Possivelmente não há um só adulto na face da Terra que não tenha se perguntado em algum momento se, afinal, dinheiro traz ou não felicidade. Por um lado, o dinheiro facilita a vida e a realização dos mais diversos desejos. No entanto, não é raro ver pessoas que trocaram a prosperidade de uma vida estável para buscar a verdadeira felicidade em outras atividades e profissões.
Para a pergunta polêmica, a resposta é simples: traz sim, desde que seja na medida. Dinheiro quando é de menos cria problemas e quando é demais, pode acreditar, também pode estragar a felicidade. Duro mesmo é acertar quanto dinheiro cada um precisa para se manter dentro do equilíbrio.
Angus Deaton e o psicólogo dono de um Nobel em Economia, Daniel Kahneman, chegaram a um valor médio. Um estudo feito pela dupla na Universidade de Priceton apontou um salário ótimo de US$ 75 mil anuais, ou R$ 165 mil em 12 meses.
Foram pesquisados 450 mil americanos ao longo de dois anos para chegar a este valor, mas será que você deve buscar incessantemente os R$ 13,7 mil mensais? Não necessariamente. “Tem gente que precisa de muito mais que isso e há quem precise de muito menos, isso é apenas uma média que norteia o pensamento sobre o assunto”, comenta o educador financeiro André Massaro.
Os males da escassez de dinheiro não são difíceis de imaginar. Dívidas, falta de acesso a saúde, à boa alimentação e à moradia adequada são exemplos claros do limite da pobreza. A extrema riqueza também traz seus percalços: seguranças por todos os lados, pessoas interesseiras ao redor e uma montanha de ativos para administrar também não parece bom.
É nas tonalidades entre uma ponta e outra que fica a larga maioria de pessoas; aquelas que sempre pensam que, com um dinheirinho a mais, a vida ficaria muito mais feliz.
Quem não consegue ganhar o suficiente para atender suas reais necessidades – que nem sempre são só as básicas – sofre com o desconforto, mas o que dói mesmo é o desejo de ascensão. “Muitas pessoas gastam mais do que ganham, isso acaba virando um ciclo muito ruim porque gera outras angústias também relacionadas ao dinheiro”, diz Aline Rabelo, coordenadora do Investmania.
Aí vem o endividamento e a o desejo de ascensão vira sensação de inferioridade, depois angústia pela impossibilidade de pagar as dívidas, e por aí vai. “O ideal é adequar seu padrão de vida à sua capacidade financeira. O que não pode é ficar vivendo em função do dinheiro.”
A mesma regra é válida no sentido oposto. O dinheiro é uma ferramenta para uso e não para autodeterminação. “O problema é quando o dinheiro sai da posição de utilidade e vira ferramenta de medição de sucesso financeiro”, sinaliza André Massaro. Principalmente por que é difícil encontrar alguma necessidade que um bilionário possa pagar e um milionário não. “A diferença de qualidade de vida é muito pequena e o incômodo é sempre ascendente.”
Adequar o estilo de vida ao salário evita que os problemas de ordem prática surjam. No entanto, não significa que você não deva buscar melhores rendimentos.
Quanto dinheiro você precisa para ser feliz vai depender dos seus valores. “É importante descobrir qual o significado do dinheiro e quais sentimentos estão relacionados a ele”, comenta a psicóloga Beatriz Bernardi. “Cada pessoa vai identificar de uma forma diferente.”
Daí para frente, Massaro sugere uma profunda reflexão para chegar a uma resposta mais palpável. É um exercício mental que dá muito trabalho, mas é compensador. Pergunte-se o que você realmente quer.
“Quando paramos para pensar nisso percebemos que há um monte de coisas que queremos porque os outros enfiaram na nossa cabeça que deveríamos querer”, explica o educador financeiro. “Se tudo for muito importante, é provável que você esteja se deixando levar.”
A partir daí, o planejamento é simples: faça as contas. Inclua quanto dinheiro você gastaria com lazer, com conforto e tudo mais que for realmente importante – não só a primeira necessidade. Persiga esse valor – e não a política do quanto mais, melhor.
Lembre-se de revisitar seus planos sempre. “A gente tem de encarar planejamento financeiro como exames médicos. Não é agradável, mas é necessário”, diz Massaro. “Quando entra no automático, a gente nem sente mais a chatice.”