessa caminhada pelas estradas da história, Carvalho faz a costura entre os mais notórios acontecimentos de cada época que demarcaram as razões da decisão de Jayme em se tornar um marxista revolucionário, que incendiou Alagoas e o resto do país com sua pregação em favor de uma sociedade socialista.
Recheado com imagens raras de fatos que agitaram a vida política e social brasileira, somada a depoimentos de historiadores, amigos, familiares e ex-companheiros de Jayme Miranda, o documentário é, segundo o autor, uma ferramenta para tentar manter viva na memória nacional a saga de um homem que sacrificou uma vida que poderia ser tranquila e sem atropelos pelas agruras da luta revolucionária que acabou lhe tirando a vida.